Paulo Espírito Santo, secretário-geral adjunto do Secretariado Permanente do Fórum Macau, lamentou a exclusão dos países africanos de língua portuguesa da lista de países cujos nacionais podem entrar na RAEM, defendendo que a decisão “não beneficia” a cooperação entre a China e os países lusófonos. Neste sentido, pediu ao Governo da RAEM que reveja a decisão. Frisou ainda que “a plataforma não pode estar fechada em si mesma, sob pena de se tornar redutora”. Por outro lado, no discurso de abertura do evento, o Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na RAEM, Liu Xianfa, garantiu que “a porta da China não se fechará, pelo contrário, ficará cada vez mais aberta”, apontando que é preciso apostar no desenvolvimento e segurança
O
secretário-geral adjunto do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação
Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau),
Paulo Espírito Santo, lamentou que os países africanos de língua portuguesa
tenham sido excluídos da lista de 41 países cujos nacionais estão autorizados a
entrar na RAEM desde o início de Setembro, e pediu ao Governo que reveja a
decisão.
Para
que Macau possa ter um papel mais “efectivo”, do ponto de vista interno é
necessário “aperfeiçoar” o seu modelo de mobilidade, “agilizando os
procedimentos para atrair investidores e empresários lusófonos”, defendeu
Espírito Santo, para depois acrescentar: “A este propósito, a não inclusão dos
países africanos de língua portuguesa na lista de países cujos cidadãos passam
a ser autorizados a entrar em Macau, apesar de todos terem a pandemia sob
controlo, não beneficia o aprofundamento da cooperação [entre a China e os
países lusófonos]”.
Paulo
Espírito Santo foi mais longe e pediu mesmo ao Governo da RAEM que reveja a
decisão tomada. “Assim, faço um apelo especial, no sentido de, do alto da sua
sabedoria e melhor critério, rever tal decisão para se ir ao encontro da mais
elementar justiça”, afirmou. “A plataforma não pode estar fechada em si mesma,
sob pena de se tornar redutora”, defendeu ainda.
A
plataforma “precisa de interagir de forma dinâmica” com outros países e
regiões, revelando-se essencial também uma “maior interacção” com o Interior da
China e não apenas Hengqin. Isto para que Macau seja “de facto, uma entidade
mais aberta, ágil e com valor acrescentado para investidores e empresários que
pretendem entrar no mercado do Interior da China através de Macau”.
Espírito
Santo falava no “Fórum dos Think Tanks entre a China e os Países de Língua
Portuguesa: Com base na plataforma de Macau, impulsiona-se uma cooperação mais
estreita entre a China e os Países Lusófonos nesta Era Nova”, onde sublinhou as
oportunidades que têm sido abertas à comunidade lusófona com a criação do Fórum
Macau, em 2003, e apontou a necessidade de se continuar a reforçar e potenciar
o papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua
portuguesa.
Neste
âmbito, disse que a RAEM pode aproveitar as vantagens no âmbito dos quadros
qualificados bilingues chinês-português, disponibilizando-os para ajudarem
empresas chinesas com serviços intermediários de advocacia, consultoria,
tradução e interpretação, apoiando o seu desenvolvimento no estrangeiro. Por
outro lado, Espírito Santo sugeriu que sejam desenvolvidos instrumentos
financeiros mais diversificados que possam atrair empresários do mundo lusófono,
e que sejam fornecidas garantias financeiras a empresas chinesas e macaenses
que se queiram estabelecer nos países de língua portuguesa e vice-versa.
Os
últimos anos foram de “desenvolvimento acelerado”, considerou Espírito Santo,
concluindo: “Estamos no bom caminho, mas podemos e devemos trilhar ainda
melhores caminhos”.
China “cada vez mais aberta”
Por
sua vez, o Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na RAEM
garantiu que “a porta da China não se fechará, pelo contrário, ficará cada vez
mais aberta”.
No
discurso que abriu o evento – contou com as intervenções de 19 oradores da
China e do mundo lusófono –, Liu Xianfa destacou ainda como primordial a aposta
no desenvolvimento e segurança, no âmbito da cooperação sino-lusófona na era
pós-pandemia.
O
Comissário lembrou que as prioridades foram já definidas pelo presidente
chinês, Xi Jinping, como iniciativas globais, argumentando que é necessário
“aprofundar a cooperação” com os países lusófonos nestas vertentes, de forma a
“aumentar a confiança mútua política”. “Embora a China e os países de língua
portuguesa se encontrem em diferentes fases de desenvolvimento, história e
cultura, e tenham diferentes sistemas sociais, o nosso desejo comum é a busca
da paz, procurar o desenvolvimento e promover a cooperação”, afirmou.
Recordando
que o Fórum de Macau foi estabelecido em 2003, Liu Xianfa defendeu que nos
últimos 20 anos a “cooperação pragmática” entre as duas partes tem sido
amplamente promovida, e que os projectos de cooperação e investimento têm sido
“implementados com sucesso”, enquanto ao nível da cooperação comercial e de
investimento se têm “atingido novos patamares”. “Os intercâmbios humanos e
culturais estão cada vez mais próximos, com cada vez mais estudantes a estudar
português na China, mais de 60 universidades no Continente e em Macau a
oferecer cursos de língua portuguesa”, prosseguiu.
Liu
Xianfa disse depois que com o desenvolvimento e segurança globais a liderar o
caminho, a cooperação entre a China e países lusófonos pode ter perspectivas
mais amplas.
“Devemos
aproveitar a iniciativa, aproveitar novas oportunidades de cooperação na era
pós-epidémica, continuar a aprofundar a cooperação em áreas tradicionais como
economia e comércio, infra-estruturas e intercâmbios humanistas, e expandir
activamente a cooperação a novas áreas como troca de experiências em
governação, alta tecnologia, serviços modernos e digitalização, de modo a
alcançar mais, maiores e melhores resultados para o benefício dos nossos
povos”, afirmou.
A
Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, esteve também
presente no evento, tendo sublinhado que a construção da Grande Baía e da Zona
de Cooperação Aprofundada em Hengqin irão trazer “um novo espaço e novas
dinâmicas para o desenvolvimento de Macau a longo prazo, enriquecendo o
conteúdo e as funções” de Macau enquanto Plataforma Sino-Lusófona.
Frisou
ainda que no domínio do intercâmbio humanístico, o Governo da RAEM tem vindo a
reforçar a interacção nos âmbitos da educação, juventude, cultura e medicina
tradicional chinesa, tornando-se num novo destaque em termos de intercâmbio e
cooperação.
Por
outro lado, Elsie Ao Ieong U disse que o reforço do posicionamento da RAEM como
“Base de Formação de Quadros Qualificados Bilingues em Chinês e Português” e
“Centro de Intercâmbio de Inovação e Empreendedorismo para Jovens da China e
dos Países de Língua Portuguesa”, bem como a promoção da construção da “Aliança
para o Ensino da Língua Portuguesa na Grande Baía”, conduzem a RAEM a
desempenhar um papel de liderança no ensino da língua portuguesa na Grande Baía
e nas restantes regiões do Interior da China.
O
evento, que teve lugar no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação
Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, foi organizado pelo
Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da
China na RAEM e pelo Governo da RAEM, com a Universidade Politécnica de Macau. Catarina
Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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