Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 29 de maio de 2021

Guiné-Bissau - Dia Nacional da Música, uma data para recordar José Carlos Schwarz

Bissau – O músico nacional João Cornélio Gomes Correia afirmou que o Dia Nacional da Música, 27 de Maio, data em que faleceu o pioneiro da música moderna guineense, José Carlos Schwarz deve servir de reflexão para todos os músicos da Guiné-Bissau.

O ex-Director-geral da Cultura, numa entrevista exclusiva à ANG, no dia em que o país assinalou mais um ano do desaparecimento físico do músico, disse que, o que José Carlos e os colegas nomeadamente Ernesto Dabo, Aliu Bari e outros fizeram para a revolucionar a música guineense mereciam uma grande homenagem por parte dos músicos e não só.

“O José não era apenas o músico, mas também poeta, político e combatente da liberdade da pátria, daí que deve, sempre, ser recordado com grandes eventos para fazer os mais jovens saber quem foi este grande homem e segui-lo como sendo uma referência”, sublinhou.

Cornélio Gomes Correia disse que José Carlos morreu tão novo, com 27 anos de idade, mas que deixou grandes obras, ou seja, “como dizia o poeta Fernando Pessoa, o homem morre a obra nasce”.

Para o músico, o sentido das composições musicais de José Carlos não correspondia com a de alguém com a sua idade, e o exemplo dele deve servir para inspirar os mais novos.

Gomes Correia frisou que deve-se fazer um esforço para se voltar às origens ou seja aos anos 70 e 80, em que a música estava no seu apogeu, uma vez que, diz Cornélio, existia orquestras musicais por todos os lados do país e possuíam a sua autonomia financeira, sem depender do Estado.

João Cornélio considerou José Carlos um génio e que os seus feitos deviam ser ensinados nas escolas, enquanto património cultural e material para orientar os mais novos.

Segundo ele, apesar de a força dos músicos não ser relevante, está-se a tentar criar uma Escola de Música, como no passado.

Correia considera uma vergonha o facto de o país não dispor de nenhuma sala de espetáculos, salientando que o Espaço Lenox  e outros locais onde fazem shows representam uma alternativa e não espaços próprios.

Para Cornélio Correia entre os sectores que mais evoluíram no país está a área da música, não obstante a inexistência de uma escola, nem lojas de venda de instrumentos musicais.

“Mesmo com essas vicissitudes houve uma revolução e os músicos da nova geração estão a revelar-se muito bem, não ficamos para trás em relação aos cantores de outras paradas do mundo”, disse.

Cornélio Correia disse que tudo isso já foi demonstrado e confirmado com a recepção de músicos estrangeiros que fizeram shows no Estádio 24 de Setembro onde houve muita presença do público, mas que nenhum deles encheu aquele lugar como os artistas nacionais, casos de Charbel Pinto, As One, Klash, Justino Delgado, Rui Sangara, Eric Daro, o que, segundo Correia, demonstra que o público guineense está com os artistas nacionais.

“Têm qualidades e valores por isso merecem apoio e atenção do Governo, que deve criar instrumentos que protegem as obras dos artistas, e leis sobre a pirataria ajudando artistas a viverem do seu trabalho como acontece noutros países do mundo”, enalteceu.

Para o músico a importância da área da cultura e desportiva deve passar de discursos à prática e como sendo elementos fundamentais da unidade nacional devem ser priorizados com investimentos sérios, porque “quando a cultura e o desporto nos une só há uma Nação, um povo, todos comem num só cabaz, ninguém lembra se é do partido azul ou branco”.

O antigo DG da Cultura diz que apesar da sua importância, a cultura é simplesmente posta de lado, acrescentando que exemplo disso é que até agora não existe uma sede da Cultura, volvidos vários anos de independência.

Disse que não foi por isso que José Carlos e os seus camaradas batalharam enquanto Combatentes da Liberdade da Pátria, uma vez que usaram a música como arma de mobilização ou seja, o crioulo em que cantavam, para passar as mensagens não era compreendida pelos colonialistas portugueses, o que terá ajudado na consciencialização da população sobre a necessidade de se lutar para se obter a liberdade.

Gomes Correia referiu que já se passaram 44 anos desde a morte de José Carlos mas que a sua música se mantém actual como nunca e que, se estivesse vivo, teria 71 anos de vida e obra daquele que foi músico, poeta, politico e Combatente da Liberdade da Pátria.

“Apesar de morrer muito novo a sua maturidade não tinha nada a ver com a sua idade. Ele era um Génio", vincou João Cornélio Gomes Correia. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau

 

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