Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Portugal - «Super-células» criadas no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde podem revolucionar tratamento de tumores

Células CAR T editadas geneticamente por investigadoras do i3S prometem ser mais eficazes e resistentes no combate a tumores sólidos


As células CAR-T representam uma das mais inovadoras abordagens em imunoterapia no tratamento de tumores. No entanto, a sua ação esgota-se rapidamente contra tumores sólidos. Uma equipa internacional liderada por Salomé Pinho, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), editou geneticamente essas células tornando-as mais competentes e resistentes. Criou verdadeiras super-células CAR T para o combate a tumores sólidos.

O estudo, recentemente publicado na revista Cancer Immunology Research, da Associação Americana de Investigação em Cancro (AACR), revela o resultado desta estratégia inovadora de edição genética de células T.

Os investigadores mostraram que, em fases iniciais do cancro colorretal, os linfócitos T que circulam no tumor sofrem modificações significativas na composição de açúcares complexos à superfície celular (glicanos). Estas alterações que acontecem nos linfócitos T durante o desenvolvimento tumoral estão associadas a maior exaustão imunológica, e desta forma a uma maior incompetência destas células T no combate ao tumor.

Utilizando a tecnologia de edição genética CRISPR/Cas9, a equipa conseguiu eliminar o gene MGAT5, responsável pela síntese destes glicanos complexos, que prejudicam a a função imunológica destas células T. O resultado foi surpreendente: “Células T sem este gene MGAT5 apresentaram maior capacidade de destruir células tumorais, revertendo o seu estado de exaustão e tornando-as mais resistentes e mais agressivas no combate às células tumorais”, explica Salomé Pinho, líder do grupo «Immunology, Cancer & GlycoMedicine» do i3S.

Antevendo a aplicação deste conhecimento na imunoterapia contra diferentes tipos de cancro, os investigadores aplicaram esta estratégia em células CAR-T anti-CD19 – uma terapia celular já utilizada em tumores hematológicos, mas com eficácia limitada em tumores sólidos, e descobriram que as células CAR-T modificadas para não expressarem MGAT5 (células Glyco-CAR T) são mais eficazes a inibir o crescimento de tumores sólidos.

“Estes resultados inovadores revelam um novo alvo molecular que pode ter aplicação clínica para reforçar a eficácia da imunoterapia baseada em células T, como o caso das células CAR-T, em especial no contexto desafiante dos tumores sólidos”, destaca a também docente da Faculdade de Medicina (FMUP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da U.Porto.

Catarina Azevedo, primeira autora do estudo e estudante do Programa Doutoral em Ciências Biomédicas do ICBAS, sob orientação de Salomé Pinho e coorientação de Ângela Fernandes, reforça ainda que “o estudo fornece uma prova de conceito de que a manipulação do glicoma das células T pode representar uma estratégia promissora para ampliar o potencial terapêutico das células CAR-T”.

Esta nova evidência, refere ainda Ângela Fernandes, uma das autoras séniores deste estudo, “abre perspetivas para o desenvolvimento de abordagens inovadoras em imunoterapia oncológica.”

O estudo agora publicado contou com a participação de uma equipa de investigadores internacionais, concretamente da Universidade de Pittsburgh (EUA) e teve o apoio da FLAD e da FullBright, que financiou uma bolsa de estágio no âmbito do projeto de doutoramento de Catarina Azevedo, desenvolvido na Universidade de Pittsburgh/ “UPMC Hillman Cancer Center”, no laboratório do Dr. Greg Delgoffe.

Sobre as CAR-T cells

As CAR-T cells (do inglês Chimeric Antigen Receptor T cells) representam uma das mais inovadoras abordagens em imunoterapia. Trata-se de células T do próprio doente, geneticamente modificadas em laboratório para expressar um recetor capaz de reconhecer alvos específicos nas células tumorais.

Após serem reintroduzidas no organismo, estas células atuam como “fármacos vivos”, destruindo células tumorais com elevada precisão. Embora já tenham demonstrado resultados revolucionários em alguns tipos de cancro hematológico, como é o caso de algumas leucemias, a sua eficácia em tumores sólidos continua a ser um dos grandes desafios da área.

Este estudo revela novas evidências que poderão estar na base de uma nova geração de células CAR-T (Glyco-CAR T) com maior eficácia antitumoral, sobretudo em tumores sólidos. Universidade do Porto - Portugal

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