Em 2024, só 3% da população no Luxemburgo ficou sem
cuidados dentários por falta de meios, enquanto Portugal surge como o quarto
país da UE com mais dificuldades de acesso
O
Luxemburgo é um dos países da União Europeia (UE) onde a população enfrenta
menos dificuldades no acesso a cuidados de saúde dentários. Em 2024, apenas 3%
das pessoas que vivem no Grão-Ducado não conseguiram aceder a cuidados
dentários, segundo dados divulgados recentemente pelo Eurostat. Já Portugal é o
quarto país da UE onde um maior número de pessoas não tem acesso a cuidados
dentários: 15,4% da população indicou que não conseguiu ir ao dentista.
Em
2024, 6,3% das pessoas com 16 anos ou mais na União Europeia que precisavam de
cuidados odontológicos relataram que não conseguiram recebê-los devido a
“razões financeiras, longas listas de espera ou distância dos dentistas”,
refere o Eurostat.
Entre
os países da UE, a proporção de pessoas com necessidades de cuidados dentários
não satisfeitas foi mais elevada na Grécia (27,1%), Letónia (16,5%), Roménia
(16,2%) e Portugal (15,4%). As percentagens mais baixas foram observadas em
Malta (0,4%), Alemanha (0,9%), Croácia (1,1%) e Hungria (1,5%), com Luxemburgo
a ocupar a 11.ª posição neste ranking europeu.
Os
dados mostram ainda que a proporção de pessoas em risco de pobreza que
relataram necessidades de cuidados dentários não atendidas (13,7%), em 2024,
foi substancialmente maior do que a registada entre a população sem essa
vulnerabilidade económica (5,1%).
Um
padrão semelhante foi verificado em todos os países da UE, com diferenças mais
significativas nuns do que noutros. No Luxemburgo, a percentagem sobe de 3%
para 7% entre os mais vulneráveis, um desfasamento reduzido em comparação com a
realidade europeia. Já em Portugal, o contraste é mais acentuado: de 15,4% na
população em geral para 32,5% entre quem vive em risco de pobreza.
Apoios estatais
A
discrepância entre Luxemburgo e Portugal, que ocupam posições quase opostas no
acesso aos cuidados dentários, pode ser explicada em parte pelos distintos
modelos de apoio estatal.
No
Grão-Ducado, a Caisse Nationale de Santé (Caixa Nacional de Saúde, CNS) cobre
uma vasta gama de atos de medicina dentária, garantindo o reembolso integral
para menores. Os tratamentos comparticipados vão de consultas normais e
urgentes a desvitalizações, extrações dentárias, assim como tratamentos
ortodônticos e protéticos.
Em
Portugal, desde 2016 que os centros de saúde passaram a disponibilizar
consultas de medicina dentária, assegurando aos utentes do Serviço Nacional de
Saúde (SNS) referenciados pelo médico de família o acesso a cuidados e
tratamentos básicos sem pagamento de taxa moderadora. Contudo, no âmbito destas
consultas podem ser estabelecidos planos de tratamentos e ser cobrados valores
de acordo com a tabela de estomatologia em vigor.
Existe
ainda o cheque-dentista, um vale emitido pelo SNS que dá acesso gratuito a
consultas e tratamentos de medicina dentária, quer em unidades de saúde
públicas como em consultórios privados aderentes, de acordo com a informação
disponível no site do SNS. Contudo, a cobertura é mais restrita, não incluindo
vários tratamentos, como ortodontia ou próteses, abrangendo sobretudo as áreas
da prevenção, diagnóstico e tratamentos básicos.
Os
cheques-dentista também só são atribuídos a grupos populacionais considerados
prioritários, que apresentem particular vulnerabilidade, nomeadamente menores,
grávidas em acompanhamento pré-natal no Serviço Nacional de Saúde (SNS),
beneficiários do Complemento Solidário para Idosos que sejam utentes do SNS,
portadores do VIH/SIDA e pessoas em situação de risco aumentado de cancro oral.
Uma parte significa da população portuguesa continua, assim, dependente do
setor privado, suportando custos elevados. Sofia Cristino – Portugal in “Contacto”
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