Bissau
– O músico nacional João Cornélio Gomes Correia afirmou que o Dia Nacional da
Música, 27 de Maio, data em que faleceu o pioneiro da música moderna guineense,
José Carlos Schwarz deve servir de reflexão para todos os músicos da
Guiné-Bissau.
O
ex-Director-geral da Cultura, numa entrevista exclusiva à ANG, no dia em que o
país assinalou mais um ano do desaparecimento físico do músico, disse que, o
que José Carlos e os colegas nomeadamente Ernesto Dabo, Aliu Bari e outros
fizeram para a revolucionar a música guineense mereciam uma grande homenagem
por parte dos músicos e não só.
“O
José não era apenas o músico, mas também poeta, político e combatente da
liberdade da pátria, daí que deve, sempre, ser recordado com grandes eventos
para fazer os mais jovens saber quem foi este grande homem e segui-lo como
sendo uma referência”, sublinhou.
Cornélio
Gomes Correia disse que José Carlos morreu tão novo, com 27 anos de idade, mas
que deixou grandes obras, ou seja, “como dizia o poeta Fernando Pessoa, o homem
morre a obra nasce”.
Para
o músico, o sentido das composições musicais de José Carlos não correspondia
com a de alguém com a sua idade, e o exemplo dele deve servir para inspirar os
mais novos.
Gomes
Correia frisou que deve-se fazer um esforço para se voltar às origens ou seja
aos anos 70 e 80, em que a música estava no seu apogeu, uma vez que, diz
Cornélio, existia orquestras musicais por todos os lados do país e possuíam a
sua autonomia financeira, sem depender do Estado.
João
Cornélio considerou José Carlos um génio e que os seus feitos deviam ser
ensinados nas escolas, enquanto património cultural e material para orientar os
mais novos.
Segundo
ele, apesar de a força dos músicos não ser relevante, está-se a tentar criar
uma Escola de Música, como no passado.
Correia
considera uma vergonha o facto de o país não dispor de nenhuma sala de
espetáculos, salientando que o Espaço Lenox
e outros locais onde fazem shows representam uma alternativa e não
espaços próprios.
Para
Cornélio Correia entre os sectores que mais evoluíram no país está a área da
música, não obstante a inexistência de uma escola, nem lojas de venda de
instrumentos musicais.
“Mesmo
com essas vicissitudes houve uma revolução e os músicos da nova geração estão a
revelar-se muito bem, não ficamos para trás em relação aos cantores de outras
paradas do mundo”, disse.
Cornélio
Correia disse que tudo isso já foi demonstrado e confirmado com a recepção de músicos
estrangeiros que fizeram shows no Estádio 24 de Setembro onde houve muita
presença do público, mas que nenhum deles encheu aquele lugar como os artistas
nacionais, casos de Charbel Pinto, As One, Klash, Justino Delgado, Rui Sangara,
Eric Daro, o que, segundo Correia, demonstra que o público guineense está com
os artistas nacionais.
“Têm
qualidades e valores por isso merecem apoio e atenção do Governo, que deve
criar instrumentos que protegem as obras dos artistas, e leis sobre a pirataria
ajudando artistas a viverem do seu trabalho como acontece noutros países do
mundo”, enalteceu.
Para
o músico a importância da área da cultura e desportiva deve passar de discursos
à prática e como sendo elementos fundamentais da unidade nacional devem ser
priorizados com investimentos sérios, porque “quando a cultura e o desporto nos
une só há uma Nação, um povo, todos comem num só cabaz, ninguém lembra se é do
partido azul ou branco”.
O
antigo DG da Cultura diz que apesar da sua importância, a cultura é
simplesmente posta de lado, acrescentando que exemplo disso é que até agora não
existe uma sede da Cultura, volvidos vários anos de independência.
Disse
que não foi por isso que José Carlos e os seus camaradas batalharam enquanto
Combatentes da Liberdade da Pátria, uma vez que usaram a música como arma de mobilização
ou seja, o crioulo em que cantavam, para passar as mensagens não era
compreendida pelos colonialistas portugueses, o que terá ajudado na
consciencialização da população sobre a necessidade de se lutar para se obter a
liberdade.
Gomes
Correia referiu que já se passaram 44 anos desde a morte de José Carlos mas que
a sua música se mantém actual como nunca e que, se estivesse vivo, teria 71
anos de vida e obra daquele que foi músico, poeta, politico e Combatente da
Liberdade da Pátria.
“Apesar
de morrer muito novo a sua maturidade não tinha nada a ver com a sua idade. Ele
era um Génio", vincou João Cornélio Gomes Correia. In “Agência
de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau
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