O presidente do instituto Camões, João Ribeiro de Almeida, reconheceu que “existe realmente um problema” com a perda do estatuto de língua de especialidade do português em França, defendendo que é preciso voltar a negociar
“É
um problema de percurso que temos de voltar a negociar com os franceses. Vamos
abordar essa questão e, sobretudo, transmitir ao lado francês aquilo que para
nós fazia sentido continuar para o reforço da língua portuguesa em França”,
disse João Ribeiro de Almeida.
A
reforma de 2019 do ensino em França determinou a retirada do português da lista
de línguas com prova específica de acesso ao ensino superior, dando à língua
portuguesa o estatuto de língua rara, e mantendo o inglês, alemão, espanhol e
italiano.
A
medida foi mal recebida pela comunidade portuguesa no país, que considera que
tal medida “é simbólica” da perda de importância e estatuto do português,
levando a França a recuar na retirada total do ensino de português como
especialização de língua e cultura e a manter dois projetos piloto em Paris e
na Guiana Francesa.
A
ideia é continuar com estas experiências durante dois a três anos para perceber
se há realmente alunos suficientes interessados nesta especialização que
justifique a sua manutenção ou alargamento.
“Existem
questões que temos que bilateralmente ver com a França”, acrescentou João
Ribeiro de Almeida, classificando este processo como “um acidente de percurso”
que Portugal espera até ao fim do ano abordar numa reunião da Comissão de
Acompanhamento do Acordo Bilateral entre França e Portugal em matéria de
educação.
“São
acidentes de percurso e estamos cá para os ultrapassar, reconhecendo que existe
realmente um problema”, disse.
Considerou,
neste sentido, que o português em França “não pode voltar a ser apenas a língua
para filhos de emigrantes”.
“Queremos
ir bastante mais longe e contribuir para a pujança da língua portuguesa”,
disse, o presidente do Camões, adiantando que não “ficaria satisfeito” apenas
com a manutenção do português como língua de especialidade nas duas regiões que
integram os projetos piloto.
“Temos
de ver claramente, olhos nos olhos, com os franceses, como podemos avançar a
contento de ambas as partes”, sublinhou.
A
língua portuguesa é ensinada nas escolas em França desde 1973 e, até 2019,
servia como prova específica de acesso à universidade e conclusão do liceu.
No
entanto, a reforma introduzida fez com que o português deixasse de contar para
os exames nacionais – que em França se chama ‘baccalauréat’ ou apenas ‘bac’ -,
passando apenas a contar para a avaliação contínua, tendo menor preponderância
na nota final dos alunos.
Esta
reforma abrangeu os alunos que entraram para o equivalente português dos 10.º e
11.º anos de escolaridade, tendo impacto nos exames nacionais de 2021.
Esta
medida é entendida como “um passo atrás” na valorização da língua em França por
professores, diplomatas e representantes das comunidades lusófonas, que temem
que o português volte novamente a ser visto “como língua de emigrantes para
emigrantes”.
De
acordo com dados do instituto Camões, a língua portuguesa é ensinada em França
a 12917 alunos no ensino básico e secundário, enquanto 4730 estudantes do
ensino superior frequentam disciplinas de língua e cultura portuguesas.
No
país, existem 96 professores no ensino básico e secundário e o apoio a 15
docentes no ensino superior.
Em
2021, a rede do Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) está presente em 18
países (14 da rede oficial e 4 rede apoiada), através de 978 professores,
abrangendo 1445 escolas e 66055 alunos dos níveis de ensino pré-escolar, básico
e secundário, segundo dados oficiais.
A
Rede EPE, no ano letivo 2020/2021, tem ainda uma presença ao nível do ensino
superior, em universidades estrangeiras e organismos internacionais,através da
colocação de 51 leitores, funcionando 63 leitorados e estando estabelecidos 299
Protocolos de Apoio à Docência e Investigação.
Segundo
o IC, “é neste âmbito assegurado o ensino da língua e cultura portuguesa
internacionalmente a mais de 100000 estudantes, contando também com o apoio de
84 Centros de Língua Portuguesa e 57 Cátedras instalados em todos os
continentes do mundo”. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
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