São
Paulo – Com a nomeação de um novo chanceler, a ideia que o governo passa é que,
enfim, descobriu que não poderia continuar com uma política de comércio
exterior nada diplomática. E o que se espera é que, com a presença do diplomata
Carlos Alberto Franco França à frente do Ministério das Relações Exteriores, o
Parlamento Europeu volte atrás em sua oposição à ratificação do acordo
comercial entre a União Europeia e o Mercosul, o que se deu em função da política
ambiental do governo brasileiro, que, aparentemente, não reagiu à queimada de
florestas na Amazônia e no Pantanal.
Até
porque é do interesse da União Europeia assinar o acordo, apesar da oposição do
lobby dos produtores agrícolas europeus, especialmente os franceses, pois, com
o tratado em vigor, a Europa ficará numa posição mais favorável para negociar
com os norte-americanos. Como se sabe, Estados Unidos e Brasil são hoje os
grandes fornecedores mundiais do agronegócio. E, se não assinar o acordo com o
Mercosul, a Europa ficará sem cacife para negociar com os norte-americanos,
sujeitando-se ao que os Estados Unidos impuserem na mesa de negociações.
Como
se sabe, o acordo entre Mercosul e União Europeia foi assinado em 2019, depois
de longos vinte anos de discussões e desconfianças de lado a lado, mas, para
entrar em vigor, ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos dos 27
países-membros do bloco europeu e por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. E,
em razão do agravamento da pandemia de coronavírus (covid-19), parece que os
parlamentos não estão muito entusiasmados em discutir o acordo.
No
caso do Parlamento Europeu, aparentemente, há má vontade especialmente por
causa da péssima imagem de que goza o presidente brasileiro na Europa. Mas, a
rigor, o que se prevê é que o acordo fique para 2023, quando a presidência da
União Europeia será ocupada por dois países favoráveis ao acordo: a Suécia no
primeiro semestre e a Espanha no segundo. Seja como for, se sair do papel, o
acordo criará uma das maiores áreas de livre-comércio do mundo, já que os dois
blocos representam mais de 25% da economia mundial e reúnem uma população de
780 milhões de pessoas, ou seja, quase 10% da população mundial.
Segundo
o Ministério da Economia, o acordo representará um incremento no Produto
Interno Bruto (PIB) do País de R$ 336 bilhões em 15 anos, podendo chegar a R$
480 bilhões, se houver uma redução de barreiras não tarifárias. Segundo dados
da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 65% de toda a exportação brasileira
para a União Europeia sofrem tributação alfandegária, com taxas que vão de 4%
até 17% para setores como autopeças, produtos de metal, produtos químicos,
frutas, mel, calçados ou vestuário. Se o acordo entrar em vigor, essas tarifas
cairão de vez ou mesmo paulatinamente.
Mais:
com o acordo, 55% das importações do Brasil da União Europeia terão suas
tarifas de importação zeradas entre 10 e 15 anos, o que dar-se-á também com 75%
das importações da União Europeia de produtos brasileiros. O tratado vai
permitir ainda a abertura do mercado de serviços e compras governamentais e o
estabelecimento de regras importantes em facilitação de comércio, barreiras
técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual.
Hoje,
os produtos básicos perfazem cerca de 44% das exportações do Brasil para a
União Europeia, enquanto os semimanufaturados respondem por 15% e manufaturados
por 40%. No caso das importações oriundas da União Europeia, o percentual das
manufaturas está em torno de 95%. Os interesses europeus se concentram
exclusivamente nos produtos industriais e os do Brasil nos setores
agropecuários e de manufaturas.
Obviamente, com a entrada em vigor do acordo, alguns setores sofrerão perdas, mas, no total, os benefícios serão maiores. Sem contar que, além das vantagens comerciais, os países do bloco sul-americano terão de buscar uma coordenação maior de suas políticas macroeconômicas. Acima de divergências político-ideológicas, todos terão de entender, de uma vez por todas, que o destino deles é comum. Adelto Gonçalves – Brasil
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Adelto Gonçalves, jornalista, é assessor de imprensa do Grupo Fiorde,
constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e
Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional (trading company). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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