Vai ter lugar no dia 26 de novembro,
às 17 horas, a apresentação do livro Mares de Águas Secas, da autoria do
escritor e poeta cabo-verdiano N'gosi Nelly, no auditório da UCCLA.
A obra tem a chancela da Mangue Editora e será
apresentada pelo escritor e poeta moçambicano Sérgio Raimundo.
Sinopse:
Mares de Águas Secas afirma-se como uma obra de fôlego poético e político, em
que a palavra não é mero ornamento, mas arma de resistência. O autor ergue a
sua voz contra as marés da intolerância e da exclusão, convocando o leitor a
olhar de frente para os rostos invisibilizados da modernidade - os esquecidos
pela geopolítica, os marginalizados das cidades globais, os que sobrevivem nas
franjas do sistema. A escrita, marcada por uma visceralidade cortante, recusa a
complacência: cada poema é denúncia, mas também apelo à ação, lembrando que a
literatura pode e deve ser gesto transformador. O autor confronta as
contradições do discurso global, onde a solidariedade se proclama em púlpitos
oficiais, mas se nega no quotidiano das fronteiras e das crises silenciadas.
Um dos grandes méritos desta obra reside na ousadia
estética do autor, que constrói uma verdadeira “sinfonia poética” ao misturar
idiomas de diferentes latitudes: inglês, lingala, português, zulu, espanhol,
mandarim, francês, árabe, japonês, cabo-verdiano, e até mesmo o tupi, língua
indígena em risco de extinção.
Esta opção rompe radicalmente com a tradição da poesia
“unilinguística” e afirma um gesto literário de resistência, celebrando a
pluralidade linguística como metáfora da diversidade humana. Essa fase de
experimentação é fruto de dez anos de maturação literária, revelando um
escritor jovem, mas consciente do alcance do seu ofício. Há, porém, um
equilíbrio raro: a dureza da denúncia não anula a pulsação da esperança. Entre
versos que expõem as feridas abertas do preconceito e da xenofobia, emerge a
crença numa humanidade ainda possível, feita de pontes em vez de muros, de
pluralidade em vez de exclusão.
Mais do que um livro de poemas, Mares
de Águas Secas é um manifesto literário que inscreve o autor no horizonte
das vozes que compreendem a poesia como espaço de resistência e, sobretudo,
como território de reconciliação humana.
Biografia do autor:
Adolfo Lopes Varela (N’Gosi Nelly) - escritor, poeta e investigador -
nasceu a 14 de abril de 1993, no Tarrafal de Santiago, Cabo Verde, onde
realizou os seus estudos primários e secundários. Prosseguiu a sua formação em
Lisboa, licenciando-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais e
obtendo ainda um curso de Especialização Tecnológica em Gestão Administrativa
de Recursos Humanos, ambos pela Universidade Lusófona. Mais tarde,
especializou-se em Direitos Humanos, com enfoque na igualdade e equidade de
género, pela Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido. É Mestre
em Gestão Administrativa dos Recursos Humanos e do Conhecimento pela
Universidade Jean Piaget. A sua escrita é fortemente influenciada pela poetisa
cabo-verdiana Ineida Nelly e pela escritora e dramaturga nigeriana Chimamanda
Ngozi Adichie, fusão de referências que inspirou o nome literário N’Gosi Nelly.
Em
2014, estreou-se com a obra Rabés di Mundu, publicada no âmbito de um
concurso para jovens escritores promovido pela Corpos Editora, no Porto,
Portugal. Em 2022, integrou a antologia poética Canja pa nos Alma,
organizada por Destaney Andrade e reunindo mais de 27 poetas cabo-verdianos.
Nesse mesmo ano, participou na segunda fase do projeto de investigação sobre as
variedades linguísticas de Cabo Verde, com foco na ilha do Sal, trabalho que
dará origem ao segundo volume da coletânea Sanpabadiu, N’Gosi Nelly
distingue-se por uma poética inovadora, marcada pela fusão de diferentes
variedades do crioulo cabo-verdiano num só poema. Em 2023, publicou o seu
primeiro romance, No Colour Love (Kriolidades), uma reflexão
literária sobre as origens e a formação da língua cabo-verdiana, explorando
influências do português, espanhol, italiano, wolof, mandinga e fula. No ano
seguinte, lançou Dunas Sem Areia (2024), romance ambientado no contexto
da descolonização portuguesa, que narra a história de dois jovens apaixonados
enfrentando os dilemas e convulsões de uma sociedade em transformação.
Em
setembro de 2025, regressou à poesia com Mares de Águas Secas, a sua
obra mais recente, publicada após cinco anos de interregno. Este regresso
assinala uma fase de maturidade literária, onde a poesia crítica e social ganha
centralidade, enriquecida pela ousada mistura de múltiplos idiomas num só corpo
poético.
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