A China afirmou que Pequim e Madrid partilham posições semelhantes em vários assuntos internacionais e reafirmaram o compromisso com o multilateralismo e o papel das Nações Unidas
Durante uma conferência de imprensa em
Pequim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian,
declarou que o Presidente da China, Xi Jinping, e o rei Felipe VI, de Espanha,
coincidiram na defesa da resolução de conflitos “através do diálogo e da
consulta” e no apoio à ONU como “núcleo do sistema internacional”, durante um
encontro em Pequim.
“As duas partes sempre se pautaram pelo respeito mútuo e
pela igualdade, promovendo conjuntamente o desenvolvimento contínuo da sua
parceria estratégica integral, que trará mais benefícios aos povos de ambos os
países e contribuirá para a paz e estabilidade mundiais”, afirmou Lin.
Segundo o porta-voz, os líderes comprometeram-se a
aprofundar a cooperação prática e os intercâmbios entre os povos, “construindo
uma parceria com maior determinação estratégica, desenvolvimento mais dinâmico
e maior influência internacional”. Lin Jian destacou ainda a “forte dinâmica
interna” das relações bilaterais, visível na intensificação dos laços políticos
e quase quadruplicação do comércio bilateral ao longo das últimas duas décadas.
No último dia da visita de Estado, Felipe VI visitou uma
fábrica do grupo espanhol Gestamp, fabricante de componentes automóveis,
situada nos arredores de Pequim. Ao final do dia, os reis participaram numa
receção com a comunidade espanhola residente no país.
Na quarta-feira, Felipe VI reuniu-se com Xi Jinping no
Grande Palácio do Povo, numa cerimónia marcada por fortes componentes
protocolares e a assinatura de dez acordos bilaterais nas áreas económica,
científica e cultural. O monarca espanhol encontrou-se ainda com o
primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e com o presidente da Assembleia Nacional
Popular, Zhao Leji. “Desde a primeira visita oficial ao país do então rei Juan
Carlos I, em 1978, foi-se construindo uma relação sólida e de confiança mútua,
baseada nos princípios de respeito e prosperidade partilhada”, afirmou Felipe
VI durante o encontro com o Presidente chinês.
Felipe VI defende diálogo com China sem abdicar da
democracia e dos direitos humanos
O rei Felipe VI encerrou a visita de Estado à China
reiterando a importância de manter um “diálogo frutuoso” com Pequim, sem
abdicar da defesa dos direitos humanos e da democracia.
Num encontro com a comunidade espanhola em Pequim, no
último dia da visita de três dias, o monarca sublinhou que “a Espanha
continuará a defender os seus valores – democracia, Direito Internacional,
direitos humanos e cooperação multilateral – com confiança em quem é como
nação: moderna, solidária, criativa, aberta e comprometida com os grandes
desafios do nosso tempo”.
Foi a primeira vez, durante a visita, que Felipe VI
abordou publicamente o tema dos direitos humanos, uma das questões mais
sensíveis nas relações com a China.
Segundo o Governo espanhol, o assunto é regularmente
tratado nos contactos diplomáticos bilaterais e no quadro do diálogo específico
entre a União Europeia e a China sobre esta matéria. “A China é hoje um
actor-chave na cena internacional, com enormes desafios e transformações em
curso”, afirmou o monarca, destacando que Madrid mantém com Pequim “um diálogo
europeu e próprio”, assente no respeito e benefício mútuo.
O rei manifestou satisfação com o resultado da visita,
iniciada na terça-feira na cidade de Chengdu, e considerou que a deslocação
simbolizou “a renovação de uma vontade partilhada de construir uma relação
pragmática e ambiciosa”.
Felipe VI destacou ainda o papel dos mais de 5200
espanhóis a viver na China como “ponte viva” entre os dois países. “A Espanha
valoriza-vos e sente orgulho em vós”, disse, enaltecendo o contributo da
comunidade para o reforço dos laços bilaterais nos domínios empresarial,
científico, educativo, cultural e institucional. “Representam uma Espanha que
sabe adaptar-se sem perder a sua identidade, colaborar sem renunciar aos seus
valores, estender a mão sem deixar de erguer a voz quando necessário”,
sublinhou.
Antes do encontro com a comunidade, o monarca participou
num pequeno-almoço com o Conselho Empresarial Espanha-China, promovido pela
Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE) e pelo Ministério da
Economia espanhol, em colaboração com o Ministério do Comércio chinês e a
associação CHINCA.
No evento, Felipe VI defendeu “previsibilidade” e
segurança jurídica para as empresas espanholas, e apelou à criação de um
ambiente de confiança. “A concorrência leal, o respeito pelos direitos de
propriedade intelectual e industrial, e a reciprocidade no acesso aos mercados
são condições essenciais para garantir uma competição justa”, afirmou.
Acrescentou ainda que os benefícios do comércio “devem alcançar toda a
população”, defendendo a inserção das empresas nas cadeias locais de valor, a
criação de empregos qualificados e uma efetiva transferência de conhecimento.
Rainha Letizia homenageia em Pequim professores de
espanhol na China
A obra “Cem Anos de Solidão” e a cantora Rosalía estão
entre os principais motivos que levam milhares de jovens chineses a estudar
espanhol, disse ontem a Universidade Beiwai, em Pequim, durante a visita da
rainha de Espanha. Segundo dados da universidade, cerca de 60.000 alunos estudam
espanhol em toda a China, incluindo 400 na Beiwai (Universidade de Estudos
Estrangeiros de Pequim), o principal centro de ensino da língua espanhola no
país. A rainha Letizia participou num evento de homenagem à língua espanhola e
aos professores que impulsionaram o seu ensino na China, incluindo docentes
espanhóis que, em contextos diversos contribuíram para o desenvolvimento do
ensino do castelhano em instituições como a Beiwai desde os anos 1950.
Acompanhada pelo reitor da universidade, Jia Wenjian, e pelo diretor da
Faculdade de Estudos Hispânicos, Chang Fuliang, a rainha ouviu testemunhos de
estudantes e professores sobre o crescente interesse pela língua e cultura
hispânicas.
“Saber espanhol está na moda na
China”, disse Chang Fuliang, citado pela agência EFE, sublinhando que o
interesse ganhou força sobretudo a partir da entrada da China na Organização
Mundial do Comércio, em 2001. Actualmente, mais de 13.500 estudantes chineses estão matriculados
em cursos superiores de espanhol em Espanha. À entrada do campus, uma faixa com
a mensagem “Calorosa boas-vindas a Sua Majestade a Rainha de Espanha, Dona
Letizia Ortiz Rocasolano” rececionou a monarca, que foi aplaudida por centenas
de estudantes empunhando bandeiras espanholas e chinesas e registando o momento
com os telemóveis. Durante a cerimónia, foi inaugurada uma placa comemorativa
da embaixada de Espanha e da universidade, dedicada à memória dos professores
espanhóis pioneiros que lecionaram espanhol na China a partir da década de
1950. A primeira turma de licenciados em espanhol formou-se em 1973 e,
atualmente, existem cerca de 3000 professores da língua no país, a maioria
chineses. Uma reforma curricular de 2018 permitiu a inclusão do espanhol,
francês e alemão como línguas estrangeiras no ensino secundário chinês. Cerca
de 200 escolas de ensino básico e secundário oferecem aulas de espanhol, cinco
das quais com secções bilingues. De acordo com dados recentes, 106
universidades chinesas possuem departamentos de espanhol, formando anualmente
cerca de 5000 licenciados. Outros 60.000 estudantes frequentam cursos em instituições de ensino
não superior, escolas privadas ou cursos extracurriculares. In “Ponto
Final” - Macau
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