Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Macau - Exclusão de países lusófonos africanos da lista de entrada “não beneficia aprofundamento da cooperação”

Paulo Espírito Santo, secretário-geral adjunto do Secretariado Permanente do Fórum Macau, lamentou a exclusão dos países africanos de língua portuguesa da lista de países cujos nacionais podem entrar na RAEM, defendendo que a decisão “não beneficia” a cooperação entre a China e os países lusófonos. Neste sentido, pediu ao Governo da RAEM que reveja a decisão. Frisou ainda que “a plataforma não pode estar fechada em si mesma, sob pena de se tornar redutora”. Por outro lado, no discurso de abertura do evento, o Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na RAEM, Liu Xianfa, garantiu que “a porta da China não se fechará, pelo contrário, ficará cada vez mais aberta”, apontando que é preciso apostar no desenvolvimento e segurança


O secretário-geral adjunto do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau), Paulo Espírito Santo, lamentou que os países africanos de língua portuguesa tenham sido excluídos da lista de 41 países cujos nacionais estão autorizados a entrar na RAEM desde o início de Setembro, e pediu ao Governo que reveja a decisão.

Para que Macau possa ter um papel mais “efectivo”, do ponto de vista interno é necessário “aperfeiçoar” o seu modelo de mobilidade, “agilizando os procedimentos para atrair investidores e empresários lusófonos”, defendeu Espírito Santo, para depois acrescentar: “A este propósito, a não inclusão dos países africanos de língua portuguesa na lista de países cujos cidadãos passam a ser autorizados a entrar em Macau, apesar de todos terem a pandemia sob controlo, não beneficia o aprofundamento da cooperação [entre a China e os países lusófonos]”.

Paulo Espírito Santo foi mais longe e pediu mesmo ao Governo da RAEM que reveja a decisão tomada. “Assim, faço um apelo especial, no sentido de, do alto da sua sabedoria e melhor critério, rever tal decisão para se ir ao encontro da mais elementar justiça”, afirmou. “A plataforma não pode estar fechada em si mesma, sob pena de se tornar redutora”, defendeu ainda.

A plataforma “precisa de interagir de forma dinâmica” com outros países e regiões, revelando-se essencial também uma “maior interacção” com o Interior da China e não apenas Hengqin. Isto para que Macau seja “de facto, uma entidade mais aberta, ágil e com valor acrescentado para investidores e empresários que pretendem entrar no mercado do Interior da China através de Macau”.

Espírito Santo falava no “Fórum dos Think Tanks entre a China e os Países de Língua Portuguesa: Com base na plataforma de Macau, impulsiona-se uma cooperação mais estreita entre a China e os Países Lusófonos nesta Era Nova”, onde sublinhou as oportunidades que têm sido abertas à comunidade lusófona com a criação do Fórum Macau, em 2003, e apontou a necessidade de se continuar a reforçar e potenciar o papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa.

Neste âmbito, disse que a RAEM pode aproveitar as vantagens no âmbito dos quadros qualificados bilingues chinês-português, disponibilizando-os para ajudarem empresas chinesas com serviços intermediários de advocacia, consultoria, tradução e interpretação, apoiando o seu desenvolvimento no estrangeiro. Por outro lado, Espírito Santo sugeriu que sejam desenvolvidos instrumentos financeiros mais diversificados que possam atrair empresários do mundo lusófono, e que sejam fornecidas garantias financeiras a empresas chinesas e macaenses que se queiram estabelecer nos países de língua portuguesa e vice-versa.

Os últimos anos foram de “desenvolvimento acelerado”, considerou Espírito Santo, concluindo: “Estamos no bom caminho, mas podemos e devemos trilhar ainda melhores caminhos”.

China “cada vez mais aberta”

Por sua vez, o Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na RAEM garantiu que “a porta da China não se fechará, pelo contrário, ficará cada vez mais aberta”.

No discurso que abriu o evento – contou com as intervenções de 19 oradores da China e do mundo lusófono –, Liu Xianfa destacou ainda como primordial a aposta no desenvolvimento e segurança, no âmbito da cooperação sino-lusófona na era pós-pandemia.

O Comissário lembrou que as prioridades foram já definidas pelo presidente chinês, Xi Jinping, como iniciativas globais, argumentando que é necessário “aprofundar a cooperação” com os países lusófonos nestas vertentes, de forma a “aumentar a confiança mútua política”. “Embora a China e os países de língua portuguesa se encontrem em diferentes fases de desenvolvimento, história e cultura, e tenham diferentes sistemas sociais, o nosso desejo comum é a busca da paz, procurar o desenvolvimento e promover a cooperação”, afirmou.

Recordando que o Fórum de Macau foi estabelecido em 2003, Liu Xianfa defendeu que nos últimos 20 anos a “cooperação pragmática” entre as duas partes tem sido amplamente promovida, e que os projectos de cooperação e investimento têm sido “implementados com sucesso”, enquanto ao nível da cooperação comercial e de investimento se têm “atingido novos patamares”. “Os intercâmbios humanos e culturais estão cada vez mais próximos, com cada vez mais estudantes a estudar português na China, mais de 60 universidades no Continente e em Macau a oferecer cursos de língua portuguesa”, prosseguiu.

Liu Xianfa disse depois que com o desenvolvimento e segurança globais a liderar o caminho, a cooperação entre a China e países lusófonos pode ter perspectivas mais amplas.

“Devemos aproveitar a iniciativa, aproveitar novas oportunidades de cooperação na era pós-epidémica, continuar a aprofundar a cooperação em áreas tradicionais como economia e comércio, infra-estruturas e intercâmbios humanistas, e expandir activamente a cooperação a novas áreas como troca de experiências em governação, alta tecnologia, serviços modernos e digitalização, de modo a alcançar mais, maiores e melhores resultados para o benefício dos nossos povos”, afirmou.

A Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, esteve também presente no evento, tendo sublinhado que a construção da Grande Baía e da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin irão trazer “um novo espaço e novas dinâmicas para o desenvolvimento de Macau a longo prazo, enriquecendo o conteúdo e as funções” de Macau enquanto Plataforma Sino-Lusófona.

Frisou ainda que no domínio do intercâmbio humanístico, o Governo da RAEM tem vindo a reforçar a interacção nos âmbitos da educação, juventude, cultura e medicina tradicional chinesa, tornando-se num novo destaque em termos de intercâmbio e cooperação.

Por outro lado, Elsie Ao Ieong U disse que o reforço do posicionamento da RAEM como “Base de Formação de Quadros Qualificados Bilingues em Chinês e Português” e “Centro de Intercâmbio de Inovação e Empreendedorismo para Jovens da China e dos Países de Língua Portuguesa”, bem como a promoção da construção da “Aliança para o Ensino da Língua Portuguesa na Grande Baía”, conduzem a RAEM a desempenhar um papel de liderança no ensino da língua portuguesa na Grande Baía e nas restantes regiões do Interior da China.

O evento, que teve lugar no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, foi organizado pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China na RAEM e pelo Governo da RAEM, com a Universidade Politécnica de Macau. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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