Uma garrafa de porcelana com cinco séculos e a última bandeira hasteada na transferência da administração de Macau são alguns dos objetos que contam a relação entre Portugal e a região no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa.
Estas
são apenas duas das cerca de 4 mil peças patentes no espaço museológico do
Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) e que pretendem “dar uma ideia de
5000 anos de história e arte chinesa, que vai desde o período neolítico até ao
início do século XX”, como explicou o diretor do museu, Rui Dantas.
Neste
espaço, os visitantes podem perceber “como Macau foi criado e as relações que
se estabeleceram entre a Europa e a Ásia, a partir de Macau”.
O
acervo conta com exemplares das primeiras cerâmicas neolíticas, até terracotas
funerárias, bronzes, cerâmica song, objetos para o fumo do ópio, pinturas,
pratas e leques, entre outros.
Um
dos objetos em destaque é uma garrafa decorada que foi encomendada, em 1522,
por Jorge Álvares, um mercador abastado de Freixo Espada à Cinta que teve como
sócio Fernão Mendes Pinto e foi um dos pioneiros portugueses no negócio da
porcelana.
A
obra assinala o início do comércio da porcelana, sendo uma das primeiras peças
de encomenda no arranque de um vasto percurso de trocas comerciais, explicou o
diretor do Museu de Macau.
Outra
peça em destaque é um Buda assinado pelo artista cerâmico Pun Yu Shu, discípulo
do célebre mestre da cerâmica de Shek Wan, e que foi encomendada pelo
colecionador Silva Mendes, o primeiro europeu a colecionar pelas de qualidade
com as características da cerâmica de Shek Wan.
O
espaço conta com um apontamento sobre a transferência (da administração do
território de Portugal para a China), tendo exposta a última bandeira a ser
arreada nas cerimônias oficiais da transferência da administração de Macau, em
1999.
Foi
precisamente esse o ano em que o CCCM foi criado, com o objetivo de “promover o
conhecimento das relações entre a Europa e a Ásia”, propósitos que se mantêm,
com uma forte componente na formação, segundo a presidente do Centro, Cármen
Mendes.
Nesta
área, destacou o curso de Cultura e Língua Chinesa, recordando que o Centro foi
“a primeira instituição a lecionar este curso em Portugal”.
Segundo
Cármen Mendes, este é um centro “vivo”, com a passagem de muitos
investigadores, doutorandos, bolseiros e pessoas interessadas nas relações
entre Portugal e a Ásia, e outras que simplesmente não resistem a ofertas de
formação como, por exemplo, sobre o patuá (crioulo de Macau) ou o guzheng
(instrumento de música tradicional chinesa), administradas neste espaço.
“Temos
cada vez mais visitantes, não só na nossa biblioteca – que é a melhor
biblioteca com obras sobre a Ásia em Portugal, que reúne investigadores e
outros interessados na Ásia -, o nosso museu e os cursos de formação que vamos
lecionando para especialistas, acadêmicos e também a sociedade civil e o
público em geral”, indicou à Lusa.
Ao
nível da investigação, sublinhou, “o centro tem tido um papel pioneiro na
ligação de todos os académicos que trabalham sobre a Ásia em Portugal, alguns
portugueses no estrangeiro e alguns estrangeiros com fortes ligações à academia
portuguesa”.
Destacou
ainda as Conferências da Primavera, que reúne cerca de 180 oradores e a
atribuição de bolsas de doutoramento anuais, financiadas pela Fundação para a
Ciência e Tecnologia (FCT), que tutela o Centro, a estudantes de doutoramento
que fazem investigação sobre a Ásia.
O
CCCM conta com 25 bolseiros de doutoramento, voluntários que neste espaço
conseguem uma grande proximidade com a Ásia.
“Temos
aqui pessoas das mais diversas áreas disciplinares – da arte, religião, língua,
cultura, também história e economia, mas há algo que as une: A paixão pela
Ásia”, afirmou
Cármen
Mendes mostra-se entusiasmada com a criação de uma incubadora científica e
acadêmica, que “vai permitir investigadores, empresários e até artistas terem
esta ligação a Macau, através da Universidade de São José, a Universidade
Católica de Macau”.
Em
relação à biblioteca, a chefe da divisão de Informação e Documentação do CCCM,
Helena Dias Coelho, apresenta-a como primeiramente “vocacionada para o estudo
das relações entre Portugal e Macau” e, mais tarde, alargado a toda a Ásia.
“Somos
sobretudo procurados por estudantes de estudos asiáticos, investigadores, muito
por jovens estudantes de ensino superior, doutorandos e a nossa documentação
responde a este tipo de procura”, disse à Lusa.
Nessa
biblioteca, as obras mais procuradas são as gerais da história da Ásia, mas
também os espólios, nomeadamente do monsenhor Manuel Teixeira, um historiador
que viveu em Macau, onde publicou mais de uma centena de livros e centenas de
artigos na imprensa.
Foi
o próprio que doou o seu espólio ao CCCM, estando o mesmo devidamente tratado e
consultável, repartido entre livros, fotografias, textos e pequenas notas.
Nos
arquivos desta biblioteca está ainda uma coleção de microfilmes constituída por
cerca de 7000 microfilmes, com mais de 50000 documentos essenciais para o
estudo de Macau e das suas instituições, entre o início do século XVII e meados
do século XX. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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