Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

“Macau tem uma grande possibilidade de se afirmar como centro de ensino de português na Ásia”

Macau tem “as infraestruturas, os profissionais e a vontade” para se afirmar como um centro de ensino português, não só na China, mas na Ásia, diz a atual coordenadora do Departamento de Línguas e Cultura da Universidade de São José, Tânia Ribeiro Marques. A eleição de um novo Chefe do Executivo que fala português e que tem uma abordagem “simpática e respeitadora” para com a comunidade promete também uma aposta continuada no desenvolvimento da língua na RAEM


– O uso da língua portuguesa em Macau é satisfatório?

Tânia Marques – Acho que isto passa, principalmente, pelos falantes; além do trabalho do Governo, que tem aqui um papel preponderante. Acabamos de eleger um novo Chefe do Executivo, que fala português e que teve algumas abordagens bastante simpáticas e respeitadoras do ponto de vista da língua portuguesa, nomeadamente com uma das instituições de matriz portuguesa aqui em Macau. Teremos de aguardar quais serão as políticas que este novo Executivo vai também pôr em prática e as suas ações. Como pode ser mais e melhor? Depende se estamos a falar da própria cidade em si, ou se estamos a falar de profissionais do português. No caso dos profissionais do português, acho que podemos continuar a fazer formações. Talvez, da mesma forma que os professores fazem a formação ao longo da vida, na tradução ou na interpretação, seja necessário fazer um ‘refreshment’ ocasionalmente. Talvez ter alguns programas de imersão, com uma determinada periodicidade.

– Como vê o atual nível português nos serviços públicos?

T.M. – Acho que muitas vezes nos próprios serviços, existem mais recursos do que aqueles que estão imediatamente à vista. Houve uma situação que me chamou muita atenção, com um ex-aluno meu, num balcão de atendimento que me calhou. Quando olhei para as línguas que estavam disponíveis, o português não era uma delas. Perguntei porquê se ele é fluente em português, e respondeu-me que se disser que fala português, todas as pessoas que falam português vão ser encaminhadas para o balcão dele. Portanto, creio que existem mais recursos do que aqueles que às vezes nos dão a parecer, o que não significa que não precisem de ser reforçados e não precisem de ter esta formação ou este interesse em continuar a aprofundar os conhecimentos de língua ao longo do tempo.

– Que tipo de apoios pode o Governo de Macau oferecer ao ensino da língua à tradução?

T.M. – O Governo tem estado a trabalhar e tem havido algumas ações concretas para o ensino de língua portuguesa nas escolas. Sei que continua a dar incentivos e a criar oficinas para crianças, nos mais variados níveis. Do ponto de vista das universidades, estamos a trabalhar ainda com a Aliança para Formação de Quadros Bilingues Qualificados nas Línguas Chinesa e Portuguesa – da qual fazem parte cinco das instituições de ensino superior locais – e na preparação, justamente, da terceira edição do Fórum de Reitores das Instituições de Ensino Superior da China e dos PLP, que vai acontecer no final do mês. Isto é organizado pelo Governo, em parceria com as universidades.

– O discurso oficial continua a apoiar o ensino português e o uso do português. Isso realmente mostra que Macau tem potencial para ser a base do ensino na China?

T.M. – Creio que sim, porque temos as infraestruturas, os profissionais, e temos a vontade. Institucionalmente existem os recursos e os meios. Acho que, havendo também a um nível superior esse interesse, Macau tem uma grande possibilidade de se afirmar como centro de ensino de português na Ásia.

– Desde que começou o seu trabalho na USJ, em 2022, o que conseguiu implementar? Quais são os planos de futuro?

T.M. – Quando tomei posse, aquilo que era mais premente era fazer a revisão dos programas de licenciatura. Já submetemos o programa de tradução e foi aprovado. O passo seguinte é passar para o que ainda não temos, que é a acreditação do programa pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Estamos a trabalhar nisso agora e em princípio o pedido será submetido até ao final do ano. É uma avaliação muito completa sobre questões pedagógicas, o currículo, e as condições em que as aulas têm lugar.

– Como vê o interesse atual nas áreas do português e da tradução português-chinês?

T.M. – Os nossos cursos de português tinham registado um crescimento consistente até chegar ao período do Covid, que estragou não só os nossos planos, mas, possivelmente, também os de outras instituições. Depois de uma descida brusca, crescemos novamente de forma consistente. Neste momento temos cerca de 40 alunos para a licenciatura. A maioria dos nossos alunos são residentes de Macau, mas começamos a sentir algum interesse de Hong Kong.

– A dificuldade em ter alunos do interior da China obriga a USJ a ter uma abordagem mais internacional?

T.M. – Temos um ambiente bastante internacional. Um dos trabalhos que tentamos fazer é justamente pôr os nossos alunos dos PLP a fazer intercâmbio com os nossos alunos da licenciatura e com outros falantes de língua portuguesa, que não sejam apenas o português europeu ou o português do Brasil. Haver esta ligação entre alunos não só de outras nacionalidades e culturas, mas também que possam pôr em prática o seu português com pessoas de outras nacionalidades, permite uma troca cultural e um intercâmbio muito interessante. Nelson Moura – Macau in “Plataforma”


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