São
Paulo – Apesar dos muitos problemas causados pela pandemia de coronavírus, não
se pode dizer que as exportações tenham sofrido revezes ou deixaram de crescer,
pelo menos no setor do agronegócio, responsável pelo superávit que se registra
na balança comercial. Um exemplo disso é que os portos do Arco Norte do País
aumentaram sua participação nas vendas de soja e milho para o exterior, sendo
responsáveis por quase 35% dos embarques em 2020, conforme estudo da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Como
se sabe, o Arco Norte, na concepção portuária, abrange sete portos, seis na
região Norte e um no Nordeste: Porto Velho-RO, Miritituba-PA, Santarém-PA,
Barbacena-PA, Itacoatiara-AM, Manaus-AM e Itaqui-MA. São terminais bem
localizados, mais próximos de grandes mercados, como Estados Unidos, Europa e
Ásia (via Canal do Panamá), e, portanto, constituem uma alternativa atraente na
comparação com os portos do Sul, pois uma viagem de navio, partindo de lá, fica
de três a cinco dias mais curta.
No
total dos embarques de grãos, o Arco Norte, em 2020, ficou com 31,9%,
registrando um crescimento de 3,5% em relação a 2019. Já os portos do Sul e
Sudeste foram responsáveis por 68,1% dos embarques, com a liderança do porto de
Santos, responsável por 42,2 milhões de toneladas, ou seja, 32% de um total de
132,7 milhões de toneladas exportadas, 1,22% a mais que em 2019.
Obviamente,
o Arco Norte não consegue assumir uma parcela maior na exportação de grãos não
só por falta de investimentos na ampliação de sua capacidade portuária como em
razão de problemas no setor logístico. Um desses problemas é o impasse que se
verifica no processo de licenciamento ambiental da rodovia BR-158, que
atravessa o País de Norte a Sul, começando em Redenção, no Pará, para terminar
em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, perto da fronteira com o
Uruguai.
O
outro é a precariedade da via férrea. Para piorar, o leilão da EF-170, mais
conhecida como Ferrogrão, cotada para ser a principal rota de escoamento do
agronegócio, foi suspenso em março pelo ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), à espera de novos estudos, já que o traçado
previsto cortaria área de uma floresta protegida, o Parque Nacional do
Jamanxim, no Pará, e ainda passaria por cima de terras indígenas
Quando
concluída, a ferrovia terá elevada capacidade de transporte e competitividade
no escoamento da produção pelo Arco Norte, substituindo em grande parte a
tarefa que hoje cabe à rodovia BR-163, famosa pelas paralisações de tráfego
ocasionadas por atoleiros. Com a ferrovia, obviamente, haverá um alívio nas
condições de tráfego naquela rodovia, diminuindo também os custos com a sua
manutenção.
Aliás,
esse projeto, que foi para o Tribunal de Contas da União em junho de 2020, é
considerado prioritário, já que mais de 70% da safra mato-grossense são
escoados pelos portos de Santos e de Paranaguá, a mais de dois mil quilômetros
da origem. Isso mostra a sua importância dentro do sistema logístico de cargas
do País, condição excepcional para atrair investidores interessados em sua
concessão, entre os quais estão empresas que necessitam utilizar
prioritariamente essa via férrea, como Cargill, ADM, Bunge, Louis Dreyfus,
EDLP, Amaggi e outras.
Segundo dados da CNA, por falta de condições logísticas em direção aos terminais portuários da região amazônica, mais de US$ 4 bilhões são desperdiçados por ano porque cerca de 70 milhões de toneladas de grãos produzidos no Centro-Norte têm de ser exportados por portos do Sudeste. Com isso, a mercadoria, em vez de seguir para o Norte, acaba sendo obrigada a percorrer cerca de mil quilômetros a mais, o que ocasiona custos adicionais entre US$ 47 e US$ 60 por tonelada. Sem contar os custos com fretes marítimos, armazenagem e perda de tempo. Portanto, se este fosse um País sério, a Ferrogrão já estaria em funcionamento há muito tempo. Adelto Gonçalves – Brasil
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Adelto Gonçalves, jornalista, é assessor de imprensa do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional (trading company). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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