Para celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong em colaboração com o Instituto Camões e o Instituto Português do Oriente ofereceram uma série de livros a quase 40 escolas. Ao Jornal Tribuna de Macau, o cônsul-geral, Paulo Cunha Alves defendeu que a RAEM tem potencial para desempenhar o papel de centro internacional asiático para o ensino de língua portuguesa
Quando
se celebrou, pela segunda vez, o Dia Mundial da Língua Portuguesa, instituído
pela UNESCO em Novembro de 2019, o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong
Kong em colaboração com o Instituto Camões e o Instituto Português do Oriente
(IPOR) realizaram uma acção de entrega de cerca de 500 livros a um total de 39
escolas, das quais nove estiveram no Auditório do Dr. Stanley Ho para os
receber.
O
cônsul-geral de Portugal na RAEM, Paulo Cunha Alves, disse, em declarações ao
Jornal Tribuna de Macau, que “Macau tem todas as potencialidades para ser, no
futuro, uma plataforma para o ensino da língua portuguesa no Oriente – não só
na China, mas no Oriente no seu todo”. Paulo Cunha Alves destacou a acção
“louvável” do IPOR que chega à China Continental, mas também a locais como
Vietname ou Austrália – uma acção de “multiplicação dos focos” de ensino do
Português que é “importante continuar”.
“Mas,
o papel que, no meu entender, Macau desempenhar no futuro é esse, de uma placa
giratória, de um centro internacional asiático para a língua portuguesa. Tem as
infra-estruturas, tem universidades boas, tem quadros, e é preciso continuar a
formar quadros, docentes, neste caso, para que os meios à disposição aumentem e
para que a procura eventual [pela língua] possa ser correspondida”, prosseguiu.
Sublinhando
que é preciso contar com “vontade política” do Executivo da RAEM e dos Governo
português e da República Popular da China (RPC) para que o desenvolvimento da
língua portuguesa no território se continue a trilhar, Paulo Cunha Alves
apontou que é também “preciso continuar a sensibilizar as pessoas para o
interesse e valor da língua”.
“Não
basta dizer que é preciso arranjar mais pessoas que falem e dominem o
português, isso não chega. Tem de se dizer às pessoas porque é que é
importante. Num mundo onde 265 milhões de pessoas falam língua portuguesa como
língua mãe, onde essa língua é falada em cinco continentes e é a mais falada no
hemisfério sul, obviamente que isso trará interesse aos mais jovens sobretudo
aqui em Macau porque ouvem falar muito do Português”, acrescentou.
Embora
muitos chineses não dominem ainda a língua de Camões, Paulo Cunha Alves frisou
que “certamente terão interesse em conhecer”, sobretudo da mais-valia que pode
ser em termos de negócios e investimentos. “As empresas de Macau precisam de
ter gente que fale português que depois possam enviar para Angola, Moçambique,
Brasil para fazer negócios”, defendeu.
Paulo
Cunha Alves sublinhou ainda que é devido aos contributos dos Governos da RAEM,
de Portugal e da RPC que em Macau se consegue fazer o que se faz: “continuar a
preservar e desenvolver a língua portuguesa”.
“O
número de estudantes tem aumentado, nota-se uma procura cada vez maior dos
cursos de interpretação, por exemplo, chinês-português e português-chinês. Se
isso é suficiente? Não, não é. É preciso fazer mais, é preciso continuar a
desenvolver. É preciso sobretudo dar alento e bases ao desejo mostrado pela RPC
de fazer de Macau uma plataforma de ligação entre o seu país, a China, e os
países de língua portuguesa”, observou.
Paulo
Cunha Alves frisou que o principal domínio é o papel que Macau tem como
plataforma comercial, mas há outras vertentes, ligadas, por exemplo, ao turismo
ou intercâmbios académicos.
Durante
a sessão de entrega dos livros, o director do IPOR, Joaquim Coelho Ramos
salientou que “como língua global e pluricêntrica, o Português é expressão de
várias culturas e vários povos”, sendo utilizada nas relações internacionais,
negócios, mas também na criação e nos estudos de milhões de pessoas.
“Nesta
RAE, nota-se um investimento importante no ensino da língua de Lobo Antunes, de
Pepetela, de Paulina Chiziane, Olinda Beja, Milton Hatoum, de Jorge Carlos
Fonseca, de Odete Semedo ou Luís Cardoso de Noronha, mas também de Senna
Fernandes, Carlos Morais José, Shee Va, Yao Ji Ming ou Cecília Jorge. Nesta
diversidade, recordamos a partida recente de Onésimo Silveira, mas também o
nascimento do dicionário de português de Moçambique, reforçando a riqueza desta
língua que nos recebe e a dinâmica constante que ela promove. Língua de
afectos, de pesares, de entusiasmo e de ciência, de memória e de futuro”, disse
durante o seu discurso.
A
entrega dos livros às escolas, disse, tem como objectivo contribuir para o
desenvolvimento da leitura por parte dos alunos “cultivando o objecto único
como é o livro”. “Em tempos de pandemia e de limitação de movimentos, ler é
também um bilhete de embarque em viagens surpreendentes: novos mundos, novas
gentes, novas paisagens que estão ao virar de cada página”, apontou.
Entre
os livros que foram entregues às instituições de ensino encontram-se, por
exemplo, “A menina do mar” e “A fada Oriana”, de Sophia de Mello Breyner, “A
viagem do elefante”, uma adaptação para crianças da obra de José Saramago ou
“Os olhos de Ana Marta”, de Alice Vieira. Catarina Pereira – Macau in Jornal
Tribuna de Macau”
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