Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Macau - Alunos vão “socializar mais” sem telemóveis na Escola Portuguesa

Os alunos de todos os níveis da Escola Portuguesa de Macau passam, a partir de agora, a não poder usar os telemóveis no interior das instalações. A medida surge na sequência de orientações impostas pelos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude. Pais ouvidos pelo Jornal Tribuna de Macau estão claramente de acordo e acreditam que haverá mais interacção entre os alunos. Uma professora diz tratar-se de “uma medida óptima, bem implementada”, porque neste momento “as crianças estão sozinhas junto a um telemóvel”

A partir desta manhã, quando as portas da Escola Portuguesa de Macau (EPM) abrirem para mais um ano lectivo, os alunos serão obrigados a deixar os telemóveis em cacifos instalados à entrada do estabelecimento de ensino. Pais e encarregados de educação tomaram conhecimento das medidas impostas sobre o uso de telemóveis no interior das instalações, que é agora proibido.

Através da sua página oficial na internet, a direcção da escola divulgou um comunicado em que explica as novas regras. Concretamente, os alunos vão ter de desligar os telemóveis e colocá-los dentro dos cacifos que estarão no local para esse efeito. Os smartphones não poderão ser utilizados nos intervalos e apenas podem ser retirados dos cacifos na pausa do almoço e quando os estudantes regressarem a casa.

No entanto, haverá excepções. Segundo o comunicado, os pais e encarregados de educação devem comunicar aos directores de turma, por escrito, caso os educandos necessitem de usar o telemóvel em situações excepcionais. Para além disso, a EPM diz que disponibilizará um telefone fixo à entrada da escola, junto ao porteiro, para ser utilizado em situações de emergência.

Entretanto, os estudantes poderão aceder aos telemóveis para fins de aprendizagem, “mas apenas sob orientação dos professores”, refere a EPM.

O aviso assinado pelo director, Acácio de Brito, explica que estas são orientações da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), que pretende diminuir a dependência destes aparelhos por parte dos alunos e seguir a tendência mundial.

Para a Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEP), trata-se de uma medida “generalizada da DSEDJ”. Segundo o presidente da APEP, “será a DSEDJ que, em princípio, irá fornecer os armários ou os cacifos para colocar na entrada da escola para guardar os telemóveis”.

Como os mais pequenos, da primária, não têm esses aparelhos, deverão ser cerca de 600 telemóveis a controlar, o que, na opinião de Filipe Figueiredo, “será fácil de fazer, pois se não cumprirem estão a violar uma orientação da escola”.

O dirigente salienta que a questão não se colocava dentro das aulas, mas fundamentalmente nos intervalos. “Muitos miúdos estavam sentados de telefone na mão, não havendo socialização e interacção”, sublinha, acrescentando que, “nesta primeira fase é capaz de haver alguma alteração de um hábito, o que não será fácil, mas aí o papel dos contínuos, dos assistentes, será importante para ajudar no controlo e na adaptação”.

A EPM chegou a enviar questionários aos pais sobre se concordam com a medida ou não e apenas cerca de 20% se opuseram à proibição. Os encarregados de educação que o JTM agora contactou (que preferiram não divulgar a sua identidade) reconhecem que a medida é “muito boa”, até porque “é o que está a acontecer em Portugal e por todo o mundo”.

Um pai disse que a filha “só teve telemóvel perto dos 12 anos”, afirmando que “as crianças usam e abusam do telemóvel e isso só faz mal ao cérebro, ficam apáticas”. Uma mãe reconhece ser “um exagero” a postura das crianças actualmente, tendo atingido um “ponto sem controlo”.

Uma professora há vários anos a leccionar na EPM deixou igualmente o seu testemunho. “Julgo que a partir de agora a relação entre os alunos vai ser francamente melhor, vão conviver mais na hora do intervalo, porque vemos frequentemente cinco ou seis miúdos sem aparelho à volta de um colega a jogar no telemóvel, o que não é nada saudável”. “As nossas crianças estão sozinhas junto a um telemóvel” e agora têm oportunidade de “socializar mais”, reforçou.

A docente considera que é “uma medida óptima, bem implementada” visando “desenvolver mais a relação interpessoal entre eles, para que conversem mais, porque acredito que eles vão arranjar maneira de ocupar aqueles 20 minutos”. Reconhece, no entanto, que haverá alguma pressão inicial: “Vamos dar uma semana, talvez, em que eles não vão saber o que fazer, vão andar assim meio perdidos, sem saber como usar as mãos, mas será uma questão de hábito”.

Sobre a dificuldade de contactar com os pais, refere que “isso é um mito”, frisando que “aqueles que nunca usaram telemóvel sempre conseguiram contactar os pais, através da secretaria, ou por intermédio de qualquer professor da escola”.

A EPM arranca hoje para mais um ano lectivo, num dia que é destinado essencialmente à recepção aos alunos. Quarta-feira de manhã, a escola recebe a visita do Primeiro-Ministro de Portugal, Luís Montenegro. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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