Não houve o milagre esperado por
tantos evangélicos, apesar de tantas orações, ainda diante dos quartéis - Jair
Bolsonaro está preso e não fará mais comícios monstros e nem motociatas. O
verde-amarelo trajado por seus seguidores entrou em recesso e só voltará a ser
usado nos mundiais de futebol, enquanto as bandeiras voltarão aos seus mastros,
depois de usadas indevidamente durante alguns anos.
Flopou a última manifestação convocada por Flávio com o
objetivo de permitir a fuga do pai Bolsonaro, pois Jair já tivera sua prisão
domiciliar anulada, depois de tentar abrir a tornozeleira com um maçarico.
Terminou quase em comédia a carreira política de quem prometia resistir e só
ser preso morto. Foi cômica sua explicação de ter forçado a tornozeleira sob
influência de barbitúricos, lembrando as antigas desculpas de bêbedos nas
delegacias.
Rei morto rei posto, equivale a presidente preso é carta
fora do baralho. Uma parte da mídia comenta o alvoroço da matilha de lobos para
pegar um pedaço da força eleitoral do "imorrível" e não deixá-la só
com a família, também dividida entre madrasta e filhos de Bolsonaro.
Bolsonaro, embora inelegível, acreditava num milagre pelo
qual ainda poderia se candidatar e voltar a ser presidente, tomando Trump como
exemplo. Por isso, não nomeou seu sucessor, nem filho, nem Michelle e nem
Tarcísio. Quem lhe teria soprado no ouvido a possibilidade de tal milagre, ao
qual se agarrou com tanta fé? Teria sido Silas Malafaia, o fiel divulgador da
teologia do domínio, importada dos Estados Unidos, onde até agora parece
funcionar com Trump, o escolhido de Deus?
Sem um sucessor escolhido antes de ser preso, o
bolsonarismo poderá se esfacelar, talvez permitindo à direita abandonar a
mistura político-religiosa construída pela extrema-direita, uma das hipóteses
de Reinaldo Azevedo que, durante anos, combateu Bolsonaro de sua trincheira no
Uol.
O fim do mito Bolsonaro permitiu aos influenciadores de
talento, como Álvaro Borba, unir críticas com inteligência. Borba começa seu
vídeo no canal
Arvro com o rosto de uma mulher chorando desesperada e
clamando que sua profecia (na verdade sua praga) contra Lula tinha caído sobre
Bolsonaro. Motivo para Arvro falar da deturpação da mensagem evangélica por
Bolsonaro e seus seguidores, se referindo à crente que começa a perder a fé em
Deus "está difícil de ser crente", mas ainda acredita no Jair.
No Uol, o comentarista Josias
de Souza, abordou o aspecto político, o que representa
para o Brasil a prisão do ex-presidente, cujo processo representa o ponto mais
próximo que o Brasil já chegou da sua plenitude democrática.
Também excelente a análise da carreira
do militar e do político Bolsonaro, no canal Youtube do jornalista Bob Fernandes, contando como o
ex-presidente defendia mesmo na tevê a tortura, a guerra civil, a morte de umas
30 mil pessoas começando pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sem que
nada lhe acontecesse. Bob Fernandes enumera todos os crimes defendidos por Bolsonaro
que, finalmente, serão punidos com a tentativa de golpe de Estado. Rui
Martins – Suíça
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Rui Martins é jornalista, escritor,
ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento
internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação
da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda
Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas
suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica
da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED,
l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et
Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito
na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil
e RFI.
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