Os deputados timorenses do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), do Partido Democrático (PD) e do Khunto recuaram na decisão de comprar novas viaturas para os parlamentares, após protestos de estudantes universitários e da sociedade civil
“Decidimos
em conjunto, as três bancadas, e entendemos pedir ao Parlamento Nacional a
anulação de todo o processo relativo à aquisição de viaturas para os
deputados”, afirmou aos jornalistas o porta-voz das três bancadas, o deputado
Patrocínio Fernandes do CNRT, partido liderado pelo primeiro-ministro, Xanana
Gusmão.
Estudantes
de quatro universidades timorenses e elementos da sociedade civil realizaram
ontem um protesto em frente ao Parlamento contra as regalias dos 65 deputados
do país, que incluem a decisão recente de adquirir novas viaturas por um valor
superior a três milhões de dólares.
A
manifestação acabou por ser dispersa com gás lacrimogéneo e balas de borracha,
depois dos estudantes terem lançado pedras e outros objectos contra o edifício
do Parlamento.
Apesar
de terem sido dispersos, os manifestantes voltaram a reunir-se em protesto no
mesmo local, mas sem registo de mais incidentes. O deputado explicou que a
decisão é de não adquirir carros para os deputados durante a presente
legislatura.
Patrocínio
Fernandes sublinhou que a medida não resulta de pressão externa, mas sim da
análise interna das preocupações manifestadas pelos próprios deputados, que, no
entanto, reconhecem também a sensibilidade da opinião pública.
A
conferência de imprensa contou também com a presença do presidente da bancada
do PD (partido da coligação no Governo), Armando dos Santos Lopes, e ainda do
presidente da bancada da KHUNTO, na oposição, António Verdeal.
Patrocínio
Fernandes recordou que a intenção de adquirir as viaturas tinha como fundamento
o estatuto dos deputados, que prevê a disponibilização de condições adequadas
para o exercício do mandato parlamentar, incluindo transporte.
Segundo
o deputado, as preocupações tinham surgido devido ao mau estado da frota atual,
aos elevados custos de manutenção e às dificuldades do secretariado parlamentar
em gerir de forma eficiente os veículos atribuídos aos deputados.
Após
uma análise mais aprofundada da situação, as bancadas do CNRT, PD e KHUNTO
decidiram agora suspender a execução da verba de 3,5 milhões de euros para
compra de viaturas, inscrita no Orçamento de Estado para este ano. “As bancadas
do CNRT, PD e KHUNTO [que representam a maioria dos deputados] estão
conscientes de que a decisão de comprar viaturas não corresponde às
preocupações do público”, acrescentou Patrocínio Fernandes.
O
hemiciclo do Parlamento timorense inclui também as bancadas da Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e o Partido da Libertação
Popular (PLP).
O
líder da oposição timorense, Mari Alkatiri, apelou na semana passada ao Governo
para resolver com urgência os problemas sociais e políticos no país, de modo a
evitar cenários semelhantes ao que estão a ocorrer em países vizinhos. “Eu digo
sempre que a situação no nosso país hoje pode parecer melhor, mas todos sabemos
que os problemas se acumulam. Podemos dizer que estamos a entrar numa situação
de ‘bomba-relógio'”, afirmou o secretário-geral da Frente Revolucionária do
Timor-Leste Independente (Fretilin) na passada quinta-feira, referindo-se
expressamente aos estudantes universitários.
Os
jovens universitários e a sociedade civil vinham a protestar há algum tempo
contra a aquisição de novas viaturas para os deputados. “Se não fizermos uma
boa gestão desta situação, poderemos enfrentar, em pouco tempo, muitos
problemas sociais, políticos e mesmo conflituais”, avisou na altura o
secretário-geral da Fretilin. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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