Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Jornalista da rádio ONU defende capital político da língua portuguesa

“A língua portuguesa é inevitavelmente um activo político, cujas vantagens ainda passam despercebidas”, diz Monica Villela Grayley, autora de um livro baseado na estratégia de internacionalização da língua da CPLP.


Os actores políticos, económicos e culturais devem explorar devidamente o potencial do português, língua falada por cerca de 300 milhões de pessoas no mundo e bem representada nas redes sociais. O apelo é lançado pela académica brasileira e antiga jornalista da Rádio da ONU Monica Villela Grayley, autora do livro “A Língua Portuguesa Como Activo Político” apresentado em Lisboa, pelo secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua (CPLP), Zacarias da Costa.

“A língua portuguesa, presente nos quatro cantos do mundo, é inevitavelmente um activo político, cujas vantagens ainda passam despercebidas”, afirmou Monica Grayley, em declarações à imprensa.

“A nossa língua portuguesa está presente das Américas a Ásia. Ela vai de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Às vezes não nos damos conta disso, porque já nascemos com essa língua. Há uma tendência de achar que a língua não é tão importante porque a gente já está acostumada a ela”, lembra.

A língua não é apenas um instrumento de fala e de comunicação, reconhece a académica brasileira, que salienta a presença do português em muitos blocos regionais e políticos importantes, da União Europeia, passando pela União Africana até ao Mercosul, para citar apenas três. Todos estes blocos, acrescenta Monica Grayley, representam um enorme volume de comércio e de negócios. Além disso, sublinha, há um “grande activo político na presença demográfica nesses blocos de todas as pessoas que falam o português”.

Declarações para justificar o teor do seu livro “A Língua Portuguesa Como Activo Político”, apresentado na sede da CPLP. A obra, que resulta da tese de mestrado da autora, baseia-se na estratégia da CPLP de internacionalização da língua portuguesa, aprovada pelos Estados membros em 2008.

“De lá para cá houve muitos progressos, mas acho que agora a gente precisa pensar de uma maneira diferente. Eu acho que agora o nosso desafio é explorar devidamente esse activo político e para isso precisamos de políticas da língua por conta dos países, mas não somente. Eu costumo dizer que a política da língua é uma responsabilidade dos países, dos Estados. Mas a execução cabe a todos. É um esforço colectivo”, considera.

Redes sociais podem ser grandes aliadas

A académica brasileira dá uma “contribuição modesta” para uma percepção mais clara do valor político da língua portuguesa, ao lançar um repto à reflexão, quando se sabe que o português é a quinta língua mais falada no mundo e a terceira mais usada nas redes sociais.

Monica Grayley diz que, na era da comunicação e da informação, as redes sociais podem ser grandes aliadas na execução da referida estratégia. O potencial político da língua portuguesa pode gerar mais oportunidades e dividendos para todos, disse durante a sua intervenção.

Para o político guineense Domingos Simões Pereira, que prefaciou o livro, “esta é uma obra muito ousada, porque ela abandona a retórica muito simplista da forma como todos reclamamos a língua como nossa pertença”.

“A Monica vai à procura de elementos quantitativos, e é através desses elementos quantitativos que ela aborda a dimensão política, a dimensão económica e a dimensão cultural”, aponta.

A autora analisa o contexto geo-estratégico da língua portuguesa e, ao fazê-lo, segundo Simões Pereira, reclama um conjunto de reformas cuja execução peca por estar atrasada. “A circulação”, continua, “é o [exemplo] mais emblemático”.

Monica Grayley também aborda “a questão de uma espécie de ERASMUS CPLP, porque um dos grandes potenciais da língua é que qualquer novo estudante nos nossos países seja mais um falante da língua portuguesa”, explica Simões Pereira.

Segundo o antigo secretário executivo da CPLP, “se a questão da educação é vista como um dos principais entraves ao próprio desenvolvimento dos países lusófonos”, conforme argumenta Mónica Grayley no seu livro, o investimento nesse sector devia ser crucial. “Seria automaticamente também uma forma de promoção da língua. Ou seja, eu encontrei neste livro da Monica uma abordagem para lá das simples proclamações”, afirma.

O ex-primeiro ministro da Guiné-Bissau destaca a análise expressa no trabalho da autora que convida cada um dos países membros, as organizações e os cidadãos comuns da Comunidade lusófona a reflectirem sobre aquilo que cada um pode fazer para a valorização da língua portuguesa como factor de desenvolvimento. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”


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