Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Macau - Arquitectura militar da Região e da Ásia Oriental em destaque na Fundação Rui Cunha

Uma palestra pública sobre a temática teve lugar na instituição que procurou encontrar um contexto, criar redes e discutir as influências que a presença militar teve nesta parte do planeta. O arquitecto e professor universitário Francisco Vizeu Pinheiro foi o orador da sessão que fez parte integrante do programa de celebrações do 11.º aniversário da Fundação Rui Cunha


A arquitectura militar de Macau e da Ásia Oriental esteve em discussão numa palestra pública de história e património promovida pela Fundação Rui Cunha (FRC). A sessão, realizada em inglês, fez parte integrante do programa de celebrações do 11.º aniversário da fundação.

Inserida no novo ciclo de palestras, co-organizadas pela FRC e o Departamento de História e Património da Universidade de São José, o orador convidado foi o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro que abordou, precisamente, o contexto, as redes e as influências que a presença militar teve nesta parte do planeta, em particular na criação de uma arquitectura muito peculiar. “A chegada dos povos ibéricos, portugueses e espanhóis, ao sudeste asiático, trouxe consigo todo um conjunto de tecnologia militar, como canhões e armas de fogo, os quais directa ou indirectamente tiveram bastante influência na guerra e em toda a situação política da China, Japão e Coreia”, defendeu o arquitecto, académico, licenciado em Arquitectura pela Universidade de Lisboa e com doutoramento realizado no Instituto Tecnológico de Tóquio, no japão.

O académico lembrou os tempos em que os portugueses chegaram e se estabeleceram em Macau. “Sendo Macau a base dos portugueses, mas também de instruídos jesuítas, como Adam Schall Von Bell, as forças portuguesas de Macau tiveram um papel importante na ajuda que deram aos últimos herdeiros dos Ming no combate contra as forças invasoras Qing, recorrendo à utilização de canhões”, apontou, acrescentando que, em 1622, “a resistência de Macau a uma superior força invasora holandesa só foi possível devido à moderna arquitectura, tecnologia militar, e respectivas tácticas, utilizadas para a época nesta parte do globo”.

Vizeu Pinheiro relembrou ainda outro momento relevante na luta pela sua própria sobrevivência quando, em 1809, ameaçado por milhares de piratas na região, “organizou uma frota de cinco navios mercantes adaptados ao uso militar, acabando com esta situação ameaçadora para a cidade e para a região”.

Mas não só Macau sofreu essa influência militar oriunda do Ocidente. Também no Japão, é possível constatar, através dos relatos de jesuítas da época, entre os quais o português Luís Fróis, “a relevância da influência militar ocidental na elite militar daquele país, a qual já adoptava conceitos tecnológicos e científicos ocidentais, cujo maior exemplo foi Oda Nobunaga, um Daimyo, Senhor Feudal de uma pequena província no centro do Japão, que na sua luta pela unificação do país alcançou rapidamente a supremacia militar, utilizando com sucesso, a tecnologia e as tácticas ocidentais na arte da guerra”.

Aliás, acrescentou Vizeu Pinheiro, “Nobunaga foi, igualmente, responsável por uma autêntica revolução na forma de construção de castelos, após a construção do castelo-palácio Azuchi, onde inovou introduzindo muitos elementos já existentes em castelos europeus, acabando por substituir por completo os antigos modelos japoneses”.

A consolidação do Shogunato Tokugawa no Japão (1615), e da Dinastia Qing na China (1644), deu início a um longo período de paz, lembrou o arquitecto, considerando que, desde então, “a evolução da arquitectura militar praticamente estagnou”. “Actualmente, as estruturas militares sobreviventes são adaptadas ou restauradas como importantes bens educacionais para o turismo cultural, particularmente no Japão. São disso exemplo, os vários castelos japoneses do século XVII que foram reconstruídos no século XX, assim como na China muitas muralhas de cidades que foram reconstruídas, como a da cidade de Datong ou partes da Grande Muralha”.

Francisco Vizeu Pinheiro é arquitecto e professor universitário. Licenciado em Arquitectura pela Universidade de Lisboa, em Portugal, prosseguiu os seus estudos de pós-graduação em Macau, tendo-se doutorado no Instituto Tecnológico de Tóquio, no Japão.

Também na RAEM, foi investigador e professor de Turismo Cultural no Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) e no Instituto de Formação Turística (IFT), tendo trabalhado durante vários anos como arquitecto em diferentes instituições governamentais, com destaque para o antigo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), hoje IAM.

Presentemente é professor associado do departamento de Arquitectura e Design da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de São José (USJ), onde ensina nas áreas de arquitectura, sustentabilidade e património. É, igualmente, professor visitante na Universidade Jiangnam, na China Continental, e investigador sobre História e Património de Macau e a sua influência na região. A sua pesquisa é diversificada, passando por estudos sobre o impacto social e demográfico no planeamento da habitação pública numa sociedade em envelhecimento; as sinergias entre o urbanismo verde e a preservação e revitalizações do património histórico; a cidade saudável e a indústria turística; o planeamento e impacto da infraestrutura do metro ligeiro na cidade; e estudos de escala e sustentabilidade de cidades. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto Final”


Sem comentários:

Enviar um comentário