A percentagem refere-se aos últimos 10 anos e mostra que o ensino da língua de Camões tem aumentado nas escolas, em alunos e professores sob administração chinesa. Crescimento do mandarim não coloca em causa o cantonês, assumem as autoridades da educação do território
Os
dados foram ontem divulgados durante uma sessão de convívio com a comunicação
social local, organizada pela Direcção dos Serviços de Educação e de
Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ).
Neste
momento existem em Macau cerca de 180 alunos a frequentar turmas em que o
português apresenta uma importância igual à do chinês. Nos ensinos primário e
secundário, o total das escolas com oferta de português é, em 2021, de 53
instituições de ensino, sendo que a “promoção do português tem sido feita
melhor possível”, garantiu Lou Pak Sang, director do organismo que tutela a
educação no território.
“A
língua portuguesa é uma língua oficial, por isso, nas escolas púbicas o seu
ensino é obrigatório. Pelos dados que nos chegam, a procura do português no
privado tem aumentado. Por isso, não temos dúvidas que a língua portuguesa é
muito importante em e para Macau”, constatou o responsável máximo da DSEDJ, que
disse ainda que “há lugar à promoção da língua em actividades extracurriculares
diversas e ainda nos tempos livres”.
Dados
preliminares do Governo da RAEM em relação ao ensino superior, revelados à Lusa
em 2020, contabilizam nos últimos 20 anos um crescimento de 374% no número de
alunos nos cursos leccionados em português entre os anos lectivos 1999/2000 e
2019/2020.
A
DSEDJ também foi questionada sobre a perda de importância do cantonês face ao
crescimento do mandarim em Macau, mas o director do organismo desdramatiza a
situação. “A DSEDJ dá muita importância ao ensino do cantonês. É a língua desta
região, sempre foi. Não sei responder quantas escolas estão a usar o cantonês
ou o mandarim como língua veicular, mas as escolas têm autonomia para escolher.
Penso que a decisão depende sempre dos professores que leccionam as aulas. Da
nossa parte, a promoção do cantonês é para continuar, porque é algo muito forte
culturalmente. Recorremos a poesia e a vídeos em cantonês para explicar a
importância da língua e, claro, não podemos esquecer a cultura cantonesa. Seja
como for, vamos continuar a reforçar a promoção do cantonês, sem prejudicar o
mandarim”, assumiu Lou Pak Sang.
Evitar excesso de trabalhos de casa
A
conversa dos jornalistas com a DSEDJ foi propícia ao debate de diversos
assuntos. O excesso de trabalhos de casa foi outra das temáticas abordadas.
Para o organismo público, “não há pressão em excesso nas escolas de Macau”
sobre esse assunto. Há, sim, escolas mais exigentes que outras. “Esperamos que
haja um limite de trabalhos para casa dados aos estudantes. Os alunos não devem
fazer daquilo que é estritamente necessário”, defendeu Lou Pak Seng.
Para
o director da DSEDJ, os professores devem melhorar a sua capacidade de ensino,
por forma a garantir que os alunos não tenham deveres excessivos fora do âmbito
escolar. “As queixas tem surgido. Estamos atentos e vamos tentar melhorar esta
questão”, garantiu o responsável.
O
acesso ao ensino infantil também mereceu a atenção das autoridades e dos
jornalistas. O registo central para acesso escolar das crianças ao ensino
infantil aconteceu, pela primeira vez, este ano. A DSEDJ considera que a medida
foi um sucesso e revelou que, para o ano lectivo de 2021/2022, o número de
crianças no registo central ultrapassou 5.700, sendo que o número de inscrições
no ensino infantil representa cerca de 96% do número total de crianças
registadas, situação semelhante à verificada em anos anteriores.
Contudo,
com menos 500 alunos, os docentes podem estar em risco. A DSEDJ mostra-se
preocupada com essa situação e com a diminuição de 10 turmas no último ano.
“Algumas escolas disseram-nos que vão contratar, outras que vão mudar a função
de alguns docentes, mas nenhuma garante que não possa despedir pessoal”,
afirmou Lou Pak Seng.
Depois
do biénio 2012-2014, altura em que se atingiram picos de inscrições de crianças
no ensino infantil, a situação, apesar de estável, tem tendência de descida.
“Há menos procura e isso é um desafio para a DSEDJ”, assume o director do
organismo, que revelou ainda que actualmente, no ensino básico, há cerca de 80 mil
alunos distribuídos por 200 turmas.
Patriotismo a quanto obrigas
A
DSEDJ fez o balanço do ensino patriótico nas escolas. O organismo revelou que
criou, no final do ano passado, uma base de educação patriótica para que os
alunos possam ter um contacto com a história e cultura da República Popular da
China, não esquecendo o desenvolvimento que o país tem tido nos últimos anos.
“É preciso aumentar o sentimento de orgulho pelo nosso país”, assumiu o
director da DSEDJ, que lembrou que “as escolas têm autonomia para realizar as
suas actividades relacionadas com o ensino patriótico”, assumindo que os pais
também têm de estar em consonância com aquilo que são as actividades e a DSEDJ
“não deve interferir nisso”.
Em
ano de eleições, outra das coisas abordadas na sessão de convívio prendeu-se
com a propaganda nas escolas e o facto de muitos candidatos se deslocarem às
escolas durante a campanha eleitoral. “Estamos, naturalmente, muito atentos. As
escolas não são veículos de propaganda e têm de manter a sua imparcialidade.
Vamos continuar a observar se tudo está de acordo com o que está consagrado na
lei e como a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL)
diz”, assumiu Lou Pak Seng.
Outra
das preocupações demostrada pela DSEDJ refere-se à educação parental. O
organismo pretende continuar a promover mais o apoio dos pais aos filhos no que
toca à educação em casa. Para isso, a DSEDJ vai organizar cursos de educação
parental específicos, bem como realizar actividades de formação para
associações de pais e encarregados de educação, aumentando a comunicação dos
progenitores com as escolas.
A
DSEDJ vai ainda publicar diversos livros ilustrados sobre educação para a vida
e continuar a apostar na saúde mental e física dos alunos. Para isso, o
organismo público vai promover o desenvolvimento de todos os recursos
educativos dos pais, intensificando a tal função da educação parental. “É
necessário integrar o valor temático da educação para a vida no planeamento
escolar e no ensino em sala de aula”, assumiu Lou Pak Seng.
Por
fim, tempo ainda para aprofundar os planos das autoridades para as férias dos
jovens. As actividades serão organizadas pela DSEDJ e pelo Instituto do
Desporto. “Serão disponibilizadas 11 tipos de actividades, com um número de
cerca de 24 mil vagas para Julho e Agosto”, notou o responsável da DSEDJ, que
ainda acrescentou que no programa “Ocupação de Jovens em Férias”, 37 serviços
públicos e instituições privadas de Macau vão oferecer cerca de 480 vagas para
estágios.
Já
o programa de estágios para estudantes do ensino superior divide-se em dois
tipos: estágios locais e estágios na China continental, sendo que, para este
ano, foram disponibilizadas cerca de 400 vagas. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto
Final”
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