Em Lisboa:
Os 200 anos da criação do primeiro jornal de língua portuguesa em Macau serão celebrados na próxima segunda-feira no Centro Científico e Cultural de Macau com uma conferência que contará com uma série de investigadores e historiadores ligados à RAEM, como é o caso de Tereza Sena, Jorge Arrimar ou Cátia Miriam Costa, entre outros. Será ainda lançado o livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”
O
primeiro jornal em língua portuguesa de Macau foi criado há 200 anos e
chamava-se “A Abelha da China”. Para celebrar a efeméride, que marca o início
da presença da imprensa em português no território, algo que perdura até aos
dias de hoje, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) acolhe, na próxima
segunda-feira, uma palestra que conta com vários investigadores e historiadores
ligados ao território que vão apresentar as diversas perspectivas históricas e
políticas de um jornal ligado aos ideais liberais de 1820.
Ao
HM, o académico Duarte Drumond Braga, um dos coordenadores do projecto,
explicou a importância de celebrar esta data. “É o primeiro jornal de Macau e o
primeiro de uma longa linhagem que continua até hoje. Ele está ligado ao
movimento Liberal e a alguns partidários desse movimento em Macau, além de que
era um jornal com uma orientação política bastante marcada nesse sentido. Penso
que vale a pena ser celebrado.”
O
painel de oradores conta com intervenções de Tereza Sena, historiadora e
ex-residente de Macau, que apresenta o painel “Ascensão social e política de um
natural de Macau durante o Liberalismo: António dos Remédios (ca.1770.-1841) –
o primeiro passo”. Destaque ainda para a presença de Jorge Arrimar, poeta
ligado a Macau que vai falar sobre a ligação do Ouvidor Arriaga, importante
figura política do território à época e “um dos grandes inimigos” d’A Abelha da
China, recordou Duarte Drumond Braga. “Ele era a figura mais poderosa de Macau
nessa altura e partidário de um grupo rival às pessoas que estavam ligadas ao
jornal.”
O
programa inclui também a participação de Jin Guoping, do Instituto de
Macauologia da Universidade de Jinan, em Cantão, e também ligado ao Centro de
Estudos de Macau da Universidade de Macau, que abordará o tema “A Abelha da
China estudada na Macauologia”.
Duarte
Drumond Braga entende ser muito provável que o jornal fosse lido “por uma
elite” da sociedade. A Abelha da China tinha artigos de opinião mas funcionava
também como uma espécie de Boletim Oficial, que só seria criado muito depois.
“Eram publicados resumos das sessões do Leal Senado, mas era um jornal que também
tinha uma parte literária. Tinha uma posição política forte, porque o grupo
liberal [ligado ao jornal] conseguiu chegar ao poder, embora sejam expulsos
depois. O jornal também deu depois muitas informações sobre esse processo.”
O
coordenador desta iniciativa entende que faltam ainda estudos académicos sobre
o jornal. “Há um trabalho muito bom, feito pelo Daniel Pires, que é o
‘Dicionário Cronológico da Imprensa de Macau no Século XIX’, mas que não esgota
estes materiais. Não só a Abelha da China como os jornais que começam a
aparecer na altura estão ainda por estudar. Agnes Lam [docente na Universidade
de Macau], por exemplo, deu um bom contributo, mas faltam ainda alguns
estudos.”
Livro lançado
Acima
de tudo o programa destaca a criação do primeiro jornal de língua não chinesa
“no contexto da Revolução Liberal de 1820 e da primeira formulação do
constitucionalismo português”, aponta o texto de apresentação do evento.
Marcado, portanto, pelas doutrinas liberais da época, a Abelha da China “foi
uma breve mas intensa publicação periódica (1822-23) que veio dar corpo à ideia
de que não há verdadeira liberdade sem imprensa e sem a liberdade desta”.
“Plenamente
alinhada com os debates do seu tempo, o seu projecto seria tomado por outros
agentes políticos. Todavia, o seu legado de insubmissão acabaria por vingar”,
aponta a mesma apresentação, que destaca ainda o facto de o periódico defender
“uma ideia de autonomia sempre ligada à oligarquia local”.
“Nesse
sentido, o jornal mostra também as alianças e os contactos múltiplos que o
atravessam: com a China, onde sempre se enraizou, a Metrópole [Lisboa], o
Brasil e Goa”.
“Por
entre as suas páginas circulam figuras e influências de todas as proveniências,
mostrando como Macau se integrava plenamente nos movimentos políticos e
culturais do seu tempo, e onde a comunidade chinesa se encontrava ativa face a
eles. E daí os casos, as figuras e os confrontos que gravitam em seu torno, e
que os ensaios de historiadores e críticos da cultura e do jornalismo dissecam
nesta obra”, lê-se ainda.
A
sessão de segunda-feira, 12, conta ainda com a apresentação do livro “A Abelha
da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência
Liberal de Macau”, que reúne artigos da autoria dos investigadores Cátia Miriam
Costa, Jin Guoping, Jorge de Abreu Arrimar, Pablo Magalhães e Tereza Sena. A
obra “tem por foco o primeiro jornal de Macau em língua portuguesa analisado a
partir de diversas áreas das humanidades” e inaugura “a nova coleção de livros
de História com chancela do CCCM, sendo feita em parceria com a Universidade de
Macau”.
Acima
de tudo, o livro pretende mostrar “um renovado interesse na história de Macau,
na história do jornalismo na China e em língua portuguesa, e também na história
sóciopolítica e cultural do território”. Andreia Silva – Portugal in “Hoje
Macau”
Em Macau:
A
Fundação Rui Cunha e a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau
(AIPIM) vão realizar na próxima segunda-feira, pelas 18:30, uma palestra que
visa comemorar os 200 anos da publicação do primeiro número do jornal “A Abelha
da China”, que teve lugar no dia 12 de Setembro de 1822.
A
palestra decorrerá na Fundação Rui Cunha, tendo como oradores João Guedes,
jornalista e autor, e Daniel Pires, professor universitário. A moderação estará
a cargo de José Miguel Encarnação, jornalista e presidente da AIPIM.
O
lançamento do jornal “A Abelha da China” marcou “o início da imprensa escrita
em Macau, tendo posteriormente surgido largas centenas de títulos em Português,
Chinês e, mais recentemente, em Inglês”, recorda a Fundação Rui Cunha.
Os
promotores da palestra prometem “uma enriquecedora sessão sobre a história de
Macau” e o “precioso contributo” do jornal “A Abelha da China”, na “história de
todo o jornalismo em língua portuguesa na China, assim como na história
sociopolítica e cultural do território”. A sessão será integralmente realizada
em língua portuguesa sem interpretação simultânea. A entrada é livre. In “Jornal
Tribuna de Macau” - Macau
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