Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Macau - Preservação da herança portuguesa na Região é estratégica para a China, diz Helena de Senna Fernandes

A diretora dos Serviços de Turismo de Macau, Helena de Senna Fernandes, considerou que os governos central e regional têm feito por preservar “a singularidade” do local, herança mista de influências chinesas e portuguesas


“É isto que nos distingue e não podemos perder”, afirmou, em entrevista à Lusa, Helena de Senna Fernandes, admitindo que o carácter único de Macau é aquilo que o distingue do resto da China.

E explicou: Pequim deu três objectivos estratégicos a Macau, a aposta no turismo, a ligação do território à lusofonia, mas também transformar a Região Administrativa Especial numa “base de intercâmbio cultural”. “[É] importante aproveitar os nossos laços portugueses, mas também os nossos laços chineses” e “aproveitar desta boa relação entre as duas culturas” elementos que ajudem a “utilizar Macau como um ponto de encontro” cultural.

Apesar do fecho das fronteiras, motivado pela pandemia da covid-19 e o aumento dos turistas chineses, continuam a existir projetos de preservação da herança histórica do território, desde o dialecto local (‘patuá’) à cozinha macaense, mas também há novos “espaços turísticos de inspiração portuguesa” a abrir. “Há muitos chineses que têm muito interesse em Macau porque Macau tem esta mistura de Portugal e China”, explicou Senna Fernandes, que está em Lisboa para uma ação de promoção do território, à margem de uma visita do chefe do Executivo, Ho Iat Seng.

Exemplo disso são os sucessos dos pontos de venda de pastéis de nata, comida portuguesa ou macaense, salientou a diretora do turismo.

Hoje o território vive um equilíbrio, com uma “grande influência em termos de cultura chinesa em Macau”, mas também continua “a ter muita afinidade com as raízes portugueses e macaenses”.

Admitindo que a presença chinesa no território é “muito grande e intensa”, Senna Fernandes considerou que o futuro de Macau passa por “preservar a sua identidade” na China global, algo que “é promovido pelo governo central”.

Promoção de Macau em Lisboa visa regresso aos mercados internacionais

A directora dos Serviços de Turismo afirmou ontem que as acções de promoção a partir desta quarta-feira em Lisboa assinalam a tentativa de regresso do território aos mercados internacionais, um objetivo estratégico do governo.

Helena de Senna Fernandes admitiu que a pandemia da covid-19 alterou o modelo de gestão do território, que se fechou ao exterior e há agora “um caminho a recuperar” na promoção exterior. “Em termos a mercados internacionais, vamos retomar o nosso trabalho, ficamos realmente fechados para o mercado internacional durante algum tempo e tivemos que parar porque foi um passo para proteger para a população” devido à pandemia.  “Temos que recomeçar o que não foi feito em três anos”, disse. Mas “o passo para a frente não vai ser completamente fácil” porque há muita concorrência turística, reconheceu Senna Fernandes.

Antes da pandemia, o peso do mercado internacional valia entre 9% a 10% do turismo em Macau, um cenário que mudou drasticamente, reconheceu, admitindo que hoje “são muitos poucos os estrangeiros” no território. “Em Março, foram só 2000 pessoas internacionais a entrar por dia”, explicou a directora, considerando que esta preocupação com os turistas estrangeiros é transversal a todo o governo.

Exemplo disso são algumas das medidas dos novos contratos de concessão de jogo para as operadoras dos casinos, que passaram a estar obrigadas a investir nos mercados e na promoção internacional, criando novos produtos e novos canais de captação de turistas. “Daqui para a frente a eu julgo que vocês vão ver muito mais trabalho junto dos mercados internacionais, o turismo internacional é diferente do turismo interno, com um consumo mais diversificado”, afirmou.

A acção de promoção de Macau em Lisboa aproveita a presença em Portugal do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, para tentar “ter mais atenção” da opinião pública portuguesa. “Estamos a aproveitar a visita do Chefe do Executivo para também ter um foco maior em Macau”. Por outro lado, “todo mundo parece que hoje em dia vem para Portugal” e uma ação em Lisboa é uma “promoção para o mundo”.

Além disso, a Praça do Comércio é “um espaço multicultural” com milhares de estrangeiros e os stands de Macau e o ‘videomapping’ no Terreiro do Paço terão um “impacto muito grande junto de vários mercados”, além do português, considerou Helena de Senna Fernandes. “Não vamos ter de Portugal grandes números de visitantes, mas Portugal é importante para já, para trabalhar na Europa e, por outro lado, eu acho que Portugal também é uma porta para os mercados de língua portuguesa”, procurando promover Macau como “centro de mundial de turismo e lazer”.

O facto de Macau ser património mundial ou a classificação do território como “cidade criativa de gastronomia da UNESCO” são elementos que acabam por atrair novos mercados também na região. “Estamos a ver muitos turistas já asiáticos a querer também provar a comida única de Macau”, explicou, acrescentando que o território tem novos espaços de concertos, parques aquáticos e mais locais para eventos.

Durante a pandemia, a maior parte dos escritórios turísticos de Macau fechou, mas Senna Fernandes admitiu que o cenário mudou. “Neste momento estamos a equacionar para cada mercado o que fazer. O mundo mudou muito, se calhar não é tão importante uma presença [mas sim] trabalhar diretamente com o consumidor”, usando as novas tecnologias.

Nova geração de turistas chineses que liga menos ao jogo

A diretora dos Serviços de Turismo de Macau referiu também que o território tem de se preparar para uma nova geração de turistas chineses que procura uma oferta ligada a experiências, redes sociais e eventos. Helena de Senna Fernandes afirmou que estão identificados dois perfis de turistas chineses no território, com hábitos de consumo muito diferenciados, uns mais tradicionais que olham para Macau como um espaço de jogo, e a geração mais nova com um olhar mais contemporâneo.

“Neste momento temos dois grupos, os que chegam em grupo de excursão, e aqueles que vêm individualmente, os ‘independent visitors’”, afirmou. A maior parte dos que chegam em excursões tem mais de 55 anos e os que viajam de modo individual têm menos de 35 anos.

Este grupo mais novo “gosta muito de ir para além dos casinos e, se calhar, nem visita os casinos ou vai apenas por curiosidade”, preferindo aproveitar Macau como um espaço turístico mais completo.

Exemplo disso são as filas junto a pontos tradicionais de turismo de Macau que nada têm a ver com o jogo, explicou Senna Fernandes, salientando que a visibilidade nas redes sociais é um fator decisivo para o sucesso de alguns produtos. “Há muitas lojas pequenas que, porque têm presença nas redes sociais, têm muita gente que vai lá”, exemplificou.

No entender da directora do turismo, “o jogo vai continuar a ser importante”, mas o governo está a “investir muito mais” em produtos complementares e “é obrigação também dos concessionários que invistam muito mais em não-jogo”, eventos, exposições, convenções, espetáculos culturais, gastronomia ou atividades balneares

No quadro das concessões de jogo recentemente atribuídas cada um dos operadores já prometeu ao Governo que vai investir na promoção do turismo fora do jogo. “A proporção de investimento é quase, salvo erro, de nove vezes para um. Quer dizer, eles vão investir nove vezes mais no não jogo comparando com o seu investimento na área do jogo”, explicou. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


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