Os
reformados franceses que nos últimos anos têm chegado a Portugal atraídos pela
qualidade de vida e vantagens fiscais juntam-se em convívio com outras
Comunidades a jogar petanca, duas vezes por semana, em Olhão, no Algarve.
“Estamos
no fim da nossa vida, na reforma, e divertimo-nos a jogar petanca”, contou à
Lusa o reformado francês Francis Warnier, de 69 anos, no campo junto à Marina
de Olhão, no distrito de Faro, onde costuma juntar-se com outros praticantes
daquele jogo de origem francesa.
Portugal
tem-se transformado num paraíso para milhares de reformados franceses, e não
só, nos últimos anos, principalmente atraídos pela vantagem fiscal de terem
segunda residência no país, e muitos têm escolhido a cidade de Olhão, à beira
da Ria Formosa, para viver.
“Todas
as pessoas que conheço aqui, encontrei-as aqui. Não conhecia ninguém quando
cheguei”, afirma o reformado, que vai duas vezes por ano a França “para ver os
filhos e os netos”. Há oito anos no Algarve, diz adorar morar na região, devido
ao “calor, bem-estar e segurança”.
Francis
Warnier, que trabalhou “no duro durante toda a vida”, sofria de dores que em
Portugal desapareceram, razão pela qual também foi ficando: “É um bem-estar, e
é por isso que ficamos”, disse. “Jogo petanca porque durante toda a minha vida
não pude jogar e sempre o quis fazer. É um desporto para as pessoas reformadas,
é calmo, é convivial e é agradável”, afirmou.
O
regime fiscal de Residente Não Habitual criado em 2009 e revisto em 2012 com o
objetivo de atrair para Portugal pessoas de rendimentos elevados e
profissionais de alto valor acrescentado oferece isenção de IRS aos reformados
durante 10 anos.
Um
outro francês, Dominique Touletano, de 65 anos, explica que o encontro em
Olhão, junto à marina e com a vista para a Ria Formosa, tem lugar duas vezes
por semana, desde há dois anos: “Não há inscrição, não se paga nada, apenas o
bom humor e o prazer de partilhar”.
O
reformado mostrou-se satisfeito pelo encontro “informal, entre conhecidos”, que
ainda não são amigos, mas que podem “vir a ser amigos próximos”, sendo que ali
se juntam pessoas de várias localidades do sotavento (leste) algarvio para
jogar.
Dominique
Touletano sublinha que se trata de um encontro entre “muitos reformados que
gostam de viver em Portugal”, mas também com a participação de, entre outras
comunidades, pessoas locais, que são pescadores, artesãos e exercem todo o tipo
de atividades, relata. “Isto reforça as ligações entre as comunidades. Não
jogamos apenas aqui, também na Fuseta, em Almancil, e cada vez com mais
mistura, homens e mulheres de todas as nacionalidades […] de forma espontânea”,
o que é “extraordinário”, afirmou.
A
Comunidade francesa é a mais numerosa nestes encontros informais, a seguir vem
a portuguesa, mas também aparecem outras onde a petanca tem tradições
enraizadas, como a belga e a suíça.
O
regime francês de reformas e pensões é um dos mais favoráveis do mundo,
prevendo que a população possa beneficiar dele a partir dos 62 anos. O Governo
francês está atualmente a alterar a idade mínima da reforma de 62 para 64 anos,
uma medida que pretende implementar de forma faseada até 2030 e que está a ser
muito contestada pelos sindicatos.
“No
início, durante cinco ou seis anos só jogava com portugueses e depois começaram
a chegar os franceses e agora jogo com toda a gente”, afirma o francês Henri
Raposo, com 84 anos e que vive há nove no Algarve.
O
reformado, que lamenta nunca ter conhecido o pai, um português emigrado em
França, e aprendido a falar a sua língua, realça a beleza da Ria Formosa e a
simpatia dos portugueses, considerando o clima secundário: “Estamos muito bem
aqui”.
A
maioria dos franceses que escolheram o Algarve como sua residência afirmam que
adoram viver na região, entre outras razões, mas em primeiro lugar por causa do
clima ameno, e logo a seguir pela simpatia dos portugueses.
“A
Comunidade francesa foi-se começando a juntar aqui em Olhão e jogamos todos
juntos, numa amizade com um jogo que é típico deles e que trouxeram para
Portugal e para outros países”, constata Válter Anjos, de 43 anos, que também
participa no convívio duas vezes por semana.
O
olhanense adianta que cada vez mais a Comunidade francesa vem para Portugal e
que os seus membros adoram o sol e a praia: “Isto tem um clima bastante bom
para os Portugueses, quanto mais para os Franceses”, conclui.
A
petanca é um jogo de origem francesa criado no início do século XX, jogada em
todo o sul da Europa e trazida para Portugal na década de 1980 por Portugueses
emigrados em França.
O
jogo é uma atividade de grupo e consiste no lançamento de uma série de bolas
metálicas, com o objetivo de ficar o mais próximo possível de uma pequena bola
de madeira (‘cochonette’), lançada previamente por um jogador.
O
seu nome deriva da expressão ‘pieds tanqués’, que significa pés juntos. Fernando
Brito - Lusa in “LusoJornal”
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