Um programa pioneiro em Portugal, desenvolvido pela Critical Software, quer formar e dar emprego em tecnologias de informação a pessoas com autismo ou síndrome de Asperger, disse à agência Lusa o diretor executivo da empresa sediada em Coimbra
O
programa de talentos Neurodiversidade aceita, até 9 de julho, candidaturas de
portugueses maiores de 18 anos com diagnóstico de autismo/Asperger e procura
candidatos com motivação para a área das tecnologias de informação (TI) e
conhecimentos de inglês de nível médio.
“É
um programa de empregabilidade, dirigido a pessoas que estão no espetro do autismo
ou de Asperger. E a motivação é muito simples: a Critical é uma empresa de
pessoas, dependemos muitíssimo do talento. Para nós, a criatividade, a inovação
e construir conhecimento são a chave para o nosso sucesso e esta é uma
oportunidade para ter pessoas com características especiais envolvidas nesse
processo de criação de inovação”, afirmou João Carreira, cofundador e diretor
executivo (CEO) da Critical Software.
“Acredito
que em todas as áreas, mas especialmente na nossa, em TI, a inovação, as ideias
diferentes, vêm das zonas de fronteira, não vêm do ‘mainstream’ [do convencional].
Se as pessoas pensam todas da mesma maneira, eventualmente não vai haver muita
inovação. E, portanto, pessoas neurodiversas vão trazer essa riqueza para dentro
de empresa”, acrescentou João Carreira.
O
CEO da Critical insistiu que a “grande motivação” é levar talento à empresa de sistemas
de informação e recusou que se trate de caridade para com as pessoas no espetro
do autismo.
“Não
é uma caridade que estamos a fazer, não queremos este programa com essa mentalidade,
mas sim para integrar as pessoas por aquilo que elas são. São pessoas com
competências por vezes extraordinárias, que são incompreendidas e dificilmente
aceites, e nós estamos a fazer este esforço para identificar e enquadrar essas pessoas”,
argumentou João Carreira.
O
programa da Critical Software é feito em parceria com a fundação dinamarquesa Specialisterne
(que se traduz, em português, como ‘os especialistas’), uma entidade que está
atualmente em 13 países e que tem como objetivo criar um milhão de empregos
para pessoas com autismo.
“Eles
estão a fazer um trabalho muito interessante já há bastantes anos, também na
área de TI. E, entretanto, também nos apercebemos que em Portugal há outros programas
de empregabilidade para pessoas com autismo ou pessoas neurodiversas, mas este
programa da Critical é o primeiro dirigido essencialmente a esta área específica”,
explicou.
“Neste
domínio [das tecnologias de informação] não há [em Portugal] nenhum programa
específico com este foco”, enfatizou João Carreira.
A
seleção e avaliação dos candidatos ao programa Neurodiversidade vai ser
realizada com o apoio da Specialisterne. A formação decorrerá, depois, durante
cinco semanas, em áreas “relevantes para a empresa”, como o teste e
desenvolvimento de software, cibersegurança e consultoria operacional de
tecnologia de informação.
Neste
primeiro projeto, João Carreira revelou que serão selecionadas nove pessoas, para
serem integrados, após a formação e a partir de outubro, na Critical Software
em Lisboa, Porto e Coimbra: “É a primeira vez, estamos a ver como funciona,
mas, claramente, é um programa que, correndo bem, é para continuar”, garantiu.
Em
paralelo à formação dos candidatos ao programa, a Critical Software vai também
formar alguns dos seus quadros, especialmente os gestores de projeto, para saberem
como lidar com o autismo.
“Vão
saber como estar atentos a sinais de pessoas que são neurodiversas, como perceber
a diferença e como tirar partido dessa diferença. Como perceber que essa diferença
não é um problema, mas pode ser uma grande vantagem para os projetos em que
eles estão envolvidos”, explicou João Carreira, definindo a formação dos
colaboradores como “um efeito colateral muito interessante”.
“Os
nossos gestores vão estar expostos a esta questão, que será uma nova realidade.
Esta capacidade de olhar para o outro, olhar para a diferença, que num autista,
muitas vezes, é muito evidente, pelas dificuldades que tem em termos interpessoais,
ver para além disso e conseguir integrar as pessoas na equipa, é um desafio
extraordinário, mas também enriquecedor e fonte de crescimento pessoal para as
pessoas. E vai ajudá-las a tornarem-se melhores gestores e melhores líderes”,
observou. In “Milénio Stadium” – Canadá com “Lusa”
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