Um tema musical volta à barraca do Brasil para o Festival da Lusofonia. Bossa Nova foi o escolhido para este ano. Jane Martins, a principal responsável pela organização da tenda, trará a Macau discos antigos, em vinil, de um dos principais precursores deste género de música, João Gilberto. A casa do artista foi transformada em Museu e é uma réplica desse espaço que o público vai poder apreciar. Outra das associações envolvidas que já definiu o que irá apresentar é Moçambique, com a divulgação da indústria do café, que se encontra em grande crescimento naquele país africano
Quem
for passear pelas barraquinhas do Festival da Lusofonia, ao longo da Avenida da
Praia, onde se situam as Casas Museu da Taipa, vai poder este ano beber uma
caipirinha na tenda do Brasil ao som da Bossa Nova. O género musical, que
surgiu no final da década de 1950, no Rio de Janeiro, é o tema escolhido pela
Casa do Brasil para assinalar mais uma edição do festival, evento de celebração
da cultura lusófona, promovida com o objectivo de ligar povos e comunidades
através da música, dança, arte e gastronomia.
Carla
Fellini, presidente da associação, disse ao Jornal Tribuna de Macau que no
espaço vai ser possível apreciar uma réplica da casa, agora transformada em
Museu, onde nasceu e viveu um dos principais precursores daquele tipo de
música, João Gilberto. “Ele é o pai da Bossa Nova, por isso vamos fazer-lhe uma
homenagem”, salienta.
Mas
mais pormenores tem Jane Martins, antiga responsável daquela associação, que
residiu e trabalhou na RAEM durante dezenas de anos, actualmente aposentada e a
viver no seu país natal, na cidade de Búzios. “Há 28 anos, desde o lançamento
da primeira edição do Festival da Lusofonia que eu assumo a principal
responsabilidade na organização da barraca brasileira, sempre, claro, com a
colaboração e participação dos restantes dirigentes da Casa do Brasil”, começou
por referir.
A
introdução da Bossa Nova como tema “é um sonho antigo”, sublinha, acrescentando
que, depois do samba, já feito anteriormente, assim como a antologia da poesia
brasileira, surge agora a Bossa Nova. “Gosto muito desse tema mais cultural,
mas quando morava aí em Macau eu nem sempre vinha ao Brasil, por isso as opções
eram mais difíceis”, admite.
Sobre
a variedade de temas, refere que a associação tem tido como preocupação ao
longo dos anos não repetir a decoração da tenda. “Sempre fizemos diferente”,
afirma, recordando que há dois anos foi o café brasileiro. “A gente oferecia o
café para as pessoas”. O ano passado foi Búzios. “Foi mais simbólico”, reforça.
Jane
Martins viajará para o território com “a bagagem possível”, com discos, livros
e fotografias, principalmente de João Gilberto. “Vamos ver se conseguimos pôr
para tocar, uma vez que temos de comprar os gira-discos”, frisa, adiantando,
num típico português do Brasil, que “música vai ter de qualquer jeito”.
Em
conversa telefónica, afirmou que a barraca vai ser baseada na casa do artista
“que agora é um Museu na Baía”, em Juazeiro, terra natal do músico, denominado
Memorial Casa da Bossa Nova, pintado de azul. “É essa réplica que mostraremos
ao público que passar pela nossa tenda, podendo assim, ao longo do dia, ouvir
músicas diversas de Bossa Nova e dar um pezinho de dança”, observa.
Em
termos de decoração, e para além da parte principal, constituída pela
casa-museu, haverá outros motivos, “tudo relacionado com a música, como a
colocação de violões, e vária informação sobre os músicos da Bossa Nova, como
Vinícius de Moraes, Carlos Jobim, Toquinho, para além do principal, João
Gilberto”.
Nas
suas pesquisas, que “começaram já há uns bons seis meses”, Jane Martins
descobriu que há muita Bossa Nova traduzida para chinês, em mandarim. “Foi
muito interessante saber que os chineses cantam e tocam muito na China este
tipo de música”, comenta.
A
maior parte do material para a tenda será trazido do Brasil. “No Taobao
encontra-se muita coisa, até discos em vinil do João Gilberto, mas é mais
barato levar do Brasil, uma vez que são mais originais, têm dedicatórias”.
Tendo-se
deslocado a locais como Porto Alegre e Florianópolis, “para ver coisas para
comprar e levar para Macau”, apercebeu-se de que “as pessoas estão a comprar
coisas antigas, pois está na moda, havendo aqui no Brasil muitas lojas que têm
antiguidades, não só de música e livros, mas também CDs”, explica, informando
que “tudo isso estará em exposição na nossa barraca do Festival da Lusofonia,
e, se as pessoas estiverem interessadas, podem comprar, a gente vende”,
conclui.
Para
quem não conhece muito sobre Bossa Nova, refira-se que a música nasceu da
transformação do samba, especialmente o “samba de raiz”, e foi fortemente
influenciada pelo jazz norte-americano. A “Batida Diferente”, como era assim
conhecida há cerca de 60 ou 70 anos, definia-se por uma forma inovadora de
tocar o violão e um estilo de canto mais suave, coloquial e despojado.
As
letras, muitas vezes poéticas, focavam em temáticas como a vida carioca e a
beleza da cidade. A Bossa Nova apresenta uma harmonia mais complexa, diferente
do samba tradicional, o que a aproximava do cool jazz da época.
Como principais nomes e obras que estarão em destaque na tenda brasileira no Festival da Lusofonia, para além de João Gilberto, há compositores de clássicos como “Chega de Saudade”, “A Felicidade” e “Garota de Ipanema”.
Moçambique “mostra” café, Casa de Portugal faz segredo
De
entre as restantes associações que estarão mais uma vez envolvidas no festival,
apenas Moçambique divulgou ao JTM o que tenciona fazer em termos de decoração.
Este ano o tema será o café. “Esta indústria tem vindo a crescer nos últimos
anos e por isso vamos tentar apresentar algo sobre o café”, refere Ângelo
Rafael.
O
presidente da direcção da Associação dos Amigos de Moçambique lembrou que a
tenda está ainda em preparação, “mas já conseguimos trazer algum café de
Moçambique”. Agora, assevera, “temos de pensar como vamos fazer a decoração, se
teremos só café ou mais alguma coisa”.
Falando
do produto que está a ter um forte investimento no país, salienta que se trata
de uma indústria que normalmente está ligada aos parques nacionais, “mas também
já há uma aposta forte nessa área”. Adianta que no ano passado “Moçambique
bateu historicamente o recorde de vendas de café, portanto, em termos de
exportação”.
“É
uma indústria pequena, comparada com outros países, mas encontra-se em franco
crescimento”, conclui, considerando que esta apresentação no Festival da
Lusofonia servirá também para “divulgação do nosso café em Macau e na Ásia”.
Também
a Casa de Portugal vai participar, “como sempre, no evento”, ainda que Amélia
António, presidente da associação de matriz lusa, não queira desvendar o tema a
apresentar. “Habitualmente não divulgamos, para não estragar a surpresa”, diz.
Para
este ano a responsável admite que a Casa tem “ambições um bocadinho grandes”.
Por outro lado, observa que “estamos um pouco atrapalhados com a mão-de-obra,
e, por isso, mais uma razão para não adiantar, não vá o projecto falhar”.
Adianta
que “está toda a gente a trabalhar para que possamos ter uma presença
interessante, bonita, digna do trabalho que tem sido feito ao longo destes
anos”. Fora o segredo principal, no que concerne ao tema escolhido para a
decoração, a Casa de Portugal contará no festival com artesãos, espaços de
comida e os habituais jogos tradicionais, com prémios, durante os dois
fins-de-semana.
Para
além de Portugal, Brasil e Moçambique, vão estar representados no evento as
restantes comunidades lusófonas, nomeadamente, Macau, Cabo Verde, Angola,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Goa, Damão e Diu.
O
festival voltará a contar com 10 intérpretes musicais, a solo, em banda, ou em
grupos tradicionais de danças e cantares, representando os nove países ou
regiões do espectro da lusofonia, divididos em igual número pelos dois
fins-de-semana, sendo que haverá dois “cabeças-de-cartaz”, um para cada período
da festa, ao sábado à noite.
Para
a edição deste ano, há alguns nomes fortes em cima da mesa, que estão a ser
negociados, mas ainda não existe uma decisão final por parte da principal
entidade organizadora, o Instituto Cultural, que terá o apoio da Direcção dos
Serviços de Turismo e do Instituto para os Assuntos Municipais, devendo voltar
a contar igualmente com a Galaxy como patrocinador oficial. Vítor Rebelo –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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