Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 5 de abril de 2023

ONU - Aponta expansão de nova modalidade de tráfico em países de língua portuguesa

Uma grande operação envolvendo polícia, autoridades de alfândega e agências de 58 países resultou na apreensão de 98 toneladas de cocaína. Portugal e Brasil integram a lista de nações envolvidas. Ao todo, foram 158 apreensões de substâncias ilícitas e 43 prisões entre novembro e dezembro de 2022.

De acordo com o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Unodc, que participou da operação, os grupos criminosos estão a ocultar a cocaína e outras substâncias dentro de contentores que transportam substâncias lícitas.


Cadeia de transporte

Para montar o esquema, traficantes ameaçam e exploram funcionários da cadeia de transporte de mercadorias para se valerem de uma carga legítima e usá-la de ponta a ponta.

Este modus operandi foi observado em 107 dos casos envolvendo contentores durante a operação. Ao desvelar este método de ocultamento, os agentes da lei apreenderam 62 toneladas de cocaína.

Segundo o Unodc, o sucesso da operação pode ser atribuído à colaboração com a indústria naval e ao uso de novas ferramentas de visualização de dados e tecnologias de inspeção.

Antes da divulgação do resultado da operação, a chefe da Seção de Pesquisa sobre Drogas do Unodc, Chloe Carpentier, conversou com a ONU News, de Viena, sobre o contexto de forte aumento da oferta de cocaína no mundo.

No relatório global sobre a droga, lançado pelo órgão em março, foi registado um aumento de 35% na produção, o maior desde 2016.

Tendências em Cabo Verde e Guiné-Bissau

De acordo com a especialista, o cultivo é concentrado em apenas três países sul-americanos: Colômbia, Bolívia e Peru. Todos eles têm fronteira com o Brasil, fazendo com que o país tenha um papel chave no transporte da droga.

Os produtores visam especialmente o mercado europeu, o segundo maior do mundo. Carpentier afirma que os grupos que traficam a cocaína usam rotas na África para chegar à Europa.

Ela avalia que, desde 2019, o fluxo da droga que passa pelo continente africano tem aumentado consistentemente em comparação com anos anteriores. A pesquisadora destacou como os países lusófonos na costa ocidental da África integram esta rota.

“Houve um aumento, saindo do Brasil, da zona de Recife e Natal, deste tipo de embarcação, que tem cocaína a bordo e trafica para a Europa através da África do oeste, em particular de Cabo Verde. Na Guiné-Bissau também. O país tinha um papel enorme nos anos 2005, 2007, depois baixou, mas agora temos também apreensões muito elevadas.”

A pesquisadora do Unodc indicou que as quantidades de cocaína apreendidas nos dois países nos últimos anos ultrapassam 10 toneladas.

Moçambique e Angola na rota que sai do Brasil

Segundo ela, Moçambique e Angola também integram a rota da droga que parte do Brasil. O uso das vias marítimas está em expansão.  Para Carpentier, o transporte via contentores é parte da estratégia dos grupos criminosos que atuam nos países de língua portuguesa.

“Em Moçambique o tráfico de cocaína e a ligação com o Brasil não é recente. Desde o início dos anos 2000 já se registava, principalmente pelo ar, mas vimos que agora está a expandir-se pela via marítima com uso muito grande de cargas. Em Angola, o tráfico está a aumentar pela via marítima, em embarcações que tem contentores, pois nelas se pode traficar grandes quantidades. É um tráfico de trânsito rumo a mercados lucrativos e em expansão da Europa ocidental, mas uma parte fica no país de trânsito.”

O Unodc possui um Programa de Controlo de Contentores, CCP, que atua na luta contra o comércio de substância ilícitas contidas em cargas transportadas via contentores.

Com base na operação bem-sucedida, as agências alfandegárias envolvidas estão a atualizar os seus critérios de seleção de cargas e a preparar-se para lidar com as novas tendências de tráfico identificadas. ONU News – Nações Unidas  


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