Rita Portela, Luís Bento, Paulo Pereira e Ivan Pineda compõem o projecto musical “Fado Oriente”, que recentemente se apresentou ao público no aniversário da delegação da Fundação Oriente. O grupo não quer apenas divulgar um género musical tão português, mas também misturá-lo com músicas em chinês. Compor originais está também nos planos dos membros do grupo
Quatro
músicos de Macau decidiram juntar-se num novo projecto depois de terem
percebido que o fado, um género musical tão português, pouco se ouvia nas ruas
de Macau, apesar da presença ainda significativa de uma comunidade lusa e de
elementos culturais e arquitectónicos que denotam uma presença secular dos
portugueses.
“Fado
Oriente” nasceu, assim, com Rita Portela na voz e os músicos Paulo Pereira,
Luís Bento e Ivan Pineda, que contam com a colaboração de Ari. O concerto de
estreia aconteceu no último evento que marcou o 30.º aniversário da delegação
da Fundação Oriente em Macau, mas, a partir daqui, espera-se uma maior
divulgação do fado em Macau e na Ásia.
“Decidimos
criar este projecto quando percebemos que não havia fado em Macau, no sentido
em que era uma coisa que raramente se ouvia, a não ser quando vinham músicos e
fadistas de fora”, contou Rita Portela ao HM. O “embrião” para este projecto
surgiu com a preparação de um espectáculo integrante do cartaz do Festival da
Lusofonia, no ano passado, mas que acabou por ser cancelado à última da hora
por causa da pandemia.
Mas
Rita Portela considera que este cancelamento acabou por se tornar num ponto de
partida importante para criar algo com maior profundidade. “Achámos que seria
importante continuar com este projecto porque existe uma maneira diferente de
interpretar o fado quando se está fora de Portugal. No Festival da Lusofonia
não tivemos a oportunidade de apresentar o espectáculo que tínhamos preparado e
isso ajudou-nos a encontrar outra maneira de transformar este projecto numa
coisa mais séria, com uma intenção própria. Tivemos uma óptima recepção [no
evento na Casa Garden] e penso que as pessoas precisavam de ouvir Fado em
Macau, o que é muito bom”, disse.
Parcerias em vista
No
primeiro concerto como “Fado Oriente” o grupo apresentou “Desfado” da Ana
Moura, um dos nomes contemporâneos mais sonantes. Mas pretende-se também
apostar no fado mais clássico, de Amália Rodrigues, por exemplo,
estabelecendo-se uma ponte com a música chinesa.
“Queremos
incorporar a música local e temos mais projectos planeados para dar uma
roupagem de fado a algumas músicas conhecidas em mandarim que as pessoas que
são daqui, e que não falam português, conhecem. São músicas que falam de amor,
mas também de saudade, de uma outra maneira, e é importante [tocá-las].”
Os
membros do “Fado Oriente” querem também fazer parcerias com músicos locais que
toquem instrumentos tradicionais chineses. “Gostaríamos de ser, efectivamente,
uma banda de Fado que existe no Oriente e que representa o espírito
multicultural de Macau, de interacção entre várias culturas.”
Além
de incluir no repertório composições de outros músicos e fadistas, o grupo quer
compor as suas próprias músicas. “Queremos fazer música original e vamos ver se
corre bem. É bom que exista, além do nome, um espírito, e que este seja transmitido
através das músicas originais que se criam. Estamos a trabalhar nisso.”
De pequenino…
Rita
Portela começou a cantar fado em casa, nas festas de família, aos 12 anos,
embora o jazz seja outra das suas paixões. “As pessoas conhecem-me mais a
cantar esse género porque, quando comecei, foi com bandas de jazz e pop.
Comecei no Grand Lapa e cantava com o François Girouard, que já deixou Macau, e
fazíamos um pouco de tudo, incluindo fado, mas era só com guitarra. Então as
pessoas não sabiam que eu cantava fado, mas a verdade é que o faço desde que
tenho 12 anos. Das primeiras cantoras que admirei foi, precisamente, a Amália
Rodrigues. O fado foi um género musical que sempre cantei, mas o jazz é a minha
outra paixão. Considero-me uma cantora que se interessa por todos os géneros
musicais.”
Rita
Portela, que vem de uma família de músicos amadores, espera poder levar o “Fado
Oriente” para fora das pequenas fronteiras de Macau. “Quando montámos este
projecto fizemo-lo porque havia o potencial de sair de Macau e dar concertos lá
fora. Estamos com vontade de entrar nesse comboio e apostar numa coisa que
possa vir a ser maior do que Macau, mas representando o território com um
projecto que nasce aqui, com músicos internacionais, pessoas que vivem fora de
Portugal há muito tempo, e que sentem essa saudade. Quisemos sempre chegar mais
longe”, concluiu. Andreia Silva – Macau in “Hoje
Macau”
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