Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Guiné Equatorial - Iniciativa Africana inaugura exposição de fotografia da Segunda Guerra Mundial na cidade de Malabo

A exposição, localizada na Casa Mayo, comemora o 80.º aniversário da vitória soviética sobre o nazismo e permanecerá aberta ao público por um mês


A agência African Initiative inaugurou uma exposição de fotografia dedicada à Segunda Guerra Mundial em 27 de setembro, em homenagem ao 80.º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazi.

A exposição, localizada no segundo andar da Casa de Maio em Malabo, capital da Guiné Equatorial, reúne uma seleção de imagens históricas que retratam momentos decisivos do conflito e do seu impacto na humanidade. Por meio dessas fotografias, a exposição procura preservar a memória histórica e oferecer ao público a oportunidade de refletir sobre um dos episódios mais decisivos do século XX.

A exposição ficará aberta ao público por um mês e é destinada à comunidade, investigadores, estudantes e mídia, com o objetivo de fomentar a memória coletiva e manter vivo o legado da história. Sinforosa Esodja – Guiné Equatorial in “Real Equatorial Guinea”




Moçambique - Novo EP de Paulina Chiziane mistura espiritualidade e memória africana

A escritora e artista moçambicana Paulina Chiziane acaba de lançar um novo EP intitulado Afro-Fado: O Regresso das Caravelas, uma obra musical que resgata memórias, ancestralidade e espiritualidade através da fusão entre o fado e sonoridades africanas.


Segundo Paulina, o fado tem raízes profundas no sofrimento africano, uma vez que chegou à Europa e ao Brasil pelos navios negreiros que transportavam escravos. “As caravelas portuguesas que invadiram a África vinham cheias de ganância, mas vazias de cantigas da alma. Regressaram cheias de escravos negros que, cantando, elevavam a sua oração ao transcendente”, explicou numa nota enviada à Moz Entretenimento.

Para a autora, cantar o afro-fado é uma forma de recuperar a alma negra espalhada pelo mundo durante séculos de colonização e escravidão

Composto por 3 faixas produzidas por N Records, o EP é apresentado como um acto de despertar de consciências, com cantos de louvor à Mãe África, descrita como “o sal que dá sabor à vida”, “o sol eterno que ilumina o mundo” e “a cidade edificada sobre o monte que nunca pode ser escondida”. Mais do que música, trata-se de um manifesto cultural e espiritual que celebra a identidade africana e denuncia as injustiças históricas sofridas pelo continente.

O Afro-Fado: O Regresso das Caravelas já está disponível online. In “Moz Entretenimento” - Moçambique


Moçambique - Paulino Tholle apresenta o seu livro de estreia “O Resgate de Memórias” na cidade de Chimoio

No próximo dia 3 de Outubro, pelas 16 horas, a Faculdade de Engenharia da Universidade Católica de Moçambique (UCM), na cidade de Chimoio, em Manica, vai acolher o lançamento do livro “O Resgate de Memórias”, da autoria de Paulino Tholle, na sua estreia literária. A apresentação do livro estará a cargo do académico Gudo Bai Maidjele.


De acordo com o comunicado de imprensa enviado à Moz Entretenimento, “O Resgate de Memórias” é uma colectânea de crónicas que recria, com realismo e sensibilidade, o quotidiano dos internatos estudantis moçambicanos, preservando fragmentos de uma memória colectiva e resgatando histórias que habitam entre o íntimo e o social, entre a disciplina rígida e os gestos de amizade, entre a dureza das regras e a ternura dos laços forjados no convívio diário.

Em nota de capa, o escritor Janato Janato escreve sobre o livro: “Através do resgate dos fragmentos históricos descobertos nas páginas desta obra, que se confunde com uma mini-autobiografia, Paulino Tholle, como um exímio narrador autodiegético, leva-nos numa viagem ao tempo e, na sua companhia e na de seus ex-colegas e professores, por um lado, ajuda-nos a conhecer uma parte de Moçambique, pela janela de Macossa, o estilo de vida e as vicissitudes dos nossos internatos estudantis, bem como a natureza do homem que se forja nestes centros de formação educacional e de carácter. Assim, como um bom costureiro, ao tecer estes fragmentos e torná-los num livro, o autor entende a importância da escrita e da preservação da história individual e colectiva.”

Sobre o autor e apresentador

Paulino Tholle nasceu a 1 de Janeiro de 1986, no distrito de Guro, província de Manica. Formou-se em Ensino de Química com habilitação em Ensino de Biologia pela então Universidade Pedagógica – Delegação de Manica, actual Universidade Púnguè. É poeta, cronista, jornalista e professor. Apresentou crónicas em programas radiofónicos, na Rádio Comunitária de Catandica, na Rádio Moçambique – Emissora Provincial de Manica e na Rádio Sirte. Foi vencedor do 2.º lugar do Prémio Jornalismo Município de Chimoio, na categoria de Televisão, edição 2025. Actualmente, lecciona na Escola Secundária Eusébio Lambo Gondiwa, em Vanduzi, e actua como Repórter da TTV em Manica.

Gudo Bai Armando Maidjelele é doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará e licenciado em Ensino de Filosofia pela Universidade Pedagógica. Actualmente, realiza pós-doutorado em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Brasília. É professor auxiliar na Faculdade de Geociências e Ambiente da Universidade Púnguè. In “Moz Entretenimento” - Moçambique


China - Envia 2000 trabalhadores para construir fábrica de baterias em Espanha

A gigante chinesa CATL vai enviar cerca de 2000 trabalhadores para Espanha para construir uma fábrica de baterias para automóveis avaliada em 4 mil milhões de euros, num projecto conjunto com a construtora automóvel Stellantis, informou o Financial Times


A unidade será erguida em Figueruelas, perto de Saragoça, ao lado de uma fábrica da Stellantis, que produz veículos Opel, Peugeot e Lancia. A CATL comprometeu-se a recrutar e formar cerca de 3000 trabalhadores espanhóis para operar a fábrica após a conclusão, prevista para o final de 2026, mas analistas e sindicatos alertam para a relutância da empresa em partilhar tecnologia e conhecimento.

Com sede em Ningde, no sudeste da China, a CATL é a maior fabricante mundial e fornecedora de soluções de baterias para veículos eléctricos.

O envio massivo de mão-de-obra recorda a estratégia chinesa em África, onde empresas do país construíram barragens, estradas e portos com contingentes de trabalhadores chineses. A escala do projecto em Espanha, contudo, é inédita em grandes economias europeias, refletindo a aposta de Pequim em consolidar dependências externas da sua indústria de ponta. “Não creio que os chineses queiram partilhar o conhecimento connosco”, disse José Juan Arceiz, dirigente sindical da UGT e membro do conselho europeu de trabalhadores da Stellantis, citado pelo jornal britânico.

Especialistas ouvidos pelo FT sublinham que Pequim procura transformar a China numa “fortaleza autossuficiente”, enquanto reforça a dependência do resto do mundo das suas cadeias produtivas, num contexto de competição geopolítica com os Estados Unidos.

No total, o país concentra 80% do fabrico mundial de baterias e é sede de marcas de veículos elétricos que estão a ameaçar o ‘status quo’ de um setor liderado há décadas pelas fabricantes europeias, norte-americanas e japonesas.

O projecto conta com 298 milhões de euros de fundos europeus e com apoio tanto do Governo socialista de Pedro Sánchez como do opositor Partido Popular. A vice-presidente regional de Aragão, Mar Vaquero (PP), afirmou que “é preciso normalizar o facto de a China, enquanto país altamente inovador e tecnológico, se instalar noutros países”. Já o partido de extrema-direita Vox considerou o investimento um “risco enorme”.

A aposta espanhola em tecnologia chinesa surge após o colapso, em março deste ano, da sueca Northvolt, que era apontada como a melhor esperança europeia para competir num setor dominado por fabricantes chineses.

Além da CATL, outras empresas da China estão a expandir presença na Europa: a AESC Envision prepara uma unidade em Espanha e a Gotion, em parceria com a Volkswagen, está a avançar com fábricas na Alemanha e em Valência.

A empresa chinesa China Aviation Lithium Battery (CALB) anunciou também um investimento de dois mil milhões de euros para construir uma fábrica de baterias em Sines, Portugal, que deverá ficar operacional em 2028. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Timor-Leste – Presidente da República promulga lei que revoga pensão vitalícia dos deputados

O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, promulgou a lei que revoga a pensão vitalícia dos deputados e ex-titulares dos órgãos de soberania, mas pediu ao Governo uma transição racional, justa e digna. “Ao promulgar esta lei, faço-o depois de profunda ponderação. Sei que ela afetará a vida de líderes e militantes da longa luta pela independência. Esta lei não retira os seus direitos como veteranos e direitos consagrados a uma reforma digna e justa”, afirmou José Ramos-Horta, numa declaração à imprensa após promulgar a lei.


Na declaração, o Presidente timorense recomendou ao Governo que na execução da lei “considere uma transição racional e justa, assegurando soluções dignas”. “O caminho da democracia é feito de escolhas difíceis. A grandeza de uma Nação mede-se não apenas pela coragem de reformar, mas também pela humanidade com que trata os seus cidadãos, incluindo aqueles que servem o Estado”, salientou o Presidente timorense.

O parlamento timorense aprovou na quinta-feira, na generalidade, um projeto de lei para revogar a pensão mensal vitalícia para deputados e ex-titulares de órgãos de soberania. O projecto de lei foi aprovado por 61 dos 65 deputados que compõem o parlamento nacional. A revogação da lei da pensão vitalícia foi feita no âmbito de um acordo estabelecido com os estudantes universitários, após três dias de intensos protestos, e que levou também ao cancelamento da compra de viaturas para deputados.

No âmbito do acordo, os deputados comprometeram-se também a rever a lei sobre a liberdade de reunião e manifestação e a assegurar o adequado financiamento para os setores produtivos no debate do próximo Orçamento do Estado, que terá início em Outubro. In “Ponto Final” - Macau


Japão - Médica centenária ainda exerce medicina sem intenção de se reformar

Uma mulher com mais de 100 anos da província de Wakayama, no Japão, continua a exercer medicina para apoiar a saúde dos residentes locais. A Dra. Teru Kasamatsu, médica no Hospital Kasamatsu, em Kainan, atende doentes externos três dias por semana, principalmente doentes comuns.


No hospital virado para a Baía de Wakayama, Kasamatsu vestia uma bata branca e conversava com os pacientes com um sorriso gentil enquanto verificava os seus registos médicos. “A sua tensão arterial está um pouco alta”, disse a um paciente. “Por favor, traga o seu livro de registo de medicamentos da próxima vez que vier”.

O hospital foi fundado em 1909, e Kasamatsu examina e trata os residentes como médica há quase 80 anos. A sua crença como médica é muito clara. “O melhor a fazer é ouvir o que o doente quer dizer”, disse.

Agora, o seu segundo filho, o Dr. Satoshi, de 68 anos, é o director do hospital, e a esposa, Drª Hitomi, de 61 anos, chefia o departamento de enfermagem. Kasamatsu tem uma grande confiança de ambos.

Satoshi disse: “Ela é óptima a criar uma atmosfera onde é fácil conversar. Os doentes confiam nela”.

A Dra. Kasamatsu nasceu em 1925 no local onde hoje se situa Kinokawa, na província de Wakayama, como a mais nova de cinco irmãos. Escolheu tornar-se médica porque a guerra se intensificou enquanto ainda frequentava o ensino secundário feminino. Ao ver muitas mulheres perderem os maridos na guerra, o pai recomendou-lhe que aprendesse a sustentar-se, contou Kasamatsu.

Estudou muito e tornou-se médica em 1948. Casou com Shigeru, um cirurgião ortopédico, aos 24 anos. Quando Shigeru assumiu o Hospital Kasamatsu do pai, ela começou a trabalhar na unidade hospitalar com o marido.

O casal geria o hospital em conjunto enquanto criavam três filhos. Ela disse que, por vezes, atendia 120 doentes por dia. Como o hospital costumava receber doentes de urgência, não era incomum que ficasse acordada toda a noite a atender cirurgias.

“Fazia de tudo, desde examinar os doentes até dispensar medicamentos e fazer a contabilidade”, recordou. Quando o hospital começou a aceitar mais doentes internados e precisava de uma cozinheira para fornecer refeições, decidiu fazê-lo sozinha e obteve uma licença de cozinheira quando tinha mais de 30 anos.

Apesar dos seus dias ocupados e agitados, continuou a trabalhar com energia, mesmo tendo sido hospitalizada para tratamento oncológico. O Dr. Kasamatsu refere que o segredo da sua longevidade e saúde está na sua dieta.

“Coma muitos vegetais, como espinafres, brócolos, couve e quiabos. Comer vegetais ajuda a manter os níveis de açúcar no sangue baixos, por isso é bom.”

Shigeru faleceu em 2012, aos 91 anos, e Kasamatsu vive actualmente sozinha na casa, que fica ao lado do hospital. Mesmo aos 100 anos, ainda anda sem bengala. Recebe apoio das pessoas que a rodeiam, no entanto, mantém-se saudável tanto física como mentalmente.

A sua rotina diária é resolver puzzles numéricos, o que, segundo a própria, é uma forma de prevenir a demência. Passa uma a duas horas por dia a resolvê-los para manter a mente activa.

O passatempo de Kasamatsu é o piano, que começou a tocar aos 70 anos, inspirada por Shigeru, que já tinha começado a aprender antes dela. Toca com habilidade enquanto trauteia peças como Moon River. Tem ainda aulas semanais e esforçou-se por dominar Für Elise, de Beethoven, chegando a apresentar-se num recital ao lado de jovens.

Também tenta actualizar os seus conhecimentos médicos lendo materiais de associações médicas sempre que tem tempo. Ela ainda não tem intenção de se reformar. “Não me estou a sentir mal”, garante. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”


Portugal - Startup da UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto angaria mais de 10 milhões para produzir barcos elétricos

A MobyFly está a desenvolver embarcações capazes de transportar centenas de passageiros, utilizando 80% menos energia que um barco a diesel


A MobyFly, uma startup incubada na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, angariou 10,8 milhões de euros (10,1 milhões de francos suíços), numa ronda de financiamento Série A, para acelerar a comercialização de barcos elétricos.

Fundada em 2020, na Suíça, por Sue Putallaz, Anders Bringdal e pelo português Ricardo Bencatel, antigo estudante da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), a MobyFly está a desenvolver embarcações elétricas de alta performance com uma tecnologia baseada em hidrofoils – estruturas em formato de asa, capazes de levantar um barco acima da água –, que conseguem transportar centenas de passageiros a velocidades superiores a 70 km/h. Estes barcos consomem até 80% menos energia do que as embarcações a diesel e permitem reduzir em cerca de 60% os custos operacionais, enquanto eliminam ondas, ruído e emissões poluentes.

Para Ricardo Bencatel, Chief Technology Officer (CTO) da spin-off U.Porto, o mais recente financiamento representa um marco decisivo: “Este investimento permitirá à MobyFly escalar as suas operações, expandir as capacidades de engenharia e I&D, acelerar a comercialização da sua tecnologia de hidrofoils com emissões zero e reforçar o compromisso com um transporte marítimo sustentável e rentável”, diz o alumnus da FEUP.

Os planos imediatos para o montante arrecadado passam por “industrializar e certificar a tecnologia, continuar a evoluir os sistemas de hidrofoil e impulsionar a entrada da empresa em novos mercados internacionais”, explica Bencatel.

A MobyFly traçou metas ambiciosas para os próximos dois anos: ainda em 2025, a empresa pretende lançar a produção da pré-série do modelo MBFY-S, capaz de transportar até 20 passageiros. Já em 2026, esperam concretizar o seu maior objetivo: “lançar o primeiro modelo de produção no verão e vender várias unidades destinadas ao transporte de passageiros até ao final do ano”, revela o cofundador português.

O investimento agora anunciado foi liderado pelo fundo Fonds Révolution Environnementale et Solidaire, financiado pelo dividendo social do Crédit Mutuel Alliance Fédérale e gerido pela Crédit Mutuel Impact, contando ainda com a participação de investidores privados e parceiros institucionais. Universidade do Porto - Portugal




Uma obra para ficar nos anais

Novo livro de Waldecy Tenório reúne personagens extraídos de grandes clássicos da literatura mundial  

                                                                                   

                                                           I

Uma obra que, segundo o seu autor, é fruto de um encontro de muitos livros, autores e personagens é com o que o leitor vai se deparar em De pulchro et apto: O Manuscrito Perdido de Santo AgostinhoA tese que virou romance (Curitiba, Artêra Editorial/Appris Editorial, 2025), do jornalista e professor Waldecy Tenório.

Publicado em primeira edição em 2019 pela Desconcertos Editora, de São Paulo, o livro, resultado de um projeto inicial para uma tese de livre-docência, foi totalmente reescrito e revisado, inclusive com alteração do título que ganhou as palavras De pulchro et apto, que querem dizer “o belo e o conveniente” e intitulariam o manuscrito desaparecido do teólogo e filósofo Aurélio Agostinho de Hipona (354-430), o Santo Agostinho, bispo de Hipona, cidade da província romana da África, considerado o inventor da autobiografia, cujas obras foram decisivas para o desenvolvimento do cristianismo em seus primeiros tempos.

Como o autor explica no texto de apresentação, a obra partiu da fascinação que ele sempre teve pela personagem La Maga, do romance Rayuela, do argentino Julio Cortázar (1914-1984), e por Ludmila, leitora-personagem de Se um viajante numa noite de inverno, do jornalista e escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Foi a partir do encontro com La Maga, através da leitura de Rayuela, que Tenório sentiu a necessidade de escrever a obra. E, para tanto, também foi decisiva a ajuda de Jules Maigret, o lendário comissário da Securité Française e personagem dos livros do escritor belga Georges Simenon (1903-1989), para descobrir a pista do manuscrito nas entrelinhas de Confissões, de Santo Agostinho, e de O nome da rosa, do escritor italiano Umberto Eco (1932-2016), obra lançada em 1980.

Mas, como observa o autor, este livro é resultado de muitas leituras e de seu fascínio por autores como Homero (928a.C-898a.C), Shakespeare (1564-1616), Dostoiévski (1821-1881), Edgar Allan Poe (1809-1849), James Joyce (1882-1941), Virginia Woolf (1882-1941), Milan Kundera (1929-2023), Rolland Barthes (1915-1980), Jorge Luis Borges (1899-1986), Clarice Lispector (1920-1977), João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e outros. Sem contar um personagem do filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen, e o gato que aparece na poesia de Stéphane Mallarmé (1842-1898) sempre associado à contemplação e à indolência e que está citado em determinado parágrafo.

Por aqui, já se vê que o autor se trata de um voraz e erudito leitor que procura passar para as páginas as sensações que teve ao conhecer tantos e tão finos mestres. Além dessa fascinação por autores clássicos da literatura mundial e brasileira que o tem tornado um pesquisador de mão-cheia, o que se destaca também na obra é o seu amplo conhecimento de temas ligados à teologia, a ciência que estuda Deus, as divindades e o sagrado, ainda que ele faça questão de se autodefinir, com ironia, como “um teólogo charlatão”.

 

                                                          II                 

Narrado em primeira pessoa, mas permeado por diálogos, O Manuscrito Perdido de Santo Agostinho pode ser definido como um monólogo interior livre, já que as personagens não seriam pessoas normais, saídas do dia a dia, mas inspiradas em protagonistas de livros atentamente lidos e relidos, ou seja, personagens de ficção. Se pode ser definido como monólogo interior, o que se deve concluir é que as observações e os diálogos não passam de fluxo de consciência, funcionando como um solilóquio, já que o protagonista parece falar consigo mesmo e com personagens tirados de obras ficcionais, vivendo muitas vidas através dos livros.

Isso não quer dizer que esteja ausente o “eu” do autor, embora este se posicione atrás do narrador que leva o nome de Gabriel Blue. Pelo contrário, o protagonista não deixa de homenagear um antigo colega de redação do jornal O Estado de S. Paulo, o jornalista e escritor Lourenço Dantas Mota, organizador de Introdução ao Brasilum banquete nos trópicos (São Paulo, Editora Senac, 1999) e de outras obras, filho de Dantas Motta (1913-1974), “o poeta de Aiuruoca”, amigo íntimo de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

Enfim, o autor também não deixa de agir como poeta ao voltar-se para dentro de si e do mundo psíquico erguido com suas infinitas leituras de grandes obras. Nesse caso, atua como o protagonista típico do romance lírico, em que “o narrador e a personagem se combinam para criar um “eu” no qual a experiência é moldada como imagens”, repetindo-se aqui o que o professor Massaud Moisés (1928-2018) observou a respeito do romance A Paixão Segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector, em A Criação LiteráriaProsa II (São Paulo, Editora Cultrix, 2015, pp. 49/50), ao citar frase do autor norte-americano (nascido na Alemanha) Ralph Freedman (1920-2016), extraída de The Lyrical Novel (Princeton, Princeton University Press, 1966, p. 31).

É o que se pode comprovar com a leitura deste parágrafo que marca a abertura do capítulo III, dedicado à Cidade-Luz:

“Em Paris, fomos ao encontro de Maigret, La Maga nos levou primeiro para um passeio pela parte da cidade que chama de “minha Paris mítica”, onde conheceu Cortázar. Pensei no Recife mítico de Manuel Bandeira, mas ela não me deixou pensar, queria entrar logo no clima de Rayuela, rever a Pont des Arts, onde ficava horas debruçada sobre o parapeito contemplando a água e pensando em se atirar no rio. Tão romântico morrer no Sena. Queria rever Montparnasse, passar em livrarias, tomar café no bar do Louvre, enfim andar “por uma Paris fabulosa deixando-se levar pelos signos da noite”, como fazia quando morava por lá”.

Em outro capítulo (todos sempre breves), Gabriel Blue, alter ego de Tenório, carrega La Maga, Ludmila e o comissário Maigret para conhecer Olinda, cidade em que o autor viveu sua mocidade, fazendo-os subir e descer suas ladeiras, olhar o mar e entrar no Mosteiro de São Bento e na Sé. Depois, conviveu com eles nos bares à beira-mar, entre copos de cerveja e aguardente, jogando conversa fora, sem deixar de falar de livros e mais livros, num diálogo muitas vezes interrompido pelo som dos trompetes e tambores do famoso Galo da Madrugada, bloco que ensaiava nas ruas para o carnaval que se aproximava.

  

                                                III

Em resumo, a ideia que permeia a obra é que haveria determinados livros tão inventivos que mereceriam ter continuidade, talvez para que se pudesse decifrar alguns enigmas ou mesmo conhecer os anos de senectude de personagens das quais só conhecemos os tempos de juventude. Nesta obra, o que move o autor ou o seu alter ego é saber que fim teria levado aquele manuscrito medieval que poderia ter sido confiscado por autoridades eclesiásticas ou permanecido escondido ou perdido em alguma biblioteca daquele tempo ou ainda roubado por traficantes ou mesmo destruído por algum incêndio ou por alguma alma enlouquecida.

Não se vai aqui contar o desfecho para que o leitor não perca o prazer de encontrá-lo, mas o que se pode adiantar é que a obra ratifica a ideia de que há livros que mereceriam uma continuação, ideia que está implícita no conto “Pierre Menard, autor do Quixote”, de Jorge Luis Borges, que consta do livro Ficções (1944), mas que foi originalmente publicado na revista argentina Sur, edição de maio de 1939.

 

           IV

Para Júlio Pimentel Pinto, professor livre-docente do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) e ex-colega de Tenório no corpo docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, o autor, “esse pequeno deus, merece mesmo elogios”, observando que “escrever um livro inteiro baseado em diálogos não é coisa de principiante”. Em linguagem coloquial, o professor dirige-se diretamente ao alter ego do autor e define a obra com perspicácia:

 “(...) Você amou e fez o que quis. Exasperou seus amigos e exasperou o leitor, que, poucas páginas adiante, estará imerso na leitura e, vá lá, até um tanto embriagado com o texto. Tudo isso apenas porque você não se conformou com o desaparecimento de um livro, nem com o desfecho do mais conhecido romance de Umberto Eco. Você, a princípio, mero e recente personagem, impôs-se a personagens muito mais conhecidos, impôs-se a seu autor, impôs-se como autor”.

Já no texto de uma das abas do livro, o jornalista e cientista social Faustino da Rocha Rodrigues, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), ressalta que, ao recorrer a tantos personagens livrescos, o autor lhes deu voz, permitindo que eles comentassem e refletissem sobre as obras das quais fazem parte. E conclui: “Antes de qualquer coisa, temos em nossas mãos nada mais nada menos do que literatura. É como trabalhar a ficção dentro da ficção. Uma literatura da literatura”.

Com essa definição, com certeza, o leitor não terá mais nenhuma razão para deixar de conhecer esta obra, que, com certeza, veio para ficar nos anais.

 

                                                 V

Waldecy Tenório (1933), nascido na cidade de Palmares, em Pernambuco, estudou Humanidades no Seminário de Olinda, graduou-se em Letras Clássicas e fez doutoramento em Filosofia na USP. Foi professor no Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião da PUC, de São Paulo, e assessor do educador, pedagogo e filósofo Paulo Freire (1921-1997), na Secretaria de Educação do município de São Paulo (1989-1991), à época da gestão da prefeita Luiza Erundina.

É autor também de A Bailadora Andaluza – a explosão do sagrado na poesia de João Cabral (1996), Escritores, gatos e teologia (2015), ambos publicados pela Ateliê Editorial, Amor do Herege: resposta às Confissões de Santo Agostinho (Paulinas, 1986) e João Alexandre Barbosa: o leitor insone (Edusp, 2007), em co-autoria com Plínio Martins Filho, editor e outro grande leitor de livros. Tem ensaios e resenhas publicados em revistas do Brasil e de Portugal.

Pesquisador e membro do conselho científico da revista da Associação Latino-Americana de Literatura e Teologia, foi pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP. Foi redator e editor de várias seções na redação de O Estado de S. Paulo e, mais tarde, editor-adjunto do suplemento Cultura deste jornal, além de colaborador da Abril Cultural e da revista Realidade e coordenador de projetos da Fundação Roberto Marinho. Adelto Gonçalves - Brasil

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De pulchro et apto: O Manuscrito Perdido de Santo Agostinho – A tese que virou romance, de Waldecy Tenório. Curitiba, Artêra Editorial/Appris Editorial, 176 páginas, R$ 49,00, 2025. Site: www.editoraappris.com.br

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Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´el-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, Letra Selvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. Escreveu prefácio para o livro Kenneth Maxwell on Global Trends (Londres, Robbin Lard, editor, 2024), lançado na Inglaterra. E-mail: marilizadelto@uol.com.br


domingo, 28 de setembro de 2025

Luxemburgo - Festival Atlântico: Celebração da lusofonia regressa à Philharmonie

De 2 a 11 de outubro de 2025, a Philharmonie do Luxemburgo acolhe o Festival Atlântico, um evento que celebra a diversidade e a riqueza cultural dos países lusófonos. Com uma programação variada que abrange concertos, workshops e experiências culturais, o festival promete ser um ponto de encontro para os amantes da música e da cultura lusófona

O Festival Atlântico destaca-se por reunir talentos de várias partes do mundo lusófono. A programação inclui tanto artistas consagrados que regressam à Philharmonie como novos talentos que apresentam suas obras pela primeira vez. Este evento é uma oportunidade única para experimentar a fusão de tradições musicais e a inovação contemporânea que caracteriza a lusofonia.

O festival começa com uma homenagem a Carlos Paredes no Centro Cultural Português, com entrada livre. Nos dias seguintes, a programação inclui atividades para todas as idades, como “Le coquillage d’or des mers” e “Martina’s Music Box”, que visam envolver o público jovem e familiar.

Entre os concertos mais esperados estão as atuações de Gisela João, conhecida por sua paixão e intensidade, Leo Middea, cuja música é uma verdadeira estrela instrumental, e a carismática Mayra Andrade, que encerra o festival no Grand Auditorium com “reEncanto”.

O festival também oferece experiências imersivas como “Mon premier Arraial”, que, sem palavras, permite que crianças entre 3 e 5 anos vivam a essência dos tradicionais arraiais portugueses. Além disso, atividades como a “Jam Session” e o “Your musical lunchbreak” são projetadas para energizar e envolver o público num ambiente descontraído e acolhedor. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo

“E na mata encontrei um coração”


 










“E na mata encontrei um coração”

 

O meu palpitava

Prenhe de saudades

Dores e alegrias.

 

Deixei cair da mão molhada

Um bouquet de flores

Sem nome nem aroma

Procurando cobrir de verde a espera.

 

Ninguém se deu conta

Nenhum palpitar nos corpos

Se fazia igual em sentido e cadência.

 

Ernesto Dabo – Guiné-Bissau

In Amor em folhas (Editorial Novembro)

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Ernesto Dabo - É uma lenda viva da cultura guineense. Referimo-nos simplesmente a “Nô garandi” (nosso mais velho) Ernesto Dabo. Nasceu na cidade de Bolama, no Sul da Guiné-Bissau. É Licenciado em Direito e Mestre em Direito Internacional. Poeta, escritor, músico, cronista, dramaturgo e fotógrafo. Ativista cultural e músico fundador das orquestras “Cobiana JAZZ” (primeira banda de música moderna da Guiné-Bissau) e “Djorson”, grupo com o qual gravou o primeiro disco da história sonora da Guiné-Bissau. Foi vocalista principal da banda “Os Náuticos”, da Armada Portuguesa, tendo sido precisamente com esse grupo que se tornaria, em 1971, no primeiro músico guineense a ser divulgado em Portugal, através da televisão pública (RTP). Ernesto Dabo é poliglota de sete línguas, colaborador e cronista de tantas e tão variadas revistas e jornais, e, sobretudo, reconhecido pioneiro da música moderna guineense. É autor da peça de teatro Também amam a liberdade, escrita para as celebrações do “Dom à terra”, promovidas pela União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos (UICN). Publicou os livros de poesia Mar Misto e Olonko em duas línguas: crioula e portuguesa. Mar Misto foi editado em Portugal em 2011 e apresentado em Montreal, Nova Iorque e Genève e tem merecido aplausos das comunidades guineenses na diáspora. Publicou em 2013 o ensaio intitulado PAIGC da maioria qualificada à crise qualificada, obra considerada incontornável para a compreensão das cíclicas crises que a Guiné-Bissau tem vivido desde 1980. Igualmente em 2013 lançou o CD Lembrança, considerado uma referência na música guineense. No domínio da fotografia, Ernesto Dabo é dos mais prestigiados fotógrafos guineenses, com registo em aplaudidas exposições no estrangeiro, nomeadamente em Portugal (sede da CPLP e na Câmara Municipal de Lisboa) e Brasil (S. Paulo). É membro de várias organizações socioculturais internacionais. Tem sido várias vezes homenageado dentro e fora da Guiné-Bissau. Ernesto Dabo é ainda um veterano “Combatente da Liberdade da Pátria”, honroso estatuto reservado apenas aos que participaram na luta de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Indira Pinto Monteiro (Jornalista da televisão da Guiné-Bissau: TGB) in “Wook”


Balada do país que dói


 









Vamos aprender português, cantando

 

Balada do país que dói

 

O barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o corpo cai

o corpo dói

 

português vai

português cai

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o país cai

o país dói

 

o tempo vai

o tempo dói

 

português cai

português vai

português sai

português dói

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o corpo cai

o corpo dói

 

português vai

português cai

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o país cai

o país dói

 

o tempo vai

o tempo dói

 

português cai

português vai

português sai

português dói

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o corpo cai

o corpo dói

 

português vai

português cai

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o país cai

o país dói

 

o tempo vai

o tempo dói

 

português cai

português vai

português sai

português dói

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o corpo cai

o corpo dói

 

português vai

português cai

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o país cai

o país dói

 

o tempo vai

o tempo dói

 

português cai

português vai

português sai

português dói

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o corpo cai

o corpo dói

 

português vai

português cai

 

o barco vai

o barco vem

 

português vai

português vem

 

o país cai

o país dói

 

o tempo vai

o tempo dói

 

português cai

português vai

português sai

português dói

 

Carminho – Portugal

Composição:

(Letra) Ana Hatherly – Portugal

(Música) Carminho - Portugal