Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Macau - Associação de Estudos da Cultura Macaense celebra três anos de “desafios”

“Desafiante” é a forma como Elisabela Larrea descreve os três primeiros anos de existência da Associação de Estudos da Cultura Macaense. Em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, a presidente da MACRA explicou que estes anos serviram para estabelecer uma “estrutura-base”, que permitirá, no futuro, concretizar projectos idealizados na concepção da associação. Com uma abordagem menos ortodoxa para uma entidade de cariz investigativo, a associação tem aproveitado a criatividade da sua equipa, bem como a colaboração com outras associações locais, para se estabelecer na cena cultural de Macau

Os três primeiros anos da Associação de Estudos da Cultura Macaense (MACRA) constituíram “um desafio”, reconheceu Elisabela Larrea, em declarações a este jornal. “Tivemos de construir a associação do zero. E para a maioria de nós, incluindo eu, não tínhamos experiência em constituir uma associação. A burocracia, desenvolver um website, tentar estabelecer uma identidade e um estilo para a associação. Essa primeira parte foi desafiante”. “Olho para isto como ‘desbravar terreno’ [para o cultivo]”, brincou a presidente da associação.

Ainda assim, Elisabela Larrea considera que a “MACRA é sortuda”. “Temos uma equipa muito forte, com pessoas muito dedicadas e que têm interesse em trabalhar com criatividade e ajudar o trabalho promocional da cultura macaense. Temos bastante talento e pessoas que gostariam de criar novas formas de fazer coisas”, sublinha.

“Nos próximos três anos, poderemos ter mais projectos e abordagens concretas para o que planeámos, tal como o arquivo de história”, antevê. “Queríamos fazê-lo, mas precisávamos de estabelecer a nossa estrutura-base primeiro”, disse, antes de apontar a falta de subsídios como outra grande dificuldade do grupo.

Até agora, a associação tem investido recursos, sobretudo, na criação de conteúdos para as redes sociais, nomeadamente Facebook e YouTube.

“Produzimos podcasts, onde até usamos diferentes idiomas. Depende tudo das nossas preferências ou dos nossos convidados. Não temos nenhuma abordagem de ‘língua oficial’. É mais multicultural e multilinguística, tal como a comunidade macaense. Por vezes falamos cantonês, outras vezes em português e outras em inglês. Depende do tópico e das pessoas que queremos alcançar”, esclareceu Elisabela Larrea.

Para a presidente da MACRA, “este tipo de exploração é um meio, não só para a nossa introspecção sobre a cultura macaense, como também para aqueles que não percebem realmente a identidade macaense ou como esta vive”. “Sim, temos o nosso património cultural intangível, que é realmente uma plataforma muito boa e uma forma das pessoas conhecerem a cultura macaense. Contudo, por vezes, precisamos de um toque mais pessoal e partilha de experiências para as pessoas de fora compreenderem”, contrapôs a investigadora.

O nome do primeiro episódio, “Minchi, com ou sem ovo?”, é demonstrativo do estilo da associação, explicou Elisabela Larrea. “É uma forma amigável de comunicar com as pessoas, para que elas aprendam através da partilha do nosso quotidiano”. “Quando falamos sobre minchi, não estamos literalmente a falar sobre gastronomia. Estamos também a falar sobre as nossas diferenças, o nosso passado, a maneira como nos identificamos”.

“Não é bem uma abordagem académica. A investigação pode ser feita de diferentes perspectivas e em diferentes níveis”. “Gostamos de partilhar e de nos divertir com a nossa cultura. Abordámos temas como o teatro patuá, realizámos entrevistas com o Miguel [de Senna Fernandes] e o Sérgio [Perez]. Tivemos outra com o Armando Ritchie, sobre desporto, e [um episódio] sobre o Arraial de São João”, descreveu.

Os conteúdos criados pela associação também incluem vídeos curtos informativos, de um ou dois minutos. Os assuntos abrangem trajes tradicionais, a batê-saia, ou a receita de “ló-pa-kou”, entre outros, num formato mais apelativo para os mais jovens, enquanto os ‘podcasts’, reminiscentes dos “velhos tempos”, atraem diferentes gerações, anotou a presidente.

Outras iniciativas e sinergias culturais

Além dos conteúdos digitais, Larrea elencou ainda os workshops, seminários, bem como as visitas a escolas, à Universidade Politécnica de Macau e à Universidade de Macau, entre outras iniciativas. “Também colaborámos com diferentes associações”, realçou, destacando os trabalhos conjuntos com a Associação dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau e outras associações locais chinesas. “Esta é, no fundo, a estrutura básica que construímos nestes três anos”, sintetizou.

Para a investigadora, estas colaborações foram “muito boas”. “Como uma associação nova, temos muito que aprender. E temos sorte, assim como a comunidade macaense, de termos associações bem estabelecidas, que têm trabalhado durante muitos anos e com experiência. Ajudaram-nos, guiaram-nos e incluíram-nos nos seus workshops”. “É também uma forma muito boa de demonstrar que as associações podem cooperar com um objectivo comum”, ressalvou.

No futuro, Elisabela Larrea espera ver mais pessoas a juntarem-se ao grupo de 11 indivíduos que constituem actualmente a MACRA. Nesse sentido, a associação pretende também lançar um programa de adesão de membros, ainda este mês. Para o próximo ano, a MACRA tenciona organizar mais workshops, encontros com membros e recolher opiniões para aferir o que pode melhorar, referiu.

Larrea quer também encontrar outras formas de apoio e suporte para a organização, e não apenas em termos financeiros. “Pelo menos temos três anos de experiência e uma espécie de currículo de que as coisas correram bem”, justificou em jeito de conclusão. Pedro Milheirão – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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