Os alunos de todos os níveis da Escola Portuguesa de Macau passam, a partir de agora, a não poder usar os telemóveis no interior das instalações. A medida surge na sequência de orientações impostas pelos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude. Pais ouvidos pelo Jornal Tribuna de Macau estão claramente de acordo e acreditam que haverá mais interacção entre os alunos. Uma professora diz tratar-se de “uma medida óptima, bem implementada”, porque neste momento “as crianças estão sozinhas junto a um telemóvel”
A
partir desta manhã, quando as portas da Escola Portuguesa de Macau (EPM)
abrirem para mais um ano lectivo, os alunos serão obrigados a deixar os
telemóveis em cacifos instalados à entrada do estabelecimento de ensino. Pais e
encarregados de educação tomaram conhecimento das medidas impostas sobre o uso
de telemóveis no interior das instalações, que é agora proibido.
Através
da sua página oficial na internet, a direcção da escola divulgou um comunicado
em que explica as novas regras. Concretamente, os alunos vão ter de desligar os
telemóveis e colocá-los dentro dos cacifos que estarão no local para esse
efeito. Os smartphones não poderão ser utilizados nos intervalos e apenas podem
ser retirados dos cacifos na pausa do almoço e quando os estudantes regressarem
a casa.
No
entanto, haverá excepções. Segundo o comunicado, os pais e encarregados de
educação devem comunicar aos directores de turma, por escrito, caso os
educandos necessitem de usar o telemóvel em situações excepcionais. Para além
disso, a EPM diz que disponibilizará um telefone fixo à entrada da escola,
junto ao porteiro, para ser utilizado em situações de emergência.
Entretanto,
os estudantes poderão aceder aos telemóveis para fins de aprendizagem, “mas
apenas sob orientação dos professores”, refere a EPM.
O
aviso assinado pelo director, Acácio de Brito, explica que estas são
orientações da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da
Juventude (DSEDJ), que pretende diminuir a dependência destes aparelhos por
parte dos alunos e seguir a tendência mundial.
Para
a Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEP), trata-se de uma
medida “generalizada da DSEDJ”. Segundo o presidente da APEP, “será a DSEDJ
que, em princípio, irá fornecer os armários ou os cacifos para colocar na
entrada da escola para guardar os telemóveis”.
Como
os mais pequenos, da primária, não têm esses aparelhos, deverão ser cerca de
600 telemóveis a controlar, o que, na opinião de Filipe Figueiredo, “será fácil
de fazer, pois se não cumprirem estão a violar uma orientação da escola”.
O
dirigente salienta que a questão não se colocava dentro das aulas, mas
fundamentalmente nos intervalos. “Muitos miúdos estavam sentados de telefone na
mão, não havendo socialização e interacção”, sublinha, acrescentando que,
“nesta primeira fase é capaz de haver alguma alteração de um hábito, o que não
será fácil, mas aí o papel dos contínuos, dos assistentes, será importante para
ajudar no controlo e na adaptação”.
A
EPM chegou a enviar questionários aos pais sobre se concordam com a medida ou
não e apenas cerca de 20% se opuseram à proibição. Os encarregados de educação
que o JTM agora contactou (que preferiram não divulgar a sua identidade)
reconhecem que a medida é “muito boa”, até porque “é o que está a acontecer em
Portugal e por todo o mundo”.
Um
pai disse que a filha “só teve telemóvel perto dos 12 anos”, afirmando que “as
crianças usam e abusam do telemóvel e isso só faz mal ao cérebro, ficam
apáticas”. Uma mãe reconhece ser “um exagero” a postura das crianças
actualmente, tendo atingido um “ponto sem controlo”.
Uma
professora há vários anos a leccionar na EPM deixou igualmente o seu
testemunho. “Julgo que a partir de agora a relação entre os alunos vai ser
francamente melhor, vão conviver mais na hora do intervalo, porque vemos
frequentemente cinco ou seis miúdos sem aparelho à volta de um colega a jogar
no telemóvel, o que não é nada saudável”. “As nossas crianças estão sozinhas
junto a um telemóvel” e agora têm oportunidade de “socializar mais”, reforçou.
A
docente considera que é “uma medida óptima, bem implementada” visando
“desenvolver mais a relação interpessoal entre eles, para que conversem mais,
porque acredito que eles vão arranjar maneira de ocupar aqueles 20 minutos”.
Reconhece, no entanto, que haverá alguma pressão inicial: “Vamos dar uma
semana, talvez, em que eles não vão saber o que fazer, vão andar assim meio
perdidos, sem saber como usar as mãos, mas será uma questão de hábito”.
Sobre
a dificuldade de contactar com os pais, refere que “isso é um mito”, frisando
que “aqueles que nunca usaram telemóvel sempre conseguiram contactar os pais,
através da secretaria, ou por intermédio de qualquer professor da escola”.
A
EPM arranca hoje para mais um ano lectivo, num dia que é destinado
essencialmente à recepção aos alunos. Quarta-feira de manhã, a escola recebe a
visita do Primeiro-Ministro de Portugal, Luís Montenegro. Vítor Rebelo –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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