O Macau Kitchen abriu em 2019 e, este ano, foi considerado o Melhor Restaurante de “World Food” pelo jornal Edinburgh Evening News, um dos mais prestigiados na Escócia. Ao Ponto Final, Kei de Freitas, um chef moçambicano que cresceu na cidade do Porto, considera que o prémio “é um grande incentivo”
Arrecadou
recentemente o prémio Melhor Restaurante de “World Food” pelo jornal Edinburgh
Evening News, um dos mais prestigiados da Escócia. O restaurante Macau Kitchen,
propriedade do casal Kei de Freitas e Hoeyyn Ngu, em Edimburgo, está agora nas
bocas do mundo.
O
Ponto Final conversou com o chef Kei de Freitas, nascido em Moçambique e criado
na cidade do Porto, mas fora de Portugal há mais de 25 anos. O homem considera
que o prémio “é um grande incentivo”. “Ser considerado um dos melhores ė sempre
um grande incentivo para continuarmos a fazer o que sempre fizemos. Repare que
o restaurante ė simples e tomar conta do nosso cliente desde que entra até sair
é a nossa prioridade”, explicou, acrescentando que “todas as regras do
restaurante estão baseadas neste princípio”.
A
conexão com Macau e com todo o imaginário asiático vem, não só da mulher,
Hoeyyn Ngu – gerente do restaurante –, uma artista plástica consagrada e
vencedora de vários prémios internacionais, mas também precisamente da ligação
de Kei a Moçambique e toda a sua herança crioula. Ngu é chinesa nascida na
Malásia.
Com
49 anos, Kei de Freitas nasceu em Moçambique. É filho de pai português e mãe portuguesa
nascida em Moçambique de ascendência goesa e Kristang (do estado malaio de
Malaca). Depois seguiu-se Portugal, tendo crescido no Porto e vivido em Lisboa,
antes de rumar a outras paragens. Vive fora de Portugal há mais de 25 anos.
Morou em Londres antes de se fixar na capital escocesa, onde reside há oito
anos. “Sou fruto da rota portuguesa das especiarias na Ásia. Filho de uma mãe
com mistura de várias ex-colónias portuguesas. Todo o meu background
definitivamente influencia o tipo de cozinha que gosto de confeccionar”,
começou por referir, explicando de seguida que apesar de ter crescido em
contacto com a cozinha típica do norte de Portugal, o chef moçambicano cresceu,
igualmente, “com cozinhas de influência portuguesa ou cozinha luso-asiática em
casa pela parte da minha mãe e outros membros da família com várias misturas
culturais” que passam pela gastronomia goesa e malaia, para além da portuguesa,
da macaense e da moçambicana.
Para
o chef, o prémio é “de facto” um incentivo para o que virá, depois de dois anos
de muita dificuldade devido à pandemia de Covid-19. “Afectou, claramente, mas
também ajudou a melhorarmos outras coisas”, notou Kei de Freitas.
Os
clientes são variados, desde os asiáticos aos portugueses, passando até pelos
locais, mas maioritariamente chineses. “A clientela chinesa é muito forte, mas
temos também alguns portugueses e alguns escoceses. Outros clientes que vêm de
Londres e também do resto da Europa. Para os locais, o conceito é algo de muito
novo e de muito diferente dos outros restaurantes”, revelou Kei de Freitas.
O
cardápio é uma surpresa e tem um pouco de tudo, desde um pato aromático em
leite de coco, uma criação de Kei de Freitas, até à galinha portuguesa de
Macau, passando pelo Balchão de Porco ou o já tão conhecido Minchi. “Do nosso
menu fixo constam pratos macaenses e portugueses, mas temos outro menu que muda
todos os dias, e neste menu apresentamos pratos que influenciaram pratos na
cozinha macaense porque muitos dos pratos em Macau vieram de Portugal, de Goa ou
de Malaca. Estes tipos de pratos aparecem só como especiais. Apresentamos
alguns pratos cantoneses também”, disse Kei de Freitas ao nosso jornal.
E
surpresas vêm a caminho. “Estamos agora a preparar um novo projecto, que
começará em Outubro, onde conectamos a cozinha portuguesa de Malaca, ou seja, a
cozinha luso-malaia de Malaca com a cozinha luso-chinesa de Macau conhecida
como cozinha macaense. Estas cozinhas fazem ambas parte da cozinha
luso-asiática e estão interconectadas de várias formas”, revelou, dizendo ainda
que existem planos para colaborações com o Turismo de Macau no Reino Unido,
sediado em Londres, que só ainda não existiram devido à pandemia.
Recorde-se
que Macau foi designada como Cidade Criativa da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) na área da gastronomia, em
2017, reconhecendo-se que a cozinha macaense contribui para o desenvolvimento
sustentável do território, sendo considerada uma das mais antigas de fusão. Gonçalo
Pinheiro – Macau in “Ponto Final”
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