O Brasil foi o primeiro país a acolher a independência angolana, confirmando as autoridades instaladas em Luanda como representantes de um novo Estado soberano. O anúncio imediato do reconhecimento brasileiro da independência de Angola, em 11 de novembro de 1975, constituiu gesto eloquente, de particular relevância política, que contribuiu naquela altura para legitimar a soberania do novo país e impedir a eficácia da reversão do processo de independência
Na
atmosfera internacional de rivalidades ideológicas e de Guerra Fria, quando
ainda estávamos longe, no Brasil, de recuperar a democracia, a decisão
brasileira não foi adotada sem controvérsia interna. Justamente por representar
uma ruptura em relação às expectativas ideológicas, a decisão foi tomada com
base na mais firme conclusão brasileira sobre a importância fundamental de
Angola, de seu futuro, e do relacionamento político que iniciámos então. Desde
esses dados, Brasil e Angola têm espaço ocupado privilegiado nas respectivas
diplomacias.
Relações
fraternais, derivadas de raízes comuns na formação nacional dos dois países,
foram elevadas, em 2010, ao nível de Parceria Estratégica bilateral. Neste
momento em que comemoramos os 50 anos do estabelecimento de relações
diplomáticas entre Luanda e Brasília, é sobre a base de um patrimônio conjunto
de laços históricos que avaliamos o equilíbrio positivo de uma atuação
bilateral intensa nas áreas de política e cooperação, de relacionamento
econômico e comercial, de coordenação em defesa e de trocas culturais e
humanas.
E
é sobre esta base que os dois países preparam, juntos, o caminho para os
próximos 50 anos - a conclusão de que a Parceria Estratégica Brasil-Angola será
cada vez mais próxima e cada vez mais dinâmica.
Meu
país comemorou, no dia 7 de setembro, 203 anos de vida independente. O Brasil é
hoje a décima economia do mundo e a maior economia da América Latina. Com um
território duas vezes maior do que o da União Europeia, o Brasil ocupa a metade
do território da América do Sul, contém a metade de sua população e responde
pela metade do produto interno bruto da região. Ao completar 203 anos de
autonomia política, o Brasil é reconhecido como grande potência exportadora de
alimentos e, ao mesmo tempo, como importante exportador mundial de produtos da
indústria aeroespacial (terceira maior fabricação global de aeronaves
comerciais), de veículos e de maquinaria em geral.
Rivalizando
com os Estados Unidos e a União Europeia, o Brasil é um dos três maiores
exportadores globais de produtos agropecuários. Maior produtor e maior
exportador global de soja, café, açúcar, carne bovina, carne de frango e suco
de laranja, o Brasil é uma potência agropecuária que alimenta o mundo. Mas nem
sempre foi assim. O país que é hoje um dos maiores exportadores de milho, de
frutas ou de algodão, e que abastece um bilhão e meio de pessoas ao redor do
planeta com alimentos de alta qualidade, nem sempre contou com autossuficiência
e com abundância suficiente para exportar.
O
desenvolvimento da agropecuária brasileira foi o resultado bem-sucedido de
políticas governamentais adotadas de maneira tenaz, deliberada e consistente,
que tiveram início nos anos 1970 e começaram a dar frutos de forma mais
evidente ao longo dos anos 1980, com resultados sólidos e estruturados sendo
percebidos a partir das décadas de 1990 e 2000. Assim como o Brasil, também
Angola decidiu que a segurança alimentar deve ser a prioridade absoluta de um
país. O governo angolano determinou o fortalecimento da agricultura nacional,
em parceria com o setor privado, por meio do aumento da produção local, do
encorajamento à diversificação econômica, do incentivo à produção agrícola
familiar e industrial, e do investimento em infraestrutura agroindustrial.
Tive
o privilégio de acompanhar o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço na
visita de Estado que fez ao Brasil no final de maio. Não foi outro o tema
central que ocupou o Presidente Lula e o Presidente João Lourenço durante a
visita: o combate à fome e à pobreza, a promoção da segurança alimentar, a
atuação conjunta de Brasil e Angola nessa esfera fundamental. São inúmeras as
parcerias que unem os dois países em atividades cotidianas de intercâmbio de
capacitação e de conhecimento. Mas a coordenação para o incremento da produção
agropecuária angolana tem-se intensificado a ponto de o ministro da Agricultura
e Pecuária do Brasil ter visitado Angola três vezes nos últimos nove meses com
vistas, em coordenação com as autoridades angolanas, à formulação de um projeto
bilateral concreto nessa esfera.
A
convite do Presidente Lula, o Presidente João Lourenço participou no Brasil, em
novembro último, da cimeira do G20, o fórum que reúne as 20 maiores economias
globais. A presidência brasileira do G20 considerou importante que Angola
pudesse, pela primeira vez, juntar-se ao grupo como país convidado e ali se
pronunciar. Na qualidade de presidente de turno, o Presidente Lula lançou
durante a cimeira a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, à qual Angola se
uniu como membro fundador.
O
Presidente de Angola voltou ao Brasil em julho, para participar, a convite da
presidência brasileira do BRICS, de 17a. cimeira dessa aliança de grandes
economias emergentes da promoção da cooperação global, do equilíbrio
geopolítico e do respeito às normas de convivência ditadas pelo Direito
Internacional. Convidado pelo Presidente Lula para se manifestar, o Presidente
João Lourenço falou em duas graças, na qualidade do Presidente no exercício da
União Africana, sobre a necessidade de reforma das instituições globais e de
fortalecimento da voz do Sul Global na governança mundial.
Ao
se preparar para acolher a comunidade internacional em Belém do Pará, em
novembro próximo, para os trabalhos da COP30, a 30.ª Conferência das Partes da
ONU sobre Mudanças Climáticas, o Brasil conta, como país organizado e
presidência de turno, com as contribuições que Angola traz ao debate. Diante da
urgência das questões do jogo, a COP-30 deverá produzir medidas de impacto
concreto em matéria de preservação ambiental.
São
importantes, e centrais, como se vê, as sensações de sensibilidade política que
unem Angola e o Brasil no cenário global. No plano bilateral, Brasil e Angola
estão cada vez mais unidos por uma densa agenda de atividades, de oportunidades
de comércio e de investimento. Conforme declarada a importante participação
brasileira na Feira Internacional de Luanda (FILDA), em julho, os segmentos
farmacêuticos, de infraestrutura e de turismo têm aqui amplo espaço para se
expandirem. Angola oferece um cenário comercial sonoro e atraente para as
empresas e investimentos brasileiros - tanto em seu próprio mercado, quanto
como plataforma de acesso a muitos mercados regionais.
Nossos
dois países se enfrentam, frente a frente, através da fronteira do Atlântico
Sul. Encaram-se como irmãos, com sua história colonial compartilhada, com a
necessidade comum de combate às desigualdades, com seu destino que queremos que
seja, para ambos, de prosperidade com desenvolvimento sustentável. Em um mundo
em rápida transformação, são inesgotáveis as oportunidades de benefício
recíproco e as perspectivas de desenvolvimento contínuo de interesses mútuos
entre nossas duas grandes nações. Nas esferas de negócios, de defesa, de
agropecuária, e em tantas outras o caminho está preparado para que Angola e o
Brasil continuem a se apoiar mutuamente no caminho do desenvolvimento com
equidade e com justiça. Eugênia Barthelmess – Brasil in “Novo
Jornal”
Eugênia Barthelmess - Embaixadora da República Federativa do Brasil em
Angola
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