Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Brasil - Ferrovias: é preciso investir

São Paulo – Apesar dos muitos problemas causados pela pandemia de coronavírus, não se pode dizer que as exportações tenham sofrido revezes ou deixaram de crescer, pelo menos no setor do agronegócio, responsável pelo superávit que se registra na balança comercial. Um exemplo disso é que os portos do Arco Norte do País aumentaram sua participação nas vendas de soja e milho para o exterior, sendo responsáveis por quase 35% dos embarques em 2020, conforme estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Como se sabe, o Arco Norte, na concepção portuária, abrange sete portos, seis na região Norte e um no Nordeste: Porto Velho-RO, Miritituba-PA, Santarém-PA, Barbacena-PA, Itacoatiara-AM, Manaus-AM e Itaqui-MA. São terminais bem localizados, mais próximos de grandes mercados, como Estados Unidos, Europa e Ásia (via Canal do Panamá), e, portanto, constituem uma alternativa atraente na comparação com os portos do Sul, pois uma viagem de navio, partindo de lá, fica de três a cinco dias mais curta.

No total dos embarques de grãos, o Arco Norte, em 2020, ficou com 31,9%, registrando um crescimento de 3,5% em relação a 2019. Já os portos do Sul e Sudeste foram responsáveis por 68,1% dos embarques, com a liderança do porto de Santos, responsável por 42,2 milhões de toneladas, ou seja, 32% de um total de 132,7 milhões de toneladas exportadas, 1,22% a mais que em 2019.

Obviamente, o Arco Norte não consegue assumir uma parcela maior na exportação de grãos não só por falta de investimentos na ampliação de sua capacidade portuária como em razão de problemas no setor logístico. Um desses problemas é o impasse que se verifica no processo de licenciamento ambiental da rodovia BR-158, que atravessa o País de Norte a Sul, começando em Redenção, no Pará, para terminar em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, perto da fronteira com o Uruguai.

O outro é a precariedade da via férrea. Para piorar, o leilão da EF-170, mais conhecida como Ferrogrão, cotada para ser a principal rota de escoamento do agronegócio, foi suspenso em março pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), à espera de novos estudos, já que o traçado previsto cortaria área de uma floresta protegida, o Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, e ainda passaria por cima de terras indígenas

Quando concluída, a ferrovia terá elevada capacidade de transporte e competitividade no escoamento da produção pelo Arco Norte, substituindo em grande parte a tarefa que hoje cabe à rodovia BR-163, famosa pelas paralisações de tráfego ocasionadas por atoleiros. Com a ferrovia, obviamente, haverá um alívio nas condições de tráfego naquela rodovia, diminuindo também os custos com a sua manutenção.

Aliás, esse projeto, que foi para o Tribunal de Contas da União em junho de 2020, é considerado prioritário, já que mais de 70% da safra mato-grossense são escoados pelos portos de Santos e de Paranaguá, a mais de dois mil quilômetros da origem. Isso mostra a sua importância dentro do sistema logístico de cargas do País, condição excepcional para atrair investidores interessados em sua concessão, entre os quais estão empresas que necessitam utilizar prioritariamente essa via férrea, como Cargill, ADM, Bunge, Louis Dreyfus, EDLP, Amaggi e outras.

Segundo dados da CNA, por falta de condições logísticas em direção aos terminais portuários da região amazônica, mais de US$ 4 bilhões são desperdiçados por ano porque cerca de 70 milhões de toneladas de grãos produzidos no Centro-Norte têm de ser exportados por portos do Sudeste. Com isso, a mercadoria, em vez de seguir para o Norte, acaba sendo obrigada a percorrer cerca de mil quilômetros a mais, o que ocasiona custos adicionais entre US$ 47 e US$ 60 por tonelada. Sem contar os custos com fretes marítimos, armazenagem e perda de tempo. Portanto, se este fosse um País sério, a Ferrogrão já estaria em funcionamento há muito tempo. Adelto Gonçalves – Brasil 

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Adelto Gonçalves, jornalista, é assessor de imprensa do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional (trading company). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

 

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