Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Moçambique – Mulheres estão motivadas a voltar à escola através do projeto de alfabetização

Projeto da Unesco com o governo moçambicano procura combater o analfabetismo, que afeta em maior proporção as jovens e mulheres em zonas rurais. A ONU News ouviu duas pessoas que tentam vencer essa barreira. O Centro Wuxa reúne pessoas acima dos 40 anos que querem melhorar de vida


No dia em que o mundo comemora o Dia Internacional da Alfabetização sob o tema “Promovendo a alfabetização na era digital”, a ONU News conheceu as experiências de mulheres determinadas a combater o problema. Ambas retornaram aos bancos escolares depois dos 40 anos para aprender a ler e escrever ou a continuar os estudos.

Adelaide Maria Ngoenha, 44 anos, tem três filhos que cria sozinha. Em 1996, ela concluiu a 6.ª série escolar, mas teve que abandonar a escola para cuidar das crianças além de outros desafios.

Após tantos anos, ela conta que preferiu começar do zero e o projeto de alfabetização levado a cabo pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, foi a melhor opção.

Maior sonho é a caligrafia

Ela sonha em escrever e ler, ter uma caligrafia “como as outras mulheres”, que confessa ser o seu maior sonho no momento.

“Eu vi que que tenho dificuldades na escrita, na leitura...faço leitura, mas com dificuldade, então eu vi que é bom eu retornar e continuar a escola. Foi por isso que eu vim aqui para eliminar estas dificuldades. O meu desejo não é de parar, queria continuar e chegar até lá. Quando vejo as pessoas a escrever com aquela caligrafia bonita eu cobiço. Eu quero ter aquela caligrafia bonita e escrever as coisas como devem ser.”

Queremos mais pessoas alfabetizadas

Mário Fernando Eduardo Riasso, 40 anos, é professor de alfabetização há 13 anos. Atualmente, trabalha no Centro de Formação da Mulher – Wuxa, localizado na cidade da Matola, na província de Maputo, capital de Moçambique.

O professor nota uma redução de alunos na alfabetização. Em causa cita a pandemia da Covid-19, o fator económico e as recentes manifestações políticas que assolaram o país.

No Centro Wuxa, estão atualmente 117 alfabetizados, deste número 97 são mulheres e 20 homens, subdivididos em dois períodos: manhã e tarde.

O sonho do professor Mário Riasso é ter mais pessoas alfabetizadas. Ele conta algumas das motivações que faz com que o local acolha mais interessados.

Ler e escrever eleva autoestima das mulheres

“Muitas das vezes, o que motiva estes alunos a estar connosco. É pelo facto de, em algum momento, precisarem de assumir algum cargo dentro da igreja ou também por questões de amizade. Eu vejo a minha amiga a seguir a escola então devo seguir a minha amiga. Mas também temos a questão de fazer um registo, assinar um documento ou contrair matrimónio.”

A experiência de integração da Gilda Alberto Mathe, 42 anos, solteira, é diferente de outras mulheres. Ela conta que foi numa sessão de ginástica matinal que teve informação sobre a existência do Centro de Formação da Mulher – Wuxa.

Sonho por concretizar

Para ela, aprender a ler e escrever na idade adulta é um desafio pois nunca havia frequentado a escola.

“Uma das colegas do campo disse-me que vai à escola. Então fui à casa dela perguntar o que era necessário para eu também poder ir à escola, pois desde que nasci nunca fui à escola. Gostaria também de sair do guarda fato, tirar esse medo de me esconder para aprender algo. Ela disse-me que apenas precisam de fotografia e o bilhete de identidade. Fui para lá com ela, fiz a matrícula e pronto ...neste ano comecei a estudar aqui.”

Era digital

Este ano, o Dia Internacional da Alfabetização é celebrado sob o tema “Promovendo a alfabetização na era digital”.

Dados da Unesco citam que a digitalização está a mudar formas, métodos de aprendizagem, vivência, socialização e trabalho, quer na perspetiva positiva assim como negativa.

A agência defende que a alfabetização é fundamental para tornar as transformações inclusivas, relevantes e significativas.

Além de ler e escrever em papel, a alfabetização na era digital permite que as pessoas acedam, compreendam, avaliem, criem, comuniquem e interajam com conteúdo digital de forma segura e adequada.

A alfabetização também é fundamental para fomentar o pensamento crítico, discernir informações confiáveis ​​e navegar em ambientes informacionais complexos. Ouri Pota – Moçambique ONU News


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