Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Portugal - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde desenvolve terapia "altamente eficaz" contra tumores agressivos

Estudo representa um avanço significativo no campo da imunoterapia, abrindo novas perspetivas para cancros com opções de tratamento ainda muito limitadas


Uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) desenvolveu uma nova terapia com células CAR T “altamente eficaz” contra tumores sólidos, como os do estômago, pâncreas e ovário. O estudo, publicado na prestigiada revista científica Cell Reports Medicine, representa um avanço significativo no campo da imunoterapia, abrindo novas perspetivas para cancros com opções de tratamento ainda muito limitadas.

Esta investigação, coordenada por Celso A. Reis, líder do grupo «Glycobiology in Cancer» do i3S e docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), “baseou-se na utilização de linfócitos T (células T) do sistema imunitário do próprio doente, modificados geneticamente com recetores artificiais, os Chimeric Antigen Receptors (CARs), desenhados para reconhecer glicanos tumorais, estruturas de açúcar alteradas presentes exclusivamente à superfície de células cancerígenas”.

“Selecionar um alvo tumoral altamente específico é um dos fatores determinantes para o sucesso das terapias com células T”, explica Rafaela Abrantes, primeira autora do artigo, desenvolvido no âmbito do programa doutoral em Ciências Biomédicas do ICBAS. “Neste trabalho focámo-nos num glicano chamado Sialyl-Tn (STn), ausente em tecidos saudáveis, mas abundantemente expresso em muitos tumores de origem epitelial, como gástrico, pancreático e colorretal, acrescenta a atual investigadora no grupo «Glycobiology in Cancer».

No âmbito desta investigação, a equipa desenvolveu um novo anticorpo monoclonal, o AM52.1, que reconhece exclusivamente o glicano STn. A partir desse anticorpo, foi então construído um recetor artificial que, expresso em células T, originou células geneticamente modificadas, as novas células CAR T, “que se revelaram altamente eficazes no reconhecimento e eliminação seletiva de células tumorais”, refere Celso A. Reis.

Vários testes funcionais, acrescenta Rafaela Abrantes, “mostraram que, ao reconhecerem as células tumorais que expressam o glicano de interesse, as novas células CAR T ativam-se de forma robusta, produzindo citocinas inflamatórias e compostos tóxicos, eliminando eficientemente as células-alvo”.

Esta nova terapia, a que a equipa dá o nome de AM52.1CAR T, foi também testada em vários modelos pré-clínicos, desde organóides até modelos animais com tumores derivados de pacientes (xenotransplantes). Os resultados, referem os investigadores, “mostraram uma eliminação eficaz das células tumorais, mesmo em tumores com níveis reduzidos de STn ou com características que normalmente representam barreiras à eficácia das terapias celulares, demonstrando a sensibilidade e robustez desta abordagem”.

Importa destacar que, “dada a elevada especificidade da terapia desenvolvida, não foram observados sinais de toxicidade nem efeitos adversos em modelos pré-clinicos, um requisito essencial para garantir a segurança do tratamento”. “Conseguimos desenvolver uma terapia altamente específica, mesmo em tumores com níveis variáveis do alvo”, sublinha Celso A. Reis.

Este estudo, que contou com a colaboração da Unidade de Terapia Celular do Hospital Universitário de Oslo, na Noruega, “reforça o potencial translacional para ensaios clínicos em doentes e posiciona o i3S na vanguarda da investigação em terapia direcionada e imunoterapia para tumores sólidos, propondo uma estratégia promissora que poderá, num futuro próximo, ser aplicada no tratamento de pacientes com cancros de difícil abordagem clínica”, enfatiza o líder da equipa. Universidade do Porto - Portugal


Sem comentários:

Enviar um comentário