Estudo representa um avanço significativo no campo da imunoterapia, abrindo novas perspetivas para cancros com opções de tratamento ainda muito limitadas
Uma
equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do
Porto (i3S) desenvolveu uma nova terapia com células CAR T “altamente eficaz”
contra tumores sólidos, como os do estômago, pâncreas e ovário. O estudo, publicado na prestigiada
revista científica Cell Reports Medicine, representa um avanço
significativo no campo da imunoterapia, abrindo novas perspetivas para cancros
com opções de tratamento ainda muito limitadas.
Esta
investigação, coordenada por Celso A. Reis, líder do grupo «Glycobiology in
Cancer» do i3S e docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
(ICBAS), “baseou-se na utilização de linfócitos T (células T) do sistema
imunitário do próprio doente, modificados geneticamente com recetores
artificiais, os Chimeric Antigen Receptors (CARs), desenhados para
reconhecer glicanos tumorais, estruturas de açúcar alteradas presentes
exclusivamente à superfície de células cancerígenas”.
“Selecionar
um alvo tumoral altamente específico é um dos fatores determinantes para o
sucesso das terapias com células T”, explica Rafaela Abrantes, primeira autora
do artigo, desenvolvido no âmbito do programa doutoral em Ciências Biomédicas
do ICBAS. “Neste trabalho focámo-nos num glicano chamado Sialyl-Tn (STn),
ausente em tecidos saudáveis, mas abundantemente expresso em muitos tumores de
origem epitelial, como gástrico, pancreático e colorretal, acrescenta a atual
investigadora no grupo «Glycobiology in Cancer».
No
âmbito desta investigação, a equipa desenvolveu um novo anticorpo monoclonal, o
AM52.1, que reconhece exclusivamente o glicano STn. A partir desse anticorpo,
foi então construído um recetor artificial que, expresso em células T, originou
células geneticamente modificadas, as novas células CAR T, “que se revelaram
altamente eficazes no reconhecimento e eliminação seletiva de células
tumorais”, refere Celso A. Reis.
Vários
testes funcionais, acrescenta Rafaela Abrantes, “mostraram que, ao reconhecerem
as células tumorais que expressam o glicano de interesse, as novas células CAR
T ativam-se de forma robusta, produzindo citocinas inflamatórias e compostos
tóxicos, eliminando eficientemente as células-alvo”.
Esta
nova terapia, a que a equipa dá o nome de AM52.1CAR T, foi também testada em
vários modelos pré-clínicos, desde organóides até modelos animais com tumores
derivados de pacientes (xenotransplantes). Os resultados, referem os
investigadores, “mostraram uma eliminação eficaz das células tumorais, mesmo em
tumores com níveis reduzidos de STn ou com características que normalmente
representam barreiras à eficácia das terapias celulares, demonstrando a
sensibilidade e robustez desta abordagem”.
Importa
destacar que, “dada a elevada especificidade da terapia desenvolvida, não foram
observados sinais de toxicidade nem efeitos adversos em modelos pré-clinicos,
um requisito essencial para garantir a segurança do tratamento”. “Conseguimos
desenvolver uma terapia altamente específica, mesmo em tumores com níveis
variáveis do alvo”, sublinha Celso A. Reis.
Este
estudo, que contou com a colaboração da Unidade de Terapia Celular do Hospital
Universitário de Oslo, na Noruega, “reforça o potencial translacional para
ensaios clínicos em doentes e posiciona o i3S na vanguarda da investigação em
terapia direcionada e imunoterapia para tumores sólidos, propondo uma
estratégia promissora que poderá, num futuro próximo, ser aplicada no
tratamento de pacientes com cancros de difícil abordagem clínica”, enfatiza o
líder da equipa. Universidade do Porto - Portugal
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