Uma palestra pública sobre a temática teve lugar na instituição que procurou encontrar um contexto, criar redes e discutir as influências que a presença militar teve nesta parte do planeta. O arquitecto e professor universitário Francisco Vizeu Pinheiro foi o orador da sessão que fez parte integrante do programa de celebrações do 11.º aniversário da Fundação Rui Cunha
A
arquitectura militar de Macau e da Ásia Oriental esteve em discussão numa
palestra pública de história e património promovida pela Fundação Rui Cunha
(FRC). A sessão, realizada em inglês, fez parte integrante do programa de
celebrações do 11.º aniversário da fundação.
Inserida
no novo ciclo de palestras, co-organizadas pela FRC e o Departamento de
História e Património da Universidade de São José, o orador convidado foi o
arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro que abordou, precisamente, o contexto, as
redes e as influências que a presença militar teve nesta parte do planeta, em particular
na criação de uma arquitectura muito peculiar. “A chegada dos povos ibéricos,
portugueses e espanhóis, ao sudeste asiático, trouxe consigo todo um conjunto
de tecnologia militar, como canhões e armas de fogo, os quais directa ou
indirectamente tiveram bastante influência na guerra e em toda a situação
política da China, Japão e Coreia”, defendeu o arquitecto, académico,
licenciado em Arquitectura pela Universidade de Lisboa e com doutoramento
realizado no Instituto Tecnológico de Tóquio, no japão.
O
académico lembrou os tempos em que os portugueses chegaram e se estabeleceram
em Macau. “Sendo Macau a base dos portugueses, mas também de instruídos
jesuítas, como Adam Schall Von Bell, as forças portuguesas de Macau tiveram um
papel importante na ajuda que deram aos últimos herdeiros dos Ming no combate
contra as forças invasoras Qing, recorrendo à utilização de canhões”, apontou,
acrescentando que, em 1622, “a resistência de Macau a uma superior força
invasora holandesa só foi possível devido à moderna arquitectura, tecnologia
militar, e respectivas tácticas, utilizadas para a época nesta parte do globo”.
Vizeu
Pinheiro relembrou ainda outro momento relevante na luta pela sua própria
sobrevivência quando, em 1809, ameaçado por milhares de piratas na região,
“organizou uma frota de cinco navios mercantes adaptados ao uso militar,
acabando com esta situação ameaçadora para a cidade e para a região”.
Mas
não só Macau sofreu essa influência militar oriunda do Ocidente. Também no
Japão, é possível constatar, através dos relatos de jesuítas da época, entre os
quais o português Luís Fróis, “a relevância da influência militar ocidental na
elite militar daquele país, a qual já adoptava conceitos tecnológicos e
científicos ocidentais, cujo maior exemplo foi Oda Nobunaga, um Daimyo, Senhor
Feudal de uma pequena província no centro do Japão, que na sua luta pela
unificação do país alcançou rapidamente a supremacia militar, utilizando com
sucesso, a tecnologia e as tácticas ocidentais na arte da guerra”.
Aliás,
acrescentou Vizeu Pinheiro, “Nobunaga foi, igualmente, responsável por uma
autêntica revolução na forma de construção de castelos, após a construção do
castelo-palácio Azuchi, onde inovou introduzindo muitos elementos já existentes
em castelos europeus, acabando por substituir por completo os antigos modelos
japoneses”.
A
consolidação do Shogunato Tokugawa no Japão (1615), e da Dinastia Qing na China
(1644), deu início a um longo período de paz, lembrou o arquitecto,
considerando que, desde então, “a evolução da arquitectura militar praticamente
estagnou”. “Actualmente, as estruturas militares sobreviventes são adaptadas ou
restauradas como importantes bens educacionais para o turismo cultural,
particularmente no Japão. São disso exemplo, os vários castelos japoneses do
século XVII que foram reconstruídos no século XX, assim como na China muitas
muralhas de cidades que foram reconstruídas, como a da cidade de Datong ou
partes da Grande Muralha”.
Francisco
Vizeu Pinheiro é arquitecto e professor universitário. Licenciado em
Arquitectura pela Universidade de Lisboa, em Portugal, prosseguiu os seus
estudos de pós-graduação em Macau, tendo-se doutorado no Instituto Tecnológico
de Tóquio, no Japão.
Também
na RAEM, foi investigador e professor de Turismo Cultural no Instituto de
Estudos Europeus de Macau (IEEM) e no Instituto de Formação Turística (IFT),
tendo trabalhado durante vários anos como arquitecto em diferentes instituições
governamentais, com destaque para o antigo Instituto para os Assuntos Cívicos e
Municipais (IACM), hoje IAM.
Presentemente
é professor associado do departamento de Arquitectura e Design da Faculdade de
Artes e Humanidades da Universidade de São José (USJ), onde ensina nas áreas de
arquitectura, sustentabilidade e património. É, igualmente, professor visitante
na Universidade Jiangnam, na China Continental, e investigador sobre História e
Património de Macau e a sua influência na região. A sua pesquisa é
diversificada, passando por estudos sobre o impacto social e demográfico no
planeamento da habitação pública numa sociedade em envelhecimento; as sinergias
entre o urbanismo verde e a preservação e revitalizações do património
histórico; a cidade saudável e a indústria turística; o planeamento e impacto
da infraestrutura do metro ligeiro na cidade; e estudos de escala e
sustentabilidade de cidades. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto
Final”
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