Algumas cidades do norte da Namíbia estão a deparar-se
com um número crescente de vendedores (zungueiros) angolanos, na maioria
homens, mas também algumas mulheres, nas ruas com produtos a baixo preço, o que
está a gerar forte descontentamento entre os "colegas" locais que
dizem não conseguir competir de igual para igual
Os
milhares de angolanos que partiram para a Namíbia nos últimos meses, conforme o
Novo Jornal tem vindo a noticiar, para fugir à fome e ao desemprego gerado pela
prolongada seca nas províncias do Cunene, Kuando Kubango, Namibe e Huíla,
deitam mão a todo o tipo de expedientes para sobreviverem e alguns optaram po rir
para as ruas vender de tudo um pouco, como, de resto, é costume ver nas ruas
das cidades angolanas de onde muitas destas pessoas partiram em busca de
melhores condições de vida.
O
problema é que, como sucede em Ondangwa, uma cidade da região de Oshana, com
pouco mais de 22 mil habitantes, a quantidade crescente de zungueiras e
zungueiros angolanos está a criar uma forte contestação entre os comerciantes
locais nacionais porque estes não estão a conseguir competir com os preços que
os angolanos conseguem fazer.
Uma
das razões, como notam alguns comerciantes namibianos citados pela imprensa
local, é que os angolanos vendem os mesmos produtos mas a preços muito baixos
porque visam apenas o mínimo para sobreviver enquanto os nacionais têm uma
estrutura, família, casa, filhos, escola, impostos, para sustentar com o lucro
da sua actividade.
O
presidente do município da cidade, Paavo Amwele, citado pelo The Namibian, já
disse que está a conversar com os comerciantes locais de forma a que estes
tenham alguma paciência enquanto se procura uma solução no conselho municipal
que seja amigável para todos os intervenientes mas que responda aos anseios dos
locais.
O
autarca, que na Namíbia é eleito pela população em eleições periódicas, admitiu
que o conselho municipal está a ser inundado por reclamações devido à
concorrência dos angolanos que colocam os seus produtos no mercado a preços
substancialmente mais baixos que o comércio local pode oferecer.
Os
principais produtos em causa são os vegetais que os zungueiros angolanos vão
buscar aos mercados centrais e vendem de rua em rua, o óleo de cozinha, sapatos
ou utensílios em plástico, enquanto os comerciantes namibianos só estão
autorizados a vender os seus produtos no mercado municipal da cidade, estando
sujeitos a coimas se assim não actuarem.
No
entanto, tal como já foi sublinhado noutras regiões da Namíbia que acolheram
angolanos que deixaram as províncias do sul fustigadas pela seca, especialmente
do Cunene, também em Ondangwa o "mayor" local enfatizou a necessidade
de procurar uma solução que não seja severa para com "os irmãos e irmãs
angolanos" a quem não se pode "simplesmente afastar da cidade sem
mais nem menos", demonstrando solidariedade para com o seu sofrimento.
"Os
nossos vendedores ambulantes têm questões sérias com os comerciantes angolanos
mas estes são nossas irmãs e irmãos a quem não podemos simplesmente correr para
longe. Teremos de encontrar uma solução adequada para todos e temos de lidar
com esta situação de forma civilizada e ordeira. Porque este negócio não é
suave para ninguém, seja angolano ou local", disse o autarca, ainda citado
pelo The Namibian.
O
problema maior, dizem os vendedores namibianos, é que estes estão obrigados a ficar
no mercado municipal da cidade à espera dos clientes enquanto os angolanos,
porque não estão sujeitos a estas imposições, podem ir com as suas mercadorias
ao encontro dos clientes nas ruas da cidade.
Um
dos exemplos dados por Sofia Petrus, uma vendedora de vegetais, é a
embalagem regular de seis tomates que os locais vendem por 10 dólares namibianos
no mercado (perto de 500 KZ) enquanto os vendedores angolanos levam o mesmo
produto às casas das pessoas por 5 dólares namibianos.
Este
problema está igualmente a ser observado noutras regiões do norte da Namíbia,
como sejam Ohangwena ou Omusati, embora sem esta dimensão e abrangendo outras
áreas, como o trabalho doméstico e na agricultura, onde os angolanos aceitam
trabalhar por salários mais baixos que os trabalhadores locais, seja na agricultura,
pastorícia ou mesmo trabalho doméstico.
Apesar
do cuidado que os autarcas locais têm ao lidar com estes problemas, alguns
casos de agressividade xenófoba foram reportados, sendo Ondangwa uma das
cidades onde isso ocorreu, contra os vendedores ambulantes angolanos.
Entretanto,
perto de 2000 angolanos que se encontram na localidade de Omatunda, no norte da
Namíbia, receberam 32 toneladas em bens de primeira necessidade, alimentos e
produtos de higiene, enviados pelo governo provincial do Cunene no âmbito de
uma visita que a governadora Gerdina Didalelwa, efectuou às regiões de Omusati
e Ohangwena, duas das mais procuradas pelos angolanos que fugiram nos últimos
meses aos efeitos da prolongada seca que se regista no sul de Angola.
Durante esta visita, a governadora do Cunene, citada pelo Jornal de Angola, apontou como urgente a criação de condições para que os angolanos que deixaram o País devido às dificuldades geradas pela prolongada seca, que afecta de forma mais severa as províncias do Cunene, da Huíla e do Kuando Kubango, possam regressar para as suas terras onde devem encontrar resposta adequada. In “Novo Jornal” - Angola
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