Células CAR T editadas geneticamente por investigadoras do i3S prometem ser mais eficazes e resistentes no combate a tumores sólidos
As
células CAR-T representam uma das mais inovadoras abordagens em imunoterapia no
tratamento de tumores. No entanto, a sua ação esgota-se rapidamente contra
tumores sólidos. Uma equipa internacional liderada por Salomé Pinho, do
Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S),
editou geneticamente essas células tornando-as mais competentes e resistentes.
Criou verdadeiras super-células CAR T para o combate a tumores sólidos.
O
estudo, recentemente publicado na revista Cancer Immunology Research, da
Associação Americana de Investigação em Cancro (AACR), revela o resultado desta
estratégia inovadora de edição genética de células T.
Os
investigadores mostraram que, em fases iniciais do cancro colorretal, os
linfócitos T que circulam no tumor sofrem modificações significativas na
composição de açúcares complexos à superfície celular (glicanos). Estas
alterações que acontecem nos linfócitos T durante o desenvolvimento tumoral
estão associadas a maior exaustão imunológica, e desta forma a uma maior
incompetência destas células T no combate ao tumor.
Utilizando
a tecnologia de edição genética CRISPR/Cas9, a equipa conseguiu eliminar o gene
MGAT5, responsável pela síntese destes glicanos complexos, que prejudicam a a
função imunológica destas células T. O resultado foi surpreendente: “Células T
sem este gene MGAT5 apresentaram maior capacidade de destruir células tumorais,
revertendo o seu estado de exaustão e tornando-as mais resistentes e mais
agressivas no combate às células tumorais”, explica Salomé Pinho, líder do
grupo «Immunology, Cancer & GlycoMedicine» do i3S.
Antevendo
a aplicação deste conhecimento na imunoterapia contra diferentes tipos de
cancro, os investigadores aplicaram esta estratégia em células CAR-T anti-CD19
– uma terapia celular já utilizada em tumores hematológicos, mas com eficácia
limitada em tumores sólidos, e descobriram que as células CAR-T modificadas
para não expressarem MGAT5 (células Glyco-CAR T) são mais eficazes a inibir o
crescimento de tumores sólidos.
“Estes
resultados inovadores revelam um novo alvo molecular que pode ter aplicação
clínica para reforçar a eficácia da imunoterapia baseada em células T, como o
caso das células CAR-T, em especial no contexto desafiante dos tumores
sólidos”, destaca a também docente da Faculdade de Medicina (FMUP) e do
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da U.Porto.
Catarina
Azevedo, primeira autora do estudo e estudante do Programa Doutoral em Ciências
Biomédicas do ICBAS, sob orientação de Salomé Pinho e coorientação de Ângela
Fernandes, reforça ainda que “o estudo fornece uma prova de conceito de que a
manipulação do glicoma das células T pode representar uma estratégia promissora
para ampliar o potencial terapêutico das células CAR-T”.
Esta
nova evidência, refere ainda Ângela Fernandes, uma das autoras séniores deste
estudo, “abre perspetivas para o desenvolvimento de abordagens inovadoras em
imunoterapia oncológica.”
O
estudo agora publicado contou com a participação de uma equipa de
investigadores internacionais, concretamente da Universidade de Pittsburgh
(EUA) e teve o apoio da FLAD e da FullBright, que financiou uma bolsa de
estágio no âmbito do projeto de doutoramento de Catarina Azevedo, desenvolvido
na Universidade de Pittsburgh/ “UPMC Hillman Cancer Center”, no laboratório do
Dr. Greg Delgoffe.
Sobre as CAR-T cells
As
CAR-T cells (do inglês Chimeric Antigen Receptor T cells) representam
uma das mais inovadoras abordagens em imunoterapia. Trata-se de células T do
próprio doente, geneticamente modificadas em laboratório para expressar um
recetor capaz de reconhecer alvos específicos nas células tumorais.
Após
serem reintroduzidas no organismo, estas células atuam como “fármacos vivos”,
destruindo células tumorais com elevada precisão. Embora já tenham demonstrado
resultados revolucionários em alguns tipos de cancro hematológico, como é o
caso de algumas leucemias, a sua eficácia em tumores sólidos continua a ser um
dos grandes desafios da área.
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