Paris – O artista luso-cabo-verdiano Dino D’Santiago abriu, em Paris, um festival que celebra os 50 anos de independência dos países africanos de língua portuguesa saudando “uma nova Lisboa” que se renova no tempo, “feita de cruzamentos de povos”.
“Lisboa
nu bai Paris” - “Lisboa vai a Paris” em crioulo cabo-verdiano -, o festival
concebido por Dino D’Santiago em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian
para celebrar os 50 anos das independências, realizou-se este fim de semana em
Paris.
Em
declarações à Lusa à margem do concerto de sábado à noite, Dino D’Santiago
considerou ser importante falar da capital portuguesa porque, 50 anos depois
das independências, “nasceu uma nova Lisboa”, que “é uma filosofia que se
renova com o tempo”, e “mais um fragmento dessa história feita de cruzamentos
de povos”.
“É
um manifesto de convivência, um sonho de um lugar onde todos os corpos se
sintam em casa”, disse.
“Lisboa
nu bai Paris” define-se como um espaço de encontro entre artistas, músicos e
pensadores de diferentes origens. Na abertura, o festival propôs uma conversa
aberta ao público, gratuita, entre o artista Dino D’Santiago e a filósofa Luísa
Semedo, sobre o legado da independência dos países de África de língua
portuguesa.
Para
Luísa Semedo, o colonialismo continua a ser uma realidade nestes países, apesar
de já terem passado cinquenta anos desde a independência, sendo o maior desafio
“chegar a uma verdadeira independência”.
“Não
basta dizer agora somos independentes, é preciso viver essa independência,
apesar das dificuldades económicas”, afirmou.
A
filósofa apelou ainda às novas gerações de activistas para que “não traiam os
valores dos revolucionários de antigamente”, citando Amílcar Cabral, figura
emblemática da independência, e sublinhando que a luta revolucionária pela
independência não tem fim porque “os próprios revolucionários, como Amílcar
Cabral, sabiam que esta luta era um processo e, portanto, é uma luta que não
tem fim”.
Para
Dino D’Santiago, “os jovens estão muito à frente, misturam culturas, usam
t-shirts de Angola ou Cabo Verde com orgulho”. Para além de Lisboa, é “Portugal
que está a transformar-se, com miúdos a falar crioulo no metro, sejam brancos
ou negros”.
O
festival representa um movimento contemporâneo de afirmação da africanidade dos
afro-portugueses, segundo o artista, que considera que é mais fácil para estas
populações viverem em Portugal hoje do que há 20 anos.
“Se
fosse adolescente actualmente, “seria mais fácil”, diz, apontando que vê pelas
sobrinhas “uma aceitação natural, um orgulho em usar o cabelo afro, em falar
crioulo, em vestir padrões africanos”.
Esta
evolução, considera, acabou por ter também um impacto nas gerações que
conheceram a luta pela independência: “Mesmo os nossos pais estão a mudar:
falam crioulo, ensinam aos netos”.
Em
50 anos, estas mudanças são também visíveis nos gostos musicais dos
portugueses, que colocam nos topos dos rankings artistas de África de língua
portuguesa. No entanto, a extrema-direita avança em Portugal, mas isso não
assusta Dino D’Santiago, que afirma que “a extrema-direita parece maior por
causa das redes sociais, mas o povo é mais forte e quer ser feliz”.
“A
música africana sempre trouxe felicidade”, afirmou.
O
festival “Lisboa nu bai Paris” foi aberto pela artista cabo-verdiana Kady, neta
da voz da rádio Libertação, Amélia Araújo, sentiu-se diretamente tocada pela
independência tocou-a diretamente porque a sua “avó foi combatente da luta de
libertação: “Sinto que estar aqui é como se eu estivesse a dar continuidade a
esse legado, a honrá-la, e a todos os combatentes”, disse à Lusa.
A
programação do festival conta também com artistas dessa nova geração lusófona
como Fattú Djakité, Nídia, DJ Marfox, EU.CLIDES, Umafricana e Soluna, entre
outros. In “Inforpress” – Cabo Verde com “Lusa”
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