O curador João Miguel Barros reuniu três artistas de Portugal e uma de Macau para o Festival Internacional de Fotografia de Pingyao, inaugurado na cidade chinesa a 19 de Setembro. Desde a reocupação de um cineteatro abandonado a formas de expressão mais abstractas e experimentais, as quatro portuguesas seleccionadas para o projecto foram desafiadas a mostrar o melhor da fotografia portuguesa no feminino ao público do festival, composto por milhares de visitantes nacionais e estrangeiros
A
25.ª edição do Festival Internacional de Fotografia de Pingyao (PIP, na sigla
em inglês) foi inaugurada no dia 19 de Setembro, reunindo mais de 20.000 trabalhos de cerca
de cinco mil fotógrafos – chineses e estrangeiros – sob o tema “Quebrando
Barreiras, Visões Inteligentes do Futuro”. João Miguel Barros foi um dos 14
curadores internacionais do evento deste ano, que contou com a participação de
quatro fotógrafas de origem portuguesa: Sara Augusto, Luísa Ferreira, Maria
Oliveira e Susana Paiva.
O
festival realiza-se na cidade histórica de Pingyao, na província de Shanxi, com
várias exposições distribuídas pelos museus, galerias, espaços culturais e até
escolas e fábricas da cidade. Apesar da localização remota, este é um dos mais
relevantes eventos fotográficos da China, tendo já albergado mais de 300.000 obras de centenas de
países e recebido milhões de visitantes desde a primeira edição, em 2001. A
adesão deste ano foi igualmente significativa, segundo relata o curador João
Miguel Barros ao Ponto Final.
“É
um dos festivais mais antigos da China, que movimenta milhares de pessoas todos
os anos”, contextualiza. “Este ano comemora o 25.º aniversário, com uma
participação enorme do público. É realmente impressionante ver milhares de
pessoas a fluir a Pingyao, uma cidade que nem sequer tem aeroporto, por causa
de um festival de fotografia”.
Esta
é a primeira vez que o curador, fotógrafo e fundador da galeria Ochre Space, em
Lisboa, foi convidado a integrar a equipa de curadoria do festival chinês. Este
projecto insere-se, aliás, nos objectivos delineados para o espaço artístico
lisboeta: “Tenho estado a tentar criar uma ponte entre Portugal e a China
através do Ochre Space, com a divulgação da fotografia chinesa e japonesa em
Portugal”, explica, em conversa com o Ponto Final. Neste caso, o objectivo foi
o inverso: levar a fotografia portuguesa à China.
A
delegação de Portugal em Pingyao foi constituída por três artistas portuguesas
(Luísa Ferreira, Maria Oliveira e Susana Paiva) e uma artista portuguesa de
Macau (Sara Augusto), sob o título “A Fotografia Portuguesa no Feminino”. “Os
três projectos de Portugal tinham sido recentemente seleccionados para um
grande festival de fotografia em França, portanto eram projectos seguros”. Sara
Augusto, fotógrafa radicada em Macau, foi também incluída na iniciativa pelo
seu “trabalho fantástico”, acrescenta o curador.
A
obra de Susana Paiva, baseada numa linha artística mais abstracta e
experimental, será aquela que mais se diferencia do grupo. De resto, embora não
exista um tema comum ou fio condutor que una os trabalhos das outras três
artistas, todos seguem “uma linha narrativa muito contemporânea, muito ligada
com as tradições, com a intimidade…”.
O
projecto de fotografia documental assinado por Sara Augusto, intitulado de
“Legacy”, exemplifica esta visão nostálgica do passado e do seu impacto no
presente com fotografias que mostram o Cineteatro de Mangualde – abandonado e
em ruínas – reocupado pelas personagens que habitariam, normalmente, este
espaço, como artistas, maestros e público.
Segundo
consta na ficha de projecto, disponibilizada ao Ponto Final pela autora,
pretendeu-se assim “não só registar a degradação do espaço do teatro, mas
também ter em conta a história do edifício e toda a vida cultural que ele
representou na região, para além de se poder registar um pouco do que será a
vida cultural quando o teatro estiver (sem previsão…) reabilitado”.
Elaborado
ao longo de quatro meses, o registo fotográfico divide-se em três grupos: “o
passado e as pessoas relacionadas com a história do edifício”, “o momento
presente de ruína” e “um possível momento no futuro”. As fronteiras temporais
esfumam-se nestes retratos, em que é possível ver “o maestro da orquestra da
cidade conduzindo uma orquestra imaginária num palco em ruínas” ou “uma
bailarina ensaiando passos de ballet”, em preparação para um espectáculo que
nunca estreará.
Face
ao sucesso da presente edição, João Miguel Barros tenciona voltar a desempenhar
o papel de curador no próximo ano. “Provavelmente vou continuar a colaborar com
o festival, para o ano, e logo verei que tipo de fotografia portuguesa irei
escolher”.
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