“Natal à Beira-Rio”
É o braço do abeto a bater
na vidraça?
E o ponteiro pequeno a
caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o
Natal que passa,
A trazer-me da água a
infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se
perto o rio.
Tão novos os meus Pais,
tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo
de um navio
Que ficava, no cais, à
noite iluminado...
É noite de Natal, que
travo a maresia!
Depois fui não sei quem
que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a
terra me envolvia
E quanto mais na terra
fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora
conduzir-me
à beira desse cais onde
Jesus nascia...
Serei dos que afinal,
errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar,
ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira -
Portugal
in “Obra Poética”
(Editora Assírio & Alvim)
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David Mourão-Ferreira - (Lisboa, 24 de fevereiro de 1927 - Lisboa, 16 de junho
de 1996), poeta, ficcionista, ensaísta e crítico literário, traduzido em mais
de dez línguas –, foi um dos grandes escritores do século XX português. Atravessam
a sua obra o Amor, a História e o Mundo, o Tempo e a Morte. E o eco de uma vida
de leitura, escrita e ensino (foi professor da Faculdade de Letras de Lisboa
durante mais de três décadas e divulgou a poesia na rádio e na televisão). Com
o gosto do passado feito presente e a paixão do presente a fazer-se futuro.
Entre um Ofício de Escreviver e A Arte de Amar. Tem
uma Cátedra David Mourão-Ferreira do Camões, I.P. no Centro de Estudos
Lusitânia de Bari (Itália). In “Wook”
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