Local abalado por escassez de água, desmatamento, erosão e deslizamentos está a recuperar a sua capacidade produtiva por meio de um novo sistema de irrigação e técnicas agroflorestais introduzidos pelo PNUD, os resultados incluem redução da subnutrição em aproximadamente 12%, beneficiando mais de 119 crianças
As
terras férteis da aldeia Bahadatu em Timor-Leste sofreram um duplo impacto nas
últimas décadas: a escassez de água causada pela alteração climática e os
deslizamentos de terra como efeito de práticas agrícolas que assolaram a mata.
Ambos
os eventos abalaram as fontes de irrigação, fazendo com que o local
historicamente abundante mergulhasse na pobreza. Os campos que antes eram
viçosos e verdes tornaram-se estéreis e muitas colheitas falharam. Os
rendimentos das famílias diminuíram quase 40%.
Envolvimento da comunidade
A
aldeia, localizada no suco (distrito) de Fatulia, ganhou uma nova vida com um
projeto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, que aliou a
reconstrução do sistema de irrigação com técnicas agroflorestais nas encostas
para proteger a fonte de água dos impactos de deslizamentos.
Ao
visitar o local, a ONU News percebeu que a principal razão para o sucesso desta
restauração não foram os 415 metros de alvenaria do canal de irrigação nem os
1,5 mil metros quadrados de paisagem recuperada. Foi o envolvimento da
comunidade que plantou novas árvores e maneja a irrigação todos os dias com as
próprias mãos.
Eles
contam com brilho nos olhos sobre as técnicas de plantio que aplicaram e
mostram com empolgação o caminho que a água percorre quando é aberta a comporta
construída para regular a irrigação dos campos de cultivo.
De
acordo com o chefe do Suco Fatulia, Angelino Moisés Pereira, antigamente a
comunidade só conseguia plantar arroz uma vez por ano, hoje, eles semeiam duas
vezes.
Melhoria da segurança alimentar
Segundo
o PNUD, houve um aumento entre 10 e 15% no rendimento das culturas, resultando num
volume adicional de 300 a 450 quilos de arroz por hectare. Isso melhorou
diretamente a segurança alimentar de 918 moradores e reduziu a subnutrição em
aproximadamente 12%, beneficiando mais de 119 crianças.
O
projeto, apoiado pelo Fundo Verde do Clima e iniciado em maio de 2023, já
garantiu o plantio de 14.665
árvores, incluindo 1334 espécies frutíferas. Com isso, a comunidade irá beneficiar
no futuro de uma variedade maior de alimentos.
O
agricultor Américo Ximenes Pereira relatou o seu envolvimento dizendo que
plantou até agora com sucesso 1,8 mil árvores polivalentes, incluindo rambutan,
mogno e laranjeiras.
Disse
estar otimista de que dentro de cinco anos estas árvores produzirão uma
“colheita substancial”, permitindo-o “vender os frutos no mercado e, assim,
melhorar a situação económica” da sua família.
Empoderamento económico das mulheres
O
agricultor Câncio Pereira dos Reis, disse que com a orientação recebida da ONG
Raebia, parceira do PNUD, todos aprenderam como plantar de forma eficaz para
garantir a sobrevivência das árvores.
Sobre
o sistema de irrigação, ressaltou que todos partilham a responsabilidade
garantindo que cada campo de arroz receba a quantidade adequada de água.
A
chefe da aldeia Bahadatu, Edviges da Costa Gusmão, disse que as mulheres estão plenamente
envolvidas em diversas tarefas físicas, tais como plantar árvores, cultivar
campos de arroz e estabelecer viveiros de peixes e criadouros.
Segundo
ela “estas atividades não só capacitam as mulheres, mas também lhes
proporcionam incentivos económicos”.
Necessidade de reabilitação das estradas
No
entanto, a líder da aldeia disse que o grande desafio agora é a estrada que
conecta os campos com os mercados. As más condições significam que durante a
estação chuvosa, não é possível transitar pelo caminho.
Edviges
pediu que o PNUD e o governo continuem os esforços de reabilitação para
garantir que a comunidade possa “aceder à estrada à medida que a estação das
chuvas se aproxima”.
Mateus
Soares Maia, representante da ONG Raebia explicou que o governo participou da
inauguração deste canal de irrigação e se comprometeu a inaugurar outro em
breve na região. O Ministério da Agricultura também forneceu três tratores
manuais para os agricultores da aldeia Bahadatu.
O
chefe do suco, Angelino Moisés Pereira, disse que até ao final deste ano, com
as duas fontes a operar, será possível abastecer de água toda a comunidade do
posto administrativo de Venilale.
Culinária Local
Ele
comentou que um benefício positivo do envolvimento comunitário é o aumento do
conhecimento entre os membros sobre técnicas eficazes de plantação. Isto fez
com que um maior número de indivíduos participasse ativamente no cultivo dos
campos de arroz.
Esse
alimento é preparado de diversas maneiras em Timor-Leste, sendo uma das mais
tradicionais a katupa, um bolinho de arroz cozido em leite de coco, temperado
com açafrão, alho e sal e enrolado em uma folha de coqueiro ou bambu.
A
aldeia Bahadatu, localizada em uma das muitas encostas montanhosas do país,
enfrenta dificuldades de acesso, problemas de infraestrutura e pobreza. Mas
nada disso diminui a força de vontade da sua gente, que sonha em melhorar de
vida por meio da agricultura, nem a hospitalidade com os visitantes, que são recebidos
com uma grande variedade de pratos locais como a katupa.
A
intervenção do PNUD para melhorar e proteger a irrigação dos campos de cultivo
e introduzir árvores frutíferas é, portanto, uma forma de alimentar os sonhos e
a identidade de um dos locais mais remotos, de um dos países mais longínquo do
mundo. Felipe de Carvalho – Timor-Leste ONU News
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