Abrantes registou e eliminou 140 ninhos de vespa velutina em 2019 e 86 ninhos em 2020, uma redução “enorme”, segundo Carlos Filipe, da Associação Modelismo Centro Portugal. Tudo por causa das feromonas e das novas técnicas de extermínio dos ninhos de vespa asiática
A
predominância da espécie velutina conhecida também como vespa asiática esteve
em debate na sexta-feira, 21 de maio, na Escola Profissional de Desenvolvimento
Rural de Abrantes, numa palestra promovida pelo Serviço Municipal de Proteção Civil.
O
objetivo passou por explicar e dar a conhecer os meios que permitem
intensificar a eliminação desta espécie invasora, nomeadamente melhorando os
mecanismos de deteção, vigilância e controlo.
Para
isso, o Município conta com a Associação Modelismo Centro Portugal e com a sua
técnica que escolhe princípios ativos sem repelentes, utiliza químicos
retirados de crisântemos, que não destrói os ninhos através de fogo nem os
retira no próprio dia e é aceite pelo INIAV – Instituto Nacional de
Investigação Agrária e Veterinária I.P..
Como
ferramenta principal é usada uma cana de carbono e alumínio, para intervenção
de ninhos a vários metros de altura, controlada a partir de baixo, equipada com
bomba elétrica, depósito de químico de 50 ml (25 ml dá para exterminar 20
ninhos) e uma agulha que injeta nos ninhos um atrativo mortal, ou seja,
literalmente um presente envenenado “com impacto ambiental zero”, garante
Carlos Filipe.
Tal
sistema permite atuar “de forma mais rápida e eficaz” em todos os ninhos
detetados, contrariamente ao que acontecia até 2017, em que o extermínio era
realizado através de uma metodologia “que não estava a ser eficaz”. Entretanto
foram identificados “alguns erros” apesar do estudo e dos contributos do
projeto Gesvespa existirem desde 2017, segundo Carlos Filipe, não obstante as
medidas implementadas, a espécie foi invadindo o País inteiro porque “o estudo
indicava um caminho mas as entidades seguiram o caminho contrário”, critica.
E
nesse “caminho contrário” estavam incluídos os repelentes, a destruição dos
ninhos pelo fogo, sabendo-se agora que não é um sistema de controlo –
nomeadamente os incêndios – mas de disseminação porque “queima o ninho mas não
queima a espécie”, refere o engenheiro. E ainda a retirada do ninho no próprio
dia da intervenção.
A
eliminação dos ninhos pelo fogo “hoje já não se fazem. Podíamos até equacionar
o fogo mas sempre num segundo passo depois da intervenção química. Neste
momento penso que está cientificamente aceite que o fogo não era um sistema de
controlo. Realmente, em termos de sistema de alarme funcionava bem porque as
pessoas viam o ninho desaparecer mas em termos de controlo da espécie não era
eficaz”, explica Carlos Filipe ao jornal mediotejo.net.
A
solução é então composta por um atrativo para vespas velutinas, com feromonas –
para controlar o comportamento da espécie – e um inseticida determinado pelos
serviços de veterinária de cada município, “um biocida de longo espectro” para
entrar no sistema de alimentação das colónias e garantir resultados mais
eficazes.
As
feromonas “é uma técnica utilizada há muitos anos para controlo de insetos em
que se utiliza uma substancia química que induz a um comportamento, e é
precisamente isso que se pretende” na vespa velutina, explica Carlos Filipe.
Neste caso “falamos não de uma feromona química mas de uma feromona proteica
que é retirada das larvas com uma técnica de maceração, uma técnica
laboratorial em que se retiram as feromonas da espécie”.
O
nome técnico é feromona de agregação “para com isto termos um comportamento de
agregação da espécie para quando injetamos o ninho não haja o efeito repelente
mas sim o efeito atrativo”.
Carlos
Filipe explica que os químicos anteriormente utilizados “repeliam a espécie do
ninho e o que pretendemos é precisamente o contrário; tentar extinguir toda a
colónia e para isso precisamos de uma feromona de agregação”.
Acrescenta
que esta solução foi desenvolvida tendo em conta “as boas práticas”
designadamente ambientais, no sentido de causar o menor impacto possível. “O
estudo Gesvespa, o estudo científico mais completo nesta área, dizia-nos em
2017 que o comportamento desta vespa é de não ir todos os dias ao ninho, e
nesta perspetiva todas as técnicas que seja retirar o ninho na hora não são
aconselhadas”, diz referindo “no mínimo 72 horas. Ou seja, o ninho ser retirado
sim, pelo alarme social e pelo impacto ambiental mas 72 horas depois da
intervenção, de garantirmos a extinção da colónia”.
O
que significa que a observação de um ninho de vespa asiática no topo de uma
árvore “já pode estar intervencionado. Aí haverá uma responsabilidade do
município de passar essa informação. Realmente há sistemas de sinalização para
as pessoas saberem se o ninho está ou não intervencionado”.
Por
isso, a Associação Modelismo Centro Portugal, que desenvolve os produtos e dá
formação às equipas para procederem à destruição de ninhos, pede “às equipas de
intervenção ou que deixem uma fita de sinalização no ninho, ou na própria
árvore, ou no suporte onde o ninho está, marcar com uma fita da proteção
civil”.
O
ninho deve, no entanto, ser retirado porque a vespa asiática “faz parasitismo
da própria espécie” ou seja “vai buscar as larvas a um ninho para alimentar as
suas larvas”.
Garante
que os ninhos que não sejam retirados “nunca caem antes de 14 dias. Todos os
testes laboratoriais nos dizem que ao fim de um mês o valor residual do químico
é praticamente zero. Portanto, quando os ninhos caem não temos impacto
ambiental”, assegura.
Durante
a palestra à qual assistiram várias entidades do concelho e de concelhos
vizinhos, nomeadamente alguns presidentes das Juntas de Freguesia de Abrantes,
Carlos Filipe estabeleceu a distinção entre a vespa velutina e a nativa vespa
crabro, uma espécie protegida que não deve ser intervencionada, a não ser que
estejam pessoas em perigo.
Deu
conta de existirem 23 espécies de vespa asiática, tendo chegado a Portugal a
nigrithorax proveniente de Mianmar (antiga Birmânia) e da China, sendo o único
vespídeo que hiberna fecundada. E já existem em Portugal “vespas velutinas sem
patas amarelas” devido às mutações.
Explicou
que durante o ano não há machos nos ninhos e que a rainha só começa a fazer
machos quando as temperaturas atingem os 10 graus (noturnos). Acrescentou que o
macho terá uns 2.3 cm enquanto a fêmea tem 3 cm.
Trata-se
de uma espécie de grande adaptação. Atualmente “já não há uma verdadeira
hibernação” porque “a vespa faz hibernação no ninho e não sai como se pensava
para ir para árvores ou buracos” e “todas são potenciais rainhas”. Entre os
grandes predadores de vespa asiática encontramos por exemplo o louva-deus.
Os
ninhos secundários grandes encontram-se, em cerca de 80% dos casos, entre 12 a
20 metros de altura mas também podem ser encontrados, numa pequena percentagem
acima dos 20 metros de altura e uma percentagem ainda mais pequena no chão, nos
troncos das árvores, nos silvados. Curiosamente, a vespa asiática aprecia
construir ninhos em plantações de kiwis.
Carlos
Filipe criticou ainda a utilização dos chamados “cavalos de troia”,
classificando-os de “absurdo” que servem para “matar abelhas”. Afirmou que o
Manual de Boas Práticas no Combate à Vespa Velutina, da autoria da Federação
Nacional de Apicultores de Portugal (FNAP) “foi o maior erro da história”
porque “precisou de dar dinheiro à apicultura e saiu uma aberração […] enquanto
os apicultores tiverem interesses económicos em vender queimadores não vamos
controlar a vespa asiática”, criticou.
Sobre as armadilhas aconselhou os apicultores presentes a utilizar sistemas que não matem as vespas por afogamento mas permaneçam vivas porque assim a captura de vespas acontece em maior número e considerou as armadilhas “uma boa ferramenta de trabalho”, dando preferência a uma mistura de fermento padeiro, água e açúcar. Paula Mourato – Portugal in “Mediotejo.net”
Paula Mourato -
A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais
de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por
isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe
terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de
Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de
Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a
Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da
ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.
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