A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados defendeu que Portugal deveria “juntar-se à África do Sul” no processo contra Israel, que acusa o executivo de Telavive de genocídio na Faixa de Gaza
No
encerramento de uma audição pública na Assembleia da República, Francesca
Albanese defendeu que Portugal, “devido ao seu passado colonial”, deve
juntar-se à África do Sul para fazer avançar o processo apresentado, no final
do ano passado, no Tribunal Internacional de Justiça contra Israel por violação
da Convenção Sobre Genocídio.
Albanese
pediu que não se aproveite a integração de Portugal na União Europeia para
evitar tomar posições sobre as ações movidas contra Israel, no contexto do
conflito no Médio Oriente.
“Não
deixemos que os burocratas tenham a oportunidade de utilizar o direito europeu
e as instituições europeias para não assumirem responsabilidades. O direito
internacional sobrepõe-se ao direito europeu. Não utilizem o consenso europeu
para não assumirem responsabilidades. Isso é cobardia”, defendeu.
Albanese
pediu também que fosse feita, pelo Governo português, uma auditoria de todas as
relações com Israel a nível diplomático, político, económico, militar e
estratégico, de modo que os portugueses “saibam qual é o compromisso que o país
tem com um Estado que é um ocupante ilegal”.
Referindo-se
ao atentado perpetrado pelo Hamas a 07 de outubro de 2023, a relatora da ONU
defendeu que este deve ser “investigado e processado”, mas ressalvou que “um
ato ilegal de resistência” não retira legitimidade à causa palestiniana.
A
relatora da ONU sugeriu, tal como tem feito noutros países, que os deputados
portugueses tentem visitar a Palestina, de modo a sublinhar a necessidade de
“forçar os portões desse gueto e prisão a céu aberto”.
Francesca
Albanese disse sentir-se na audição no parlamento português – no qual só
estiveram presentes partidos de esquerda – “entre amigos”, o que, acrescentou,
“não é um sentimento comum quando conhece instituições”.
A
relatora pediu ainda que fosse mudado o “enquadramento” com que os países
ocidentais se referem à questão israelo-palestiniana, afirmando que não deve
ser referido como um conflito por dar “a sensação de uma falsa equivalência”.
“Os
palestinianos são sobreviventes da Nakba e devem ser reconhecidos como tal, e
não há equivalência entre um ocupante ilegal e o ocupado, um colonizador e o
colonizado”, explicou.
Francesca
Albanese reconheceu ainda que, na Europa, pode haver alguma dificuldade em
reconhecer o que é um genocídio, mas que as “pessoas que vêm de um passado
colonial sabem o que é” e por isso devem ser ouvidos nesta matéria.
“Uma
questão de compreender o que é o genocídio, a destruição de um povo enquanto
tal, como aconteceu com os povos coloniais ao longo de 500 anos de
colonialismo. Portanto, o que estou a tentar dizer aqui é que temos uma
oportunidade de fazer melhor, enquanto filhos e filhas, precisamos de corrigir
o legado do passado”, concluiu. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
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