Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Macau - Mostra Gastronómica Sino-lusófona

Entre um super-alimento vindo de Angola e tradições nascidas em Timor-Leste, da resistência à ocupação indonésia, arranca na sexta-feira uma mostra que durante cinco dias vai promover em Macau a gastronomia lusófona.


“Uma super-comida do futuro”, foi como o ‘chef’ angolano Nário Tala descreveu o catato, numa apresentação à imprensa do menu da Mostra Gastronómica Lusófona, que vai decorrer na Doca dos Pescadores de Macau, até 22 de Outubro.

A surpresa fica reservada para a chegada do prato à mesa do Restaurante Vic’s, com o catato – um tipo de lagarta, típico da cozinha angolana – salteado com beringela, azeite, cebola e alho.

“É um alimento muito proteico, tem vitamina C, ferro, zinco, e podes encontrar com facilidade. Não engorda, é anticancerígeno, e pode ser feito de várias maneiras”, explicou Tala à Lusa.

As sementes de linhaça, cânhamo e chia, a maca, a espirulina, o açaí e as bagas goji são alguns dos chamados super-alimentos, caracterizados por uma elevada concentração de nutrientes como vitaminas, ómega 3 e proteínas.

O catato “é um alimento comum, faz parte da cultura, principalmente na parte do norte de Angola”, mas Nala admitiu que ainda “há uma resistência” a comer esta lagarta da palmeira-de-dendé. “Como tudo na vida, há de se ter um princípio”, defendeu o ‘chef’. “Em Angola há boas equipas a fazerem estudos do que são os nossos alimentos”, acrescentou.

Em Fevereiro de 2023, o ‘chef’ angolano Hel Araújo lançou o projecto Ovina Yetu (‘o nosso produto/a minha coisa’, na língua Umbundu), para recolher de forma exaustiva informações sobre mais de mil produtos nativos, incluindo o catato.

Depois de demonstrar “quais são os benefícios que tem para o corpo humano”, Nário Tala acredita que o catato vai encontrar um público entre as pessoas que procuram na alimentação “sustentabilidade e prevenção de saúde”.

O ‘chef’ sublinhou que a lagarta “não precisa de ser cultivada” e que o seu consumo até pode encorajar a população a plantar mais palmeiras. “Acabamos por consumir o que a palmeira nos oferece, mas sem destruí-la”, explicou Tala.


A importância da sustentabilidade foi também sublinhada por Maria das Dores, que saiu pela primeira vez da ilha de Príncipe para apresentar em Macau um ‘abobó’, com feijão, farinha de mandioca e peixe grelhado.

“Nós usamos aquilo que é nosso. Por isso, o que é nosso é bom e também fica mais barato”, disse à Lusa a ‘chef’ santomense.

Para a timorense Delfina Maria Baptista Guterres, usar ingredientes autóctones como o milho e a batata doce é também uma forma de preservar tradições de Timor-Leste.

“O milho em pó, por exemplo, depois de frito, dura meses e essa era a comida que a gente levava quando vivíamos no mato, por vezes até anos, durante a ocupação, quando o inimigo vinha atacar”, recordou a ‘chef’ timorense.

A Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) levou a cabo uma resistência armada nas matas timorenses durante décadas, após a invasão por parte da Indonésia, em 07 de Dezembro de 1975.

“Mas essa malta nova já não faz muito disso, querem coisas mais instantâneas”, lamentou Guterres.

A Mostra Gastronómica Lusófona inclui ainda Martinho Moniz, um ‘chef’ português radicado em Macau, e a macaense Ana Manhão.

Ana Manhão disse que, mais do uma ‘chef’, se identifica como uma defensora das “tradições culinárias” dos macaenses.

Os cinco ‘chefs’ irão também dar workshops de culinária, no âmbito da 16ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”




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