Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Macau - Sam Hou Fai confirmado como o próximo Chefe do Executivo da RAEM

Está confirmado: Sam Hou Fai vai liderar o sexto Governo da RAEM. Dos 400 membros da comissão eleitoral, 394 votaram no antigo presidente do Tribunal de Última Instância, fazendo dele o candidato que mais votos angariou em eleições ao cargo de Chefe do Executivo da região. Após a votação, Sam Hou Fai jurou fidelidade ao Governo Central e salientou que quer reforçar a ligação de Macau à comunidade internacional e à lusofonia, em particular


Sam Hou Fai foi ontem confirmado como o próximo Chefe do Executivo da RAEM. O antigo presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) era o único candidato e conseguiu 394 dos 400 votos possíveis dos membros da comissão eleitoral. A votação decorreu na manhã de ontem, no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Pelas 10h, os responsáveis da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE) deram início aos trabalhos, salientando que a comissão eleitoral – órgão de 400 membros que tem como responsabilidade eleger o líder do Governo da região em representação de toda a população de Macau – é “amplamente representativa” de toda a sociedade da região.

Fila a fila, os membros foram-se dirigindo às oito urnas colocadas na sala para exercerem o direito de voto. A votação terminou e, ao longo da meia hora seguinte, foram lidos os votos plasmados nos boletins, repetindo-se por 394 vezes o nome “Sam Hou Fai”. Pelo meio, houve ainda quatro votos em branco – houve ainda dois membros da comissão que estiveram ausentes. Isto significa que Sam Hou Fai conseguiu uma taxa de aprovação de 98,5% dos membros da comissão eleitoral.

Assim, Sam Hou Fai conseguiu mais dois votos favoráveis do que Ho Iat Seng nas eleições de 2019, o que se traduz em mais 0,5 pontos percentuais. Em 2014, Chui Sai On obteve 380 votos a favor, ou seja, 95% dos votos da comissão. No escrutínio anterior, em 2009, a comissão eleitoral era composta por 300 membros e Chui Sai On obteve 282 votos, o que dá uma percentagem de aprovação de 94%. Já em 2004, também com os 300 membros da comissão, Edmund Ho conseguiu 296 votos a favor, o que dá a mais alta taxa de aprovação das eleições para o cargo: 98,6%. Todas estas eleições tiveram apenas um candidato. Apenas a primeira eleição para Chefe do Executivo da RAEM, em 1999, teve dois candidatos: Edmund Ho (81,9% dos votos) e Stanley Au (17%).

“A maior honra para a minha vida”

Após a eleição, Sam Hou Fai foi ovacionado e depois proferiu um discurso. “É uma grande honra para mim e a maior honra para a minha vida”, afirmou o Chefe do Executivo indigitado.

Sam Hou Fai lembrou que, ao longo das duas últimas semanas de campanha, foram ouvidos responsáveis de 108 associações e instituições sobre o futuro desenvolvimento de Macau, foram também visitados bairros comunitários e auscultadas as opiniões de moradores, comerciantes, vendilhões e jovens, por exemplo. “Todo o encorajamento dos cidadãos ao longo do caminho deixou-me comovido e foi o vosso apoio caloroso que me deu grande força e confiança. Agradeço aos cidadãos pela confiança e o reconhecimento que depositaram em mim, o que me fez sentir uma grande responsabilidade”, afirmou o antigo presidente do TUI.

No discurso de vitória, Sam Hou Fai assegurou que vai “assumir com firmeza esta grande responsabilidade”, cumprindo “com fidelidade” as suas ideias de candidatura e o seu programa político, “tendo como objectivo máximo satisfazer as expectativas dos cidadãos por uma vida melhor, como orientação fundamental implementar o princípio ‘um país, dois sistemas’ de forma plena, correcta e firme, como princípio supremo defender a soberania, a segurança e os interesses do desenvolvimento do país”. A meta é, referiu, “acelerar a promoção da diversificação económica, e melhor integrar-se e servir a conjuntura do desenvolvimento nacional”.

Por outro lado, Sam comprometeu-se a “unir e liderar todos os sectores da sociedade e a população”, de forma a “melhor desempenhar o papel de orientação do Governo, mobilizar a iniciativa, o entusiasmo e a criatividade de todos, auscultar as opiniões da população, reunir a sabedoria e as forças da população, promover o desenvolvimento integral dos assuntos sociais, económicos, culturais e relacionados com a vida da população de Macau”.

“Em prol da população, de Macau e do país, e tomando como núcleo o Estado de Direito, irei continuar a defender a justiça e a imparcialidade sociais, a proteger a vontade da população, a elevar constantemente a capacidade de gestão pública e o nível de governação”, prometeu, sublinhando que o objectivo é “não defraudar as expectativas que os cidadãos depositam” em si.

Sam Hou Fai, que será o primeiro Chefe do Executivo da RAEM não nascido em Macau, frisou que trabalha e vive na região há 38 anos. “Desde que construí a minha família e até aos dias de hoje, em que três gerações vivem sob o mesmo tecto, o amor e apoio da minha família têm sido o meu respaldo mais forte”, destacou. “Dedico-me de corpo e alma a esta cidade e aos seus habitantes, sempre com gratidão e amor, sem desiludir os tempos modernos e a sociedade em que vivemos e sem defraudar a confiança dos cidadãos de Macau”, concluiu.

Integração na conjuntura nacional, laços com a lusofonia e directrizes de Pequim

Depois do discurso, houve ainda uma conferência de imprensa que durou 45 minutos e em que foram apenas permitidas seis questões por parte de jornalistas. Aqui, foi questionado o papel de Macau e a sua integração na conjuntura de desenvolvimento nacional. Na resposta, Sam Hou Fai começou por salientar que a RAEM “é parte inalienável da República Popular da China” e subordinada ao Governo Central”.

“O desenvolvimento de Macau partilha o mesmo destino do desenvolvimento do país. Nestes últimos 25 anos desde o retorno de Macau à pátria, Macau tem persistido na política ‘um país, dois sistemas’ com grande apoio da população e do país. O Governo da RAEM tem obtido resultados frutíferos no seu desenvolvimento ao persistir no princípio ‘um país, dois sistemas’, tem obtido confiança do Governo Central e no palco internacional, confirmando grande vitalidade desta política”, destacou o futuro líder da RAEM.

Sobre a estratégia de integração de Macau na conjuntura de desenvolvimento do país, Sam Hou Fai indicou que isso significaria maximizar as “vantagens singulares” de Macau. “O tempo tem vindo a mostrar que esta política é adequada para o desenvolvimento de Macau, é uma ordem constitucional e temos de aproveitar bem as nossas vantagens”, disse.

Por outro lado, Sam Hou Fai também disse que a RAEM tem de trabalhar para estabelecer uma melhor ligação com a comunidade internacional, em específico com a comunidade de língua portuguesa. Sam referiu que quer que o seu Governo promova mais a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa.

O próximo Chefe deixou claro que “Macau tem de seguir plenamente o princípio ‘um país, dois sistemas’, manter uma boa relação com o Governo Central e respeitar todas as suas directrizes, ao mesmo tempo que põe em prática o “alto grau de autonomia” que o princípio de Deng Xiaoping prevê.

Sam Hou Fai indicou que a sociedade espera que o seu Governo possa melhorar a vida da população em aspectos como a educação, a saúde, os transportes, medidas para os idosos e também para fazer face à baixa taxa de natalidade, por exemplo. O líder eleito assegurou que as opiniões que foram sendo recebidas ao longo das semanas de campanha serão compiladas e analisadas com a sua futura equipa governativa.

Outro dos assuntos que Sam Hou Fai promete analisar melhor é o da economia nos bairros comunitários, nomeadamente a quebra de negócio das pequenas e médias empresas. Explicando que actualmente vive-se um momento de mudança no consumo, após a pandemia, Sam apontou que o seu Governo “irá estudar, em conjunto com o sector comerciais e através das associações e com comerciantes dos bairros antigos, como é que se pode melhorar o ambiente de negócios”. “As pequenas e médias empresas enfrentam problemas de longo prazo. Espero que possamos encontrar fórmula duradoura e saudável”, disse.

Sam respondeu também a uma pergunta de um membro de um órgão de comunicação social do interior da China em mandarim para agradecer o apoio prestado pelas autoridades do Continente: “É muito importante o apoio do país”.

Sam Hou Fai irá tomar posse no dia 20 de Dezembro, dia do 25.º aniversário do estabelecimento da RAEM. Ho Iat Seng, recorde-se, anunciou que não se iria candidatar a um segundo mandato devido a problemas de saúde – esta é a primeira vez na história da RAEM que um Chefe do Executivo não governa dois mandatos. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”




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