São
Paulo – Depois de muitos anos de indefinições, o porto de Santos passou a
contar, desde julho de 2020, com um novo Plano de Desenvolvimento e Zoneamento
(PDZ), que prevê a modernização do espaço portuário por meio de um planejamento
para a ocupação das áreas públicas pelos próximos 20 anos. Segundo o Ministério
da Infraestrutura, responsável pela sua elaboração, com a aplicação do PDZ, o
porto terá sua capacidade elevada em 50% até 2040, atingindo 240,6 milhões de
toneladas.
Segundo
os estudos, para a efetivação do plano, serão necessários R$ 9,7 bilhões entre
os próximos cinco e dez anos, divididos em investimentos em terminais com
contratos vigentes (R$ 2,5 bilhões), investimentos previstos em oito novos
arrendamentos (R$ 5,2 bilhões) e obras de acessos rodoferroviários (R$ 2
bilhões).
Mais:
o novo PDZ prevê a movimentação de 100% das cargas da região de influência do
porto, a consolidação de áreas para a clusterização (separação em grupos) de
cargas e o aumento da participação do modal ferroviário. Além disso, prevê
instalações destinadas a contêineres, que haverão de produzir uma alta de 64%,
passando dos atuais 5,4 milhões de TEUs (twenty foot equivalente unit ou
unidade equivalente a contêiner de 20 pés) para 8,7 milhões, com a construção
de um terminal na região do Saboó e de dois berços de atracação direta entre a
Alemoa e o Saboó.
Entre
outras tantas previsões, o novo PDZ estima um crescimento de 37% para granéis
sólidos vegetais e de 40% para granéis líquidos. Já para os granéis minerais de
descarga, a alta programada é de 74% e, para a celulose, a expectativa é de
49%. De acordo com o Ministério, o novo plano será implantado com novos
arrendamentos, expansão de áreas e ampliação do modal ferroviário, o que
provocará um crescimento de 91% de movimentação por ferrovias em Santos, para
86 milhões de toneladas. Tudo isso, segundo os técnicos do Ministério,
permitirá a criação de 58 mil empregos nos próximos cinco anos, sendo 19,3 mil
diretos, 9 mil indiretos e 29,7 mil indiretos. Desses, pelo menos 2,4 mil serão
empregos diretos nos terminais, provocando um aumento de 15% sobre a base
atual.
Se
tudo isso vai sair dos computadores, só o futuro poderá dizer. Mas a verdade é
que, embora a atuação da atual equipe do Ministério tenha merecido elogios, o
passado recente não autoriza ninguém a esperar muito do novo PDZ. É de se lembrar
que, em 2006, o porto ganhou um PDZ que só teve vigência por escassos três
anos, pois, em 2009, o governo federal publicou o Plano de Desenvolvimento e
Expansão do Porto de Santos que, em 2012, seria revisado por técnicos da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que, em 2019, haveriam de
elaborar um novo Plano Mestre do Porto de Santos.
Sem
contar que, em 2012, a medida provisória nº 595 haveria de transformar o
Conselho de Autoridade Portuária (CAP), que reunia representantes do governo,
dos empresários e dos trabalhadores, em órgão meramente consultivo, sem poder
deliberativo. E que, ainda naquele ano, antiga Companhia Docas do Estado de São
Paulo (Codesp) gastaria recursos e perderia tempo para elaborar o PDZ 2012, que
nunca seria oficializado.
Mas,
antes mesmo de ser colocado em prática, o novo PDZ já se encontra sob análise
do Ministério Público do Estado de São Paulo, que apura incompatibilidades
entre o plano e as normas de direito ambiental e urbanístico da cidade de
Santos, especialmente nas regiões de Outeirinhos e Paquetá, onde já ocorrem
movimentações de fertilizantes e que deverão ser intensificadas. Quer dizer, o
PDZ teria sido elaborado sem estudos que avaliassem os riscos ambientais,
segundo denúncia do Sindicato dos Empregados Terrestres em Transportes
Aquaviários e Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Settaport).
Com
o novo PDZ, o que também fica claro é que o sistema portuário brasileiro
continuará centralizado no Ministério da Infraestrutura, com decisões tomadas
em Brasília sem a participação efetiva daqueles que, de fato, movimentam o
porto no dia a dia, ou seja, os empresários, os trabalhadores e os técnicos
qualificados que atuam nas universidades locais. Por isso, é preciso ser
bastante otimista para acreditar que o novo PDZ terá vida longa. Até porque, em
2022, o Ministério da Infraestrutura pretende privatizar a Autoridade Portuária
de Santos, novo nome da antiga Codesp. Adelto Gonçalves – Brasil
__________________________
Adelto Gonçalves, jornalista, é assessor de imprensa do Grupo Fiorde,
constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e
Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional (trading company). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário