A diretora dos Serviços de Turismo de Macau, Helena de Senna Fernandes, considerou que os governos central e regional têm feito por preservar “a singularidade” do local, herança mista de influências chinesas e portuguesas
“É
isto que nos distingue e não podemos perder”, afirmou, em entrevista à Lusa,
Helena de Senna Fernandes, admitindo que o carácter único de Macau é aquilo que
o distingue do resto da China.
E
explicou: Pequim deu três objectivos estratégicos a Macau, a aposta no turismo,
a ligação do território à lusofonia, mas também transformar a Região
Administrativa Especial numa “base de intercâmbio cultural”. “[É] importante
aproveitar os nossos laços portugueses, mas também os nossos laços chineses” e
“aproveitar desta boa relação entre as duas culturas” elementos que ajudem a
“utilizar Macau como um ponto de encontro” cultural.
Apesar
do fecho das fronteiras, motivado pela pandemia da covid-19 e o aumento dos
turistas chineses, continuam a existir projetos de preservação da herança
histórica do território, desde o dialecto local (‘patuá’) à cozinha macaense,
mas também há novos “espaços turísticos de inspiração portuguesa” a abrir. “Há
muitos chineses que têm muito interesse em Macau porque Macau tem esta mistura
de Portugal e China”, explicou Senna Fernandes, que está em Lisboa para uma
ação de promoção do território, à margem de uma visita do chefe do Executivo,
Ho Iat Seng.
Exemplo
disso são os sucessos dos pontos de venda de pastéis de nata, comida portuguesa
ou macaense, salientou a diretora do turismo.
Hoje
o território vive um equilíbrio, com uma “grande influência em termos de
cultura chinesa em Macau”, mas também continua “a ter muita afinidade com as
raízes portugueses e macaenses”.
Admitindo
que a presença chinesa no território é “muito grande e intensa”, Senna
Fernandes considerou que o futuro de Macau passa por “preservar a sua
identidade” na China global, algo que “é promovido pelo governo central”.
Promoção
de Macau em Lisboa visa regresso aos mercados internacionais
A
directora dos Serviços de Turismo afirmou ontem que as acções de promoção a
partir desta quarta-feira em Lisboa assinalam a tentativa de regresso do
território aos mercados internacionais, um objetivo estratégico do governo.
Helena
de Senna Fernandes admitiu que a pandemia da covid-19 alterou o modelo de
gestão do território, que se fechou ao exterior e há agora “um caminho a
recuperar” na promoção exterior. “Em termos a mercados internacionais, vamos
retomar o nosso trabalho, ficamos realmente fechados para o mercado
internacional durante algum tempo e tivemos que parar porque foi um passo para
proteger para a população” devido à pandemia.
“Temos que recomeçar o que não foi feito em três anos”, disse. Mas “o
passo para a frente não vai ser completamente fácil” porque há muita
concorrência turística, reconheceu Senna Fernandes.
Antes
da pandemia, o peso do mercado internacional valia entre 9% a 10% do turismo em
Macau, um cenário que mudou drasticamente, reconheceu, admitindo que hoje “são
muitos poucos os estrangeiros” no território. “Em Março, foram só 2000 pessoas
internacionais a entrar por dia”, explicou a directora, considerando que esta
preocupação com os turistas estrangeiros é transversal a todo o governo.
Exemplo
disso são algumas das medidas dos novos contratos de concessão de jogo para as
operadoras dos casinos, que passaram a estar obrigadas a investir nos mercados
e na promoção internacional, criando novos produtos e novos canais de captação
de turistas. “Daqui para a frente a eu julgo que vocês vão ver muito mais
trabalho junto dos mercados internacionais, o turismo internacional é diferente
do turismo interno, com um consumo mais diversificado”, afirmou.
A
acção de promoção de Macau em Lisboa aproveita a presença em Portugal do Chefe
do Executivo, Ho Iat Seng, para tentar “ter mais atenção” da opinião pública
portuguesa. “Estamos a aproveitar a visita do Chefe do Executivo para também
ter um foco maior em Macau”. Por outro lado, “todo mundo parece que hoje em dia
vem para Portugal” e uma ação em Lisboa é uma “promoção para o mundo”.
Além
disso, a Praça do Comércio é “um espaço multicultural” com milhares de
estrangeiros e os stands de Macau e o ‘videomapping’ no Terreiro do Paço terão
um “impacto muito grande junto de vários mercados”, além do português,
considerou Helena de Senna Fernandes. “Não vamos ter de Portugal grandes
números de visitantes, mas Portugal é importante para já, para trabalhar na
Europa e, por outro lado, eu acho que Portugal também é uma porta para os
mercados de língua portuguesa”, procurando promover Macau como “centro de
mundial de turismo e lazer”.
O
facto de Macau ser património mundial ou a classificação do território como
“cidade criativa de gastronomia da UNESCO” são elementos que acabam por atrair
novos mercados também na região. “Estamos a ver muitos turistas já asiáticos a
querer também provar a comida única de Macau”, explicou, acrescentando que o
território tem novos espaços de concertos, parques aquáticos e mais locais para
eventos.
Durante
a pandemia, a maior parte dos escritórios turísticos de Macau fechou, mas Senna
Fernandes admitiu que o cenário mudou. “Neste momento estamos a equacionar para
cada mercado o que fazer. O mundo mudou muito, se calhar não é tão importante
uma presença [mas sim] trabalhar diretamente com o consumidor”, usando as novas
tecnologias.
Nova
geração de turistas chineses que liga menos ao jogo
A
diretora dos Serviços de Turismo de Macau referiu também que o território tem
de se preparar para uma nova geração de turistas chineses que procura uma
oferta ligada a experiências, redes sociais e eventos. Helena de Senna
Fernandes afirmou que estão identificados dois perfis de turistas chineses no
território, com hábitos de consumo muito diferenciados, uns mais tradicionais
que olham para Macau como um espaço de jogo, e a geração mais nova com um olhar
mais contemporâneo.
“Neste
momento temos dois grupos, os que chegam em grupo de excursão, e aqueles que
vêm individualmente, os ‘independent visitors’”, afirmou. A maior parte
dos que chegam em excursões tem mais de 55 anos e os que viajam de modo
individual têm menos de 35 anos.
Este
grupo mais novo “gosta muito de ir para além dos casinos e, se calhar, nem
visita os casinos ou vai apenas por curiosidade”, preferindo aproveitar Macau
como um espaço turístico mais completo.
Exemplo
disso são as filas junto a pontos tradicionais de turismo de Macau que nada têm
a ver com o jogo, explicou Senna Fernandes, salientando que a visibilidade nas
redes sociais é um fator decisivo para o sucesso de alguns produtos. “Há muitas
lojas pequenas que, porque têm presença nas redes sociais, têm muita gente que
vai lá”, exemplificou.
No
entender da directora do turismo, “o jogo vai continuar a ser importante”, mas
o governo está a “investir muito mais” em produtos complementares e “é
obrigação também dos concessionários que invistam muito mais em não-jogo”,
eventos, exposições, convenções, espetáculos culturais, gastronomia ou
atividades balneares
No
quadro das concessões de jogo recentemente atribuídas cada um dos operadores já
prometeu ao Governo que vai investir na promoção do turismo fora do jogo. “A
proporção de investimento é quase, salvo erro, de nove vezes para um. Quer
dizer, eles vão investir nove vezes mais no não jogo comparando com o seu
investimento na área do jogo”, explicou. In “Ponto
Final” – Macau com “Lusa”
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