“Desafiante” é a forma como Elisabela Larrea descreve os
três primeiros anos de existência da Associação de Estudos da Cultura Macaense.
Em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, a presidente da MACRA explicou que
estes anos serviram para estabelecer uma “estrutura-base”, que permitirá, no
futuro, concretizar projectos idealizados na concepção da associação. Com uma
abordagem menos ortodoxa para uma entidade de cariz investigativo, a associação
tem aproveitado a criatividade da sua equipa, bem como a colaboração com outras
associações locais, para se estabelecer na cena cultural de Macau
Os três primeiros anos da Associação
de Estudos da Cultura Macaense (MACRA) constituíram “um desafio”, reconheceu
Elisabela Larrea, em declarações a este jornal. “Tivemos de construir a
associação do zero. E para a maioria de nós, incluindo eu, não tínhamos
experiência em constituir uma associação. A burocracia, desenvolver um website,
tentar estabelecer uma identidade e um estilo para a associação. Essa primeira
parte foi desafiante”. “Olho para isto como ‘desbravar terreno’ [para o
cultivo]”, brincou a presidente da associação.
Ainda assim, Elisabela Larrea considera que a “MACRA é
sortuda”. “Temos uma equipa muito forte, com pessoas muito dedicadas e que têm
interesse em trabalhar com criatividade e ajudar o trabalho promocional da
cultura macaense. Temos bastante talento e pessoas que gostariam de criar novas
formas de fazer coisas”, sublinha.
“Nos próximos três anos, poderemos ter mais projectos e
abordagens concretas para o que planeámos, tal como o arquivo de história”,
antevê. “Queríamos fazê-lo, mas precisávamos de estabelecer a nossa
estrutura-base primeiro”, disse, antes de apontar a falta de subsídios como
outra grande dificuldade do grupo.
Até agora, a associação tem investido recursos,
sobretudo, na criação de conteúdos para as redes sociais, nomeadamente Facebook
e YouTube.
“Produzimos podcasts, onde até usamos diferentes idiomas.
Depende tudo das nossas preferências ou dos nossos convidados. Não temos
nenhuma abordagem de ‘língua oficial’. É mais multicultural e multilinguística,
tal como a comunidade macaense. Por vezes falamos cantonês, outras vezes em
português e outras em inglês. Depende do tópico e das pessoas que queremos
alcançar”, esclareceu Elisabela Larrea.
Para a presidente da MACRA, “este tipo de exploração é um
meio, não só para a nossa introspecção sobre a cultura macaense, como também
para aqueles que não percebem realmente a identidade macaense ou como esta
vive”. “Sim, temos o nosso património cultural intangível, que é realmente uma
plataforma muito boa e uma forma das pessoas conhecerem a cultura macaense.
Contudo, por vezes, precisamos de um toque mais pessoal e partilha de
experiências para as pessoas de fora compreenderem”, contrapôs a investigadora.
O nome do primeiro episódio, “Minchi, com ou sem ovo?”, é
demonstrativo do estilo da associação, explicou Elisabela Larrea. “É uma forma
amigável de comunicar com as pessoas, para que elas aprendam através da
partilha do nosso quotidiano”. “Quando falamos sobre minchi, não estamos
literalmente a falar sobre gastronomia. Estamos também a falar sobre as nossas
diferenças, o nosso passado, a maneira como nos identificamos”.
“Não é bem uma abordagem académica. A investigação pode
ser feita de diferentes perspectivas e em diferentes níveis”. “Gostamos de
partilhar e de nos divertir com a nossa cultura. Abordámos temas como o teatro
patuá, realizámos entrevistas com o Miguel [de Senna Fernandes] e o Sérgio
[Perez]. Tivemos outra com o Armando Ritchie, sobre desporto, e [um episódio]
sobre o Arraial de São João”, descreveu.
Os conteúdos criados pela associação também incluem
vídeos curtos informativos, de um ou dois minutos. Os assuntos abrangem trajes
tradicionais, a batê-saia, ou a receita de “ló-pa-kou”, entre outros, num
formato mais apelativo para os mais jovens, enquanto os ‘podcasts’,
reminiscentes dos “velhos tempos”, atraem diferentes gerações, anotou a
presidente.
Outras iniciativas e sinergias culturais
Além dos conteúdos digitais, Larrea elencou ainda os workshops,
seminários, bem como as visitas a escolas, à Universidade Politécnica de Macau
e à Universidade de Macau, entre outras iniciativas. “Também colaborámos com
diferentes associações”, realçou, destacando os trabalhos conjuntos com a
Associação dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau e outras
associações locais chinesas. “Esta é, no fundo, a estrutura básica que
construímos nestes três anos”, sintetizou.
Para a investigadora, estas colaborações foram “muito
boas”. “Como uma associação nova, temos muito que aprender. E temos sorte,
assim como a comunidade macaense, de termos associações bem estabelecidas, que
têm trabalhado durante muitos anos e com experiência. Ajudaram-nos, guiaram-nos
e incluíram-nos nos seus workshops”. “É também uma forma muito boa de
demonstrar que as associações podem cooperar com um objectivo comum”,
ressalvou.
No futuro, Elisabela Larrea espera ver mais pessoas a
juntarem-se ao grupo de 11 indivíduos que constituem actualmente a MACRA. Nesse
sentido, a associação pretende também lançar um programa de adesão de membros,
ainda este mês. Para o próximo ano, a MACRA tenciona organizar mais workshops,
encontros com membros e recolher opiniões para aferir o que pode melhorar,
referiu.
Larrea quer também encontrar outras
formas de apoio e suporte para a organização, e não apenas em termos
financeiros. “Pelo menos temos três anos de experiência e uma espécie de
currículo de que as coisas correram bem”, justificou em jeito de conclusão. Pedro
Milheirão – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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