O Presidente sul-africano anunciou esta terça-feira, 25, que o Congresso Nacional Africano (ANC), partido que lidera e que governa o país desde 1994, após o fim do apartheid, decidiu pela saída da África do Sul do Tribunal Penal Internacional (TPI)
Esta
decisão, que não é uma total surpresa, porque desde pelo menos 2016 que Pretória
tem repetido a ameaça de deixar este tribunal internacional, que não está
integrado na estrutura das Nações Unidas, é, no entanto, anunciada depois de o
TPI ter divulgado um mandato internacional de captura contra o Presidente da
Rússia, Vladimir Putin.
Com
relações de cooperação muito próximas com Moscovo, criadas em grande medida
durante a luta do ANC contra o regime fascista do apartheid, e com muitos
países da região que lutavam contra o domínio colonial, existia ainda a União
Soviética, Pretória parece não ter dúvidas na escolha e opta agora por
desvincular-se do TPI.
Isto,
sublinhe-se, quando se está a pouco mais de dois meses de um importante
encontro dos BRICS, organização que integra o Brasil, a Rússia, a Índia, a
China e a África do Sul, e ao qual estão à beira de aderir outros, como a
Indonésia, a Argélia, a Argentina... em Durban, estando, enquanto membro activo
daquele tribunal, os sul-africanos obrigados a deter Vladimir Putin.
Cyril
Ramaphosa já tinha dito que Putin não seria detido em nenhuma circunstância, no
que contou com o apoio do activo grupo de Julius Malema, que lidera os
Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês), mas agora o
problema fica resolvido na raiz, evitando assim Pretória a pressão dos países
ocidentais durante a visita de Putin a Durban.
Todavia,
o Kremlin, que já confirmou a presença de uma delegação russa em Agosto, em
Durban, durante a Cimeira dos BRICS, ainda não anunciou oficial que esta será
liderada pelo Presidente Putin, prometendo Dmitri Peskov, o porta-voz do
Governo russo, que essa decisão será anunciada em breve. Provavelmente, agora,
essa decisão será mais fácil de tomar.
O
anúncio desta saída foi feito durante uma visita do Presidente da Finlândia à
África do Sul, sendo este país europeu um dos mais férreos aliados da Ucrânia
na guerra contra a Rússia, tendo mesmo aderido à NATO no início de Abril.
Recorde-se
que a África do Sul é o mais importante aliado de Moscovo na África Austral, e
na campanha internacional que os países da NATO, liderados pelos EUA, para
isolar a Rússia, os sul-africanos têm-se colocado claramente fora desse
círculo, apostando, pelo contrário, no estreitamento das relações com Moscovo,
como o demonstram os recentes exercícios navais realizados em conjunto pelos
dois países mais a China.
Ramaphosa
considerou que a decisão do ANC de deixar o TPI é "prudente" e
informou que foi tomada por larga maioria, muito por causa de ser considerado
que o tratamento dado pelo TPI a Putin é "injusto" e infundamentado.
O
mandato de detenção do TPI está fundamentado na alegada deslocação forçada de
crianças ucranianas para a Rússia, especialmente das regiões mais expostas ao
conflito, tendo Moscovo reagido afirmando que se tratou apenas de colocar
milhares de crianças a salvo dos horrores da guerra, podendo estas voltar se
for essa a vontade dos seus familiares directos, como, de resto, tem estado a
acontecer.
Recorde-se
ainda que os BRICS são uma das organizações globais com mais rápido crescimento
das suas economias, perfazendo já a soma destas um PIB superior ao G7, que
agrega os sete países ocidentais mais industrializados, os EUA, França,
Alemanha, Canadá, Reino Unido, Japão e Itália.
"Foi
um engano", explicou o porta-voz do governo sul-africano para explicar
que, afinal, o país não vai sair do Tribunal Penal Internacional, como
Presidente Cyril Ramaphosa tinha anunciado na terça-feira, durante uma
conferência de imprensa.
Esta
questão ganhou dimensão global e o anúncio de abandono do TPI pela África do
Sulfoi noticiado em todo o mundo por ter coincidido com o mandato de captura
internacional emitido há cerca de um mês por esta instância judicial contra o
Presidente da Rússia,Vladimir Putin.
Foi
ainda enfatizado pelo facto de a África do Sul estará a organizar a próxima
Cimeira dos BRICS, organização que integra o Brasil, a Rússia, a Índia, a China
e a África do Sul, em Durban, sendo que, formalmente, se Putin participar, o
país anfitrião está obrigado a cumprir o mandato do TPI e deter o chefe do
Kremlin.
No
entanto, Vladimir Putin ainda não anunciou oficialmente que vai estar em
Durban, no mês de Agosto, mas o seu porta-voz, Dmitri Peskov, já veio a público
anunciar para breve essa decisão. Provavelmente, agora, será mais difícil...
A errónea
informação avançada por Ramaphosa, quando, curiosamente, falava aos jornalistas
ao lado do Presidente da Finlândia, de visita oficial ao país austral, e
sabe-se agora que na origem da "gaffe" está uma interpretação falhada
de uma declaração do ANC, partido que governa a África do Sul desde 1994, logo
após o apartheid cair, e é liderado pelo também Presidente do país.
A declaração
do ANC foi feita depois de o partido ter debatido internamente a questão da
participação de corpo inteiro da África do Sul neste tribunal, que não está
inserido no sistema da ONU.
Porém,
embora este desmentido seja claro, a posição sul-africana nem por isso, porque
pelo menos desde 2016 que o país tem discutido a possibilidade de abandonar o
TPI.
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