Está confirmado: Sam Hou Fai vai liderar o sexto Governo da RAEM. Dos 400 membros da comissão eleitoral, 394 votaram no antigo presidente do Tribunal de Última Instância, fazendo dele o candidato que mais votos angariou em eleições ao cargo de Chefe do Executivo da região. Após a votação, Sam Hou Fai jurou fidelidade ao Governo Central e salientou que quer reforçar a ligação de Macau à comunidade internacional e à lusofonia, em particular
Sam
Hou Fai foi ontem confirmado como o próximo Chefe do Executivo da RAEM. O
antigo presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) era o único candidato e
conseguiu 394 dos 400 votos possíveis dos membros da comissão eleitoral. A
votação decorreu na manhã de ontem, no Complexo da Plataforma de Serviços para
a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Pelas
10h, os responsáveis da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo
(CAECE) deram início aos trabalhos, salientando que a comissão eleitoral –
órgão de 400 membros que tem como responsabilidade eleger o líder do Governo da
região em representação de toda a população de Macau – é “amplamente
representativa” de toda a sociedade da região.
Fila
a fila, os membros foram-se dirigindo às oito urnas colocadas na sala para
exercerem o direito de voto. A votação terminou e, ao longo da meia hora
seguinte, foram lidos os votos plasmados nos boletins, repetindo-se por 394
vezes o nome “Sam Hou Fai”. Pelo meio, houve ainda quatro votos em branco –
houve ainda dois membros da comissão que estiveram ausentes. Isto significa que
Sam Hou Fai conseguiu uma taxa de aprovação de 98,5% dos membros da comissão
eleitoral.
Assim,
Sam Hou Fai conseguiu mais dois votos favoráveis do que Ho Iat Seng nas
eleições de 2019, o que se traduz em mais 0,5 pontos percentuais. Em 2014, Chui
Sai On obteve 380 votos a favor, ou seja, 95% dos votos da comissão. No
escrutínio anterior, em 2009, a comissão eleitoral era composta por 300 membros
e Chui Sai On obteve 282 votos, o que dá uma percentagem de aprovação de 94%.
Já em 2004, também com os 300 membros da comissão, Edmund Ho conseguiu 296
votos a favor, o que dá a mais alta taxa de aprovação das eleições para o
cargo: 98,6%. Todas estas eleições tiveram apenas um candidato. Apenas a
primeira eleição para Chefe do Executivo da RAEM, em 1999, teve dois
candidatos: Edmund Ho (81,9% dos votos) e Stanley Au (17%).
“A maior honra para a minha vida”
Após
a eleição, Sam Hou Fai foi ovacionado e depois proferiu um discurso. “É uma
grande honra para mim e a maior honra para a minha vida”, afirmou o Chefe do
Executivo indigitado.
Sam
Hou Fai lembrou que, ao longo das duas últimas semanas de campanha, foram
ouvidos responsáveis de 108 associações e instituições sobre o futuro
desenvolvimento de Macau, foram também visitados bairros comunitários e
auscultadas as opiniões de moradores, comerciantes, vendilhões e jovens, por
exemplo. “Todo o encorajamento dos cidadãos ao longo do caminho deixou-me
comovido e foi o vosso apoio caloroso que me deu grande força e confiança.
Agradeço aos cidadãos pela confiança e o reconhecimento que depositaram em mim,
o que me fez sentir uma grande responsabilidade”, afirmou o antigo presidente
do TUI.
No
discurso de vitória, Sam Hou Fai assegurou que vai “assumir com firmeza esta
grande responsabilidade”, cumprindo “com fidelidade” as suas ideias de
candidatura e o seu programa político, “tendo como objectivo máximo satisfazer
as expectativas dos cidadãos por uma vida melhor, como orientação fundamental
implementar o princípio ‘um país, dois sistemas’ de forma plena, correcta e
firme, como princípio supremo defender a soberania, a segurança e os interesses
do desenvolvimento do país”. A meta é, referiu, “acelerar a promoção da
diversificação económica, e melhor integrar-se e servir a conjuntura do
desenvolvimento nacional”.
Por
outro lado, Sam comprometeu-se a “unir e liderar todos os sectores da sociedade
e a população”, de forma a “melhor desempenhar o papel de orientação do
Governo, mobilizar a iniciativa, o entusiasmo e a criatividade de todos,
auscultar as opiniões da população, reunir a sabedoria e as forças da
população, promover o desenvolvimento integral dos assuntos sociais,
económicos, culturais e relacionados com a vida da população de Macau”.
“Em
prol da população, de Macau e do país, e tomando como núcleo o Estado de
Direito, irei continuar a defender a justiça e a imparcialidade sociais, a
proteger a vontade da população, a elevar constantemente a capacidade de gestão
pública e o nível de governação”, prometeu, sublinhando que o objectivo é “não
defraudar as expectativas que os cidadãos depositam” em si.
Sam
Hou Fai, que será o primeiro Chefe do Executivo da RAEM não nascido em Macau,
frisou que trabalha e vive na região há 38 anos. “Desde que construí a minha
família e até aos dias de hoje, em que três gerações vivem sob o mesmo tecto, o
amor e apoio da minha família têm sido o meu respaldo mais forte”, destacou.
“Dedico-me de corpo e alma a esta cidade e aos seus habitantes, sempre com
gratidão e amor, sem desiludir os tempos modernos e a sociedade em que vivemos
e sem defraudar a confiança dos cidadãos de Macau”, concluiu.
Integração na conjuntura nacional, laços com a lusofonia
e directrizes de Pequim
Depois
do discurso, houve ainda uma conferência de imprensa que durou 45 minutos e em
que foram apenas permitidas seis questões por parte de jornalistas. Aqui, foi
questionado o papel de Macau e a sua integração na conjuntura de
desenvolvimento nacional. Na resposta, Sam Hou Fai começou por salientar que a
RAEM “é parte inalienável da República Popular da China” e subordinada ao
Governo Central”.
“O
desenvolvimento de Macau partilha o mesmo destino do desenvolvimento do país.
Nestes últimos 25 anos desde o retorno de Macau à pátria, Macau tem persistido
na política ‘um país, dois sistemas’ com grande apoio da população e do país. O
Governo da RAEM tem obtido resultados frutíferos no seu desenvolvimento ao
persistir no princípio ‘um país, dois sistemas’, tem obtido confiança do
Governo Central e no palco internacional, confirmando grande vitalidade desta
política”, destacou o futuro líder da RAEM.
Sobre
a estratégia de integração de Macau na conjuntura de desenvolvimento do país,
Sam Hou Fai indicou que isso significaria maximizar as “vantagens singulares”
de Macau. “O tempo tem vindo a mostrar que esta política é adequada para o
desenvolvimento de Macau, é uma ordem constitucional e temos de aproveitar bem
as nossas vantagens”, disse.
Por
outro lado, Sam Hou Fai também disse que a RAEM tem de trabalhar para
estabelecer uma melhor ligação com a comunidade internacional, em específico
com a comunidade de língua portuguesa. Sam referiu que quer que o seu Governo
promova mais a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa.
O
próximo Chefe deixou claro que “Macau tem de seguir plenamente o princípio ‘um
país, dois sistemas’, manter uma boa relação com o Governo Central e respeitar
todas as suas directrizes, ao mesmo tempo que põe em prática o “alto grau de
autonomia” que o princípio de Deng Xiaoping prevê.
Sam
Hou Fai indicou que a sociedade espera que o seu Governo possa melhorar a vida
da população em aspectos como a educação, a saúde, os transportes, medidas para
os idosos e também para fazer face à baixa taxa de natalidade, por exemplo. O
líder eleito assegurou que as opiniões que foram sendo recebidas ao longo das
semanas de campanha serão compiladas e analisadas com a sua futura equipa
governativa.
Outro
dos assuntos que Sam Hou Fai promete analisar melhor é o da economia nos
bairros comunitários, nomeadamente a quebra de negócio das pequenas e médias
empresas. Explicando que actualmente vive-se um momento de mudança no consumo,
após a pandemia, Sam apontou que o seu Governo “irá estudar, em conjunto com o
sector comerciais e através das associações e com comerciantes dos bairros
antigos, como é que se pode melhorar o ambiente de negócios”. “As pequenas e
médias empresas enfrentam problemas de longo prazo. Espero que possamos
encontrar fórmula duradoura e saudável”, disse.
Sam
respondeu também a uma pergunta de um membro de um órgão de comunicação social
do interior da China em mandarim para agradecer o apoio prestado pelas
autoridades do Continente: “É muito importante o apoio do país”.
Sam
Hou Fai irá tomar posse no dia 20 de Dezembro, dia do 25.º aniversário do
estabelecimento da RAEM. Ho Iat Seng, recorde-se, anunciou que não se iria
candidatar a um segundo mandato devido a problemas de saúde – esta é a primeira
vez na história da RAEM que um Chefe do Executivo não governa dois mandatos. André
Vinagre – Macau in “Ponto Final”
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