São
Paulo – A nomeação do ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco
França, em substituição a Ernesto Araújo, abre perspectivas para uma fase de
recuperação do Mercosul, bloco criado em 1991 pela assinatura do Tratado de
Assunção e que hoje reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e outros países
associados. Como se sabe, depois de um período de crescimento, o Mercosul passa
hoje por uma fase de incertezas, acentuada pelos problemas causados pela
pandemia de coronavírus (covid-19), depois que o Brasil deixou de ser o
principal parceiro comercial da Argentina, país que, até há poucos anos, estava
entre os três principais mercados de produtos brasileiros no exterior.
Hoje,
o lugar da Argentina é ocupado pela Holanda, que vem comprando principalmente
soja, petróleo e combustíveis. Em contrapartida, a China passou a ocupar o
posto de principal parceiro da Argentina. Reverter essa tendência é um dos
maiores desafios que o novo ministro terá à frente da pasta. Para tanto, deverá
deixar de lado quaisquer afinidades ou repulsas ideológicas com governos dos
países parceiros, mirando apenas nos resultados comerciais. E esquecer as
públicas divergências entre os presidentes Jair Bolsonaro e Alberto Fernández,
que só contribuem para obscurecer um ambiente já turvo.
É
de se lembrar que o Mercosul, de 2011 a 2020, constituiu um mercado quase
cativo do Brasil, ou seja, o País exportou US$ 54 bilhões a mais do que
importou dos demais parceiros do bloco, com uma pauta diversificada, que ia de
produtos manufaturados a alimentos e commodities. Em uma década, o superávit
comercial foi inferior apenas ao acumulado com a China, país para o qual o
Brasil exportou US$ 158 bilhões a mais do que importou, com a diferença de que
a pauta de exportações com a nação asiática está limitada a poucos produtos,
especialmente soja e minério de ferro.
Para
se ter uma ideia da importância do Mercosul, basta lembrar que o Produto
Interno Bruto (PIB) do grupo está ao redor de US$ 5 trilhões, o que lhe garante
a posição de quinta maior economia do planeta. Não é pouco. O Mercosul vende
63% da soja mundial e é o maior exportador de carne bovina e de frango, milho e
café, o que, na verdade, sempre constitui um grande obstáculo à concretização
de um acordo de livre-comércio com a União Europeia, em razão do lobby dos
produtores agrícolas europeus, que o veem como uma real ameaça aos seus
interesses.
Já
para os parceiros do Mercosul, o Brasil exportava majoritariamente produtos
industrializados, em especial automóveis. Isso significa que, quando essas
transações caem, a indústria brasileira definha, com reflexos negativos na
geração de renda para as famílias, impostos, ciência e tecnologia. Apesar
disso, o governo brasileiro demorou a se mobilizar para reverter esse quadro,
na tentativa de devolver ao Mercosul a importância que sempre teve no comércio
exterior brasileiro.
Com
a indicação de França para a chefia do Ministério das Relações Exteriores,
aparentemente, esse imobilismo chegou ao final, pois o novo ministro, como
ficou claro em seu discurso de posse, é um quadro formado dentro de uma visão
pluralista e universalista que deu ao País grandes diplomatas, como Oswaldo
Aranha (1894-1960), San Tiago Dantas (1911-1964), João Cabral de Melo Neto
(1920-1999), José Aparecido de Oliveira (1929-2007), Dário Moreira de Castro
Alves (1927-2010) e Alberto da Costa e Silva (1931), entre outros.
Segundo
França, “não há modernização sem mais comércio e investimentos, sem maior e
melhor integração às cadeias globais de valor”, o que significa que, daqui para
a frente, o País terá uma política externa com um sentido universalista,
“sempre guiado pela proteção de nossos legítimos interesses”. Em outras
palavras: França pode abrir novos caminhos para o comércio exterior brasileiro,
“sem preferências desta ou daquela natureza”. Só se espera que o principal
mandatário não venha a atrapalhar esses planos. Adelto Gonçalves – Brasil
Adelto Gonçalves, jornalista, é assessor de imprensa do Grupo Fiorde,
constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e
Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional (trading company). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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