O artista, filho de pais cabo-verdianos, encontra-se na capital do país para o lançamento oficial do quarto álbum “Mocinho”, um projeto versátil e tradicional constituído por 15 faixas
Depois
de quatro anos sem atuar na cidade da Praia, o artista e produtor musical Loony
Johnson está na capital do país para apresentar hoje, sábado, 01, o quarto
álbum “Mocinho”, que traz um tema dedicado ao falecido pai.
“Para
mim, Mocinho foi o álbum mais difícil de produzir por causa da gestão dos
sentimentos. (…) Nunca tinha perdido alguém tão próximo e foi complicado lidar
com esse sentimento. Estava na fase de produção de Mocinho, afastei-me do
estúdio e foi a música que dediquei ao meu pai que me deu ânimo para continuar
a trabalhar porque o single ‘Sodadi Txeu Dimas’ foi um desabafo. (…) O meu pai
faleceu quando estava a produzir o tema ‘Só Si Ka Da’ que fiz com Vado Más Ki
Ás e que era para sair na altura, acabei por adiá-lo e lancei ‘Jóia’, que é um
tema que aproveitei para dedicar à família. Depois de um longo período fiz o
single dedicado ao meu pai. Foi como se fosse uma biografia dele”, conta
visivelmente emotivo.
No
tema “Sodadi Txeu Dimas”, Loony Johnson conta com a colaboração do irmão Hugo
Miranda. “Normalmente, o meu irmão canta mais hip hop e nunca tínhamos pensado
em gravar algo em conjunto. Nessa música senti a necessidade de juntos
homenagearmos o nosso pai. A voz da minha mãe aparece no início da música, ela
nem percebeu que estava a ser gravada e depois ficou emocionada.”
O
artista diz que sempre quis homenagear o pai, mas que lhe faltava inspiração e
lamenta fazê-lo depois do seu desaparecimento físico. “É uma pena, o meu pai
nunca vai escutar essa música. Sempre quis dedicar-lhe um single e nunca tive
inspiração para o homenagear em vida. No meu primeiro álbum fiz uma música para
a minha mãe e sempre questionei porquê que nunca fiz algo para o meu pai e foi
doloroso ver que a inspiração e o desabafo certo só apareceram depois do seu
falecimento. (…) Espero que onde quer que o meu pai esteja ele possa sentir
essa energia.”
A
música tem sido uma terapia e desde a pandemia começou a aprender a tocar
piano, algo que desde criança tinha vontade de “aprender e aprofundar”. “A
música ajuda-me a me libertar e a pensar melhor.”
Segundo
Loony Johnson, o feedback do público em relação ao álbum ‘Mocinho’, que
foi lançado em outubro de 2022, está a ser “incrível”.
“O
meu penúltimo CD foi em 2016 e depois desse tempo sem lançar as pessoas
acarinharam ‘Mocinho’ de uma forma tão positiva que para mim é uma satisfação
enorme. Depois de tudo o que passei e que não estava preparado, produzi um
álbum e o público retribuiu com muito carinho, amor, respeito e com mensagens
que dá até vontade de chorar. (…) Então, fico muito contente quando sinto o
reconhecimento do público.”
Recentemente,
o artista apresentou o álbum em Nice (França) e hoje, sábado, 01, será a vez do
espaço Hangar 7, na cidade da Praia, acolher o concerto.
“Tenho
preparado um repertório de algumas músicas antigas, mas principalmente a
apresentação de ‘Mocinho’. Estou ansioso para ver pessoalmente como o público
vai vibrar, aceitar e cantar. (…) Até agora tenho recebido bons feedbacks,
o que aumenta cada vez mais a minha ansiedade. Vou contar com alguns convidados
que vão fazer a noite ainda mais especial. Acho que tenho todos os ingredientes
para ser uma noite bem conseguida onde as pessoas vão divertir-se e esquecer um
pouco as dificuldades do dia-a-dia. (…) O público pode esperar boas energias.”
Loony
Johnson vai partilhar o palco com Zeca di Nha Reinalda, Dynamo e SOS Mucci,
artistas com os quais já trabalhou junto. Gravar com Zeca di Nha Reinalda, bem
como Princezito, foi histórico na vida do artista que reside em Portugal. “A
música ‘Homi Grandi’ foi um prémio que ganhei. (…) Não estou a discriminar a
nova geração, mas há sempre mais respeito para os artistas mais antigos. (…)
Nem sei onde estava quando o Zeca di Nha Reinalda começou no grupo Bulimundo
(risos), então, para mim é histórico. Homi Grandi fez história e Zeca abraça
essa música de uma forma incrível quando canta nos seus shows. (…) Ganhei um
pai. Para mim Zeca di Nha Reinalda é um Homi Grandi. Depois da gravação da
música ele liga-me sempre. Então, ganhei um pai nessa indústria da música”, diz
orgulhoso.
Na
próxima semana, Loony Johnson vai animar as festividades da Páscoa em Paul,
Santo Antão. De seguida, regressa para a cidade da Praia onde vai participar
numa palestra no âmbito do Atlantic Music Expo (AME). No mês de maio, o músico
vai participar nas festividades de Nhô São Filipe, na ilha do Fogo. “Tenho
outros shows programados em Miami (EUA), Luxemburgo, França, Holanda, etc.”
Show no Coliseu dos Recreios, um grande desafio
Depois
de participar em inúmeros shows de colegas no Coliseu dos Recreios em Lisboa,
no dia 20 de outubro, o artista vai realizar neste palco o concerto mais
desafiante da sua vida.
“Estava
a sonhar com o dia em que ia pisar este palco em nome próprio, porque sempre
atuei no Coliseu como convidado, o que dá sempre uma certa tranquilidade, agora
realizar o próprio show tem uma responsabilidade e um sabor especial. (…) Ainda
estou a pensar se realmente sou Homi Grandi ou Mocinho porque não é qualquer um
que tem o nome, a presença para encher esta sala. (…) Estou a apostar todas as
fichas e no meu ponto de vista vai ser um dos melhores shows que vou fazer até
agora. (…) Vai ser o meu primeiro show e tenho muitas expectativas”, diz o
músico que começou a dar os primeiros passos na música em 1997 como DJ a animar
as festas lisboetas.
Além
das músicas do novo álbum, o artista adianta que vai interpretar temas antigos,
mas atualizados. “Tem toda uma programação nova, não vão ficar diferente do que
tem por hábito escutar, mas vão sentir a atualização na sonoridade.”
Questionado
sobre quais foram os momentos mais marcantes ao longo da sua trajetória
artística que já dura há mais de duas décadas, Loony Johnson nomeia; o
falecimento do pai, o videoclipe do single Jóia que fez com a sua família e a
participação na última edição do Festival Baía das Gatas, no Mindelo.
“Fiz
a música Jóia antes do falecimento do meu pai, mas gravei o videoclipe depois,
porque senti que a música tinha tudo a ver e no final há uma pequena
dedicatória para ele. Não é uma música triste, comparado com a que fiz para o
meu pai, mas é com uma energia mais de família. (…) Jóia teve um impacto
diferente na vida das pessoas, mas todas com um conceito de família. Para mim
foi como se fosse um presente para os meus filhos. Senti como se fosse um álbum
de fotografia em vídeo que fiz para os meus filhos, porque quando perdi o meu
pai quis ter esses conteúdos para agarrar neles, mas não tinha nada. (…) Então,
decidi fazer esse vídeo para os meus filhos caso um dia eu não esteja
presente.”
O
balanço desses anos de carreira é “positivo” e de muita “evolução”. “Em cada
ano houve muitas coisas que tive que melhorar e examinar. Quando lancei o meu
primeiro álbum em 2006 era muito inexperiente, não tinha noção das coisas mesmo
na parte profissional, emocional e postura”, diz e acrescenta que não tinha
ninguém com experiência para o orientar e que aprendeu com a vida.
No
que tange a projetos, Loony Johnson pretende ainda este ano lançar outra versão
do álbum Mocinho com mais cinco músicas. “A ideia é lançá-lo até setembro, mas
ainda o projeto existe só no pensamento. Simplesmente estou focado no show no
Coliseu dos Recreios em Lisboa, logo ainda não tive tempo para programá-las e
ver qual dimensão vão tomar e muito menos se vai ter alguma colaboração”, diz e
assevera que se houver participação especial nesses temas vão surgir
naturalmente como aconteceu nos outros. “Não tem que ser algo forçado, mas sim
com um propósito. (…) Não é porque o artista está a fazer sucesso que tenho que
gravar algo. Tenho que conviver com o artista. (…) Estive várias semanas com o
Dynamo. Nunca chamei o Princezito, com a Elida Almeida e o Djodje foi a mesma
coisa.” Aline Oliveira – Cabo Verde in “Balai
Cabo Verde”
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