O tráfico de pau-rosa africano para a China, onde é usado na produção de móveis de luxo, tem vindo a crescer e representa hoje um mercado de 26 mil milhões de dólares, ameaçando a existência desta espécie
O
alerta foi publicado pelo Instituto de Estudos de Segurança (ISS na sigla em
inglês), um centro de investigação com sede em Pretória, segundo o qual o
pau-rosa, também conhecido como mukula, é a madeira ameaçada mais traficada do
mundo, alimentando a elite chinesa com móveis ao estilo da dinastia Ming e
objectos de decoração de luxo.
Redes
criminosas com ligações a governos africanos facilitam o tráfico desde países
como Madagáscar, Maláui, Tanzânia ou Zâmbia, passando por portos como o de
Mombaça, no Quénia, ou Dar es Salaam, na Tanzânia.
Segundo
o investigador Willis Okumu do gabinete do ISS para África Oriental, o pau-rosa
africano é uma madeira tropical que se encontra sobretudo em Madagáscar, Zâmbia
e República Democrática do Congo, onde é essencial para os ecossistemas e
biodiversidade, podendo contribuir para as comunidades locais quando explorado
sustentavelmente.
Recordando
que 16 países da África Ocidental já proibiram o comércio de pau-rosa, o
investigador, baseado em Nairobi, defende que os Estados da África Oriental e
Austral deveriam impor proibições semelhantes para salvar esta espécie. “Uma
abordagem regional impediria o envolvimento de funcionários governamentais
corruptos no tráfico de países de origem através de países de trânsito, como o
Quénia e a Tanzânia” e permitiria “políticas eficazes para proteger o pau-rosa
ameaçado”, escreveu, no artigo ontem publicado.
No
texto, o autor recorda que em dezembro do ano passado um tribunal em Mombaça
ordenou às autoridades quenianas que devolvessem 646 toneladas de pau-rosa, no
valor de 13 milhões de dólares aos alegados traficantes. A madeira tinha sido
apreendida naquele porto queniano quando estava em trânsito desde Madagáscar
para Hong Kong, passando por Zanzibar.
O
tribunal concordou com os alegados traficantes de que a regulação da Convenção
sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Flora e Fauna (CITES,
na sigla em inglês) que restringe o comércio de pau-rosa não estava em vigor
quando a madeira foi apreendida, em 2014.
A
decisão do tribunal queniano ignorou o facto de a lei malgaxe proibir o
comércio de pau-rosa e o facto de o transbordo da madeira em Mombaça violar a
lei de conservação da natureza do Quénia, datada de 2013.
As
redes que permitem o tráfico destas espécies ameaçadas incluem responsáveis
governamentais de alto nível, segundo relatórios de investigações realizadas
por organizações da sociedade civil, citadas pelo ISS.
Citada
pelo ISS, a Agência de Investigação Ambiental, uma organização
não-governamental (ONG) internacional de proteção do ambiente, diz que o
tráfico de pau-rosa em Madagáscar é facilitado pela proteção estatal dos
traficantes e o ativista malgaxe Armand Marozafy foi preso por difamação em
2015 por divulgar informação sobre dois empresários locais envolvidos no abate
ilegal dessa madeira.
Aquela
ONG estima que 50 contentores de pau-rosa foram exportados da Zâmbia para a
China entre junho de 2017 e maio de 2019, o que terá custado aos traficantes
7,5 milhões de dólares em subornos e taxas informais, numa rede que envolvia
pessoas altamente colocadas no Governo do então Presidente da Zâmbia Edgar
Lungu.
O
ISS defende por isso a importância de aplicar as leis já existentes que proíbem
o transporte de pau-rosa através de Mombaça, Zanzibar e Dar es Salaam para
reduzir o tráfico proveniente da Zâmbia e de Madagáscar para Hong Kong e a
China. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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