A associação PAWA pretende criar redes entre as mulheres
portuguesas na Austrália, promover os laços intergeracionais, dar vozes a temas
pouco discutidos na comunidade e combater discriminação e violência doméstica,
disse à Lusa uma das fundadoras
Com
quase quatro anos de vida e apesar do impacto da pandemia nas atividades, a
Portuguese Australian Women’s Association (PAWA) já conta com centenas de
membros espalhados por quatro estados do país, explicaram à Lusa duas das responsáveis.
“Nasceu
no Dia Internacional da Mulher, em 2018. Notámos que nunca houve aqui uma
associação mais direcionada aos interesses da mulher. Havia como um vazio nesta
questão”, explicou à Lusa Silva Renda, uma das criadoras da iniciativa.
“As
mulheres portuguesas estiveram sempre muito ligadas ao movimento associativo,
mas a trabalhar nos bastidores. Já era tempo de haver uma associação, em forma
de rede, para apoio à mulher, em termos de liderança, da sua saúde, em todos os
assuntos relacionados com a mulher”, referiu.
Sílvia
Renda é a responsável pelo capítulo da organização no estado de Victoria e
Melissa Silva lidera a organização em Nova Gales do Sul (criada em 2019), com
duas estruturas irmãs também nos estados de Western Australia e Queensland.
“Em
Nova Gales do Sul temos cerca de 220 sócios, homens e mulheres. A pandemia da
covid-19 dificultou as coisas e não podemos ter muitos eventos presenciais, mas
o que já fizemos tem tido muito sucesso”, explicou Melissa Silva.
“Trata-se
de criar uma rede de apoio. Reconhecemos que as mulheres estão muito isoladas,
não têm a sua voz. Temos uma comunidade a envelhecer, com muitas mulheres
viúvas. Viveram dependentes dos maridos e agora querem envolver-se sozinhas e
sentir-se empoderadas para o fazer”, referiu.
Com
a maior parte dos membros a ter mais de 40 anos, Melissa Silva admitiu que é
“mais difícil conseguir chamar os mais jovens”, mas notou que a rede está a ser
importante para quem nela participa.
A
sigla da organização é, ela própria, um símbolo de um dos objetivos, já que a
sua leitura traduz uma expressão de calão, em sotaque australiano, da palavra
“power” (poder).
Sílvia
Renda explicou que durante a pandemia a PAWA acabou por dar apoio a pessoas “em
dificuldades” incluindo “insegurança de alimentos e bens essenciais”, mas que
serve igualmente para “trazer alguma visibilidade a assuntos mais difíceis de
enfrentar, como violência doméstica, ou o cancro da mama”.
“São
temas que estão escondidos, sobre os quais a comunidade não falava no passado.
Realizamos um evento para recolher fundos para investigação do cancro da mama e
houve várias mulheres que nos disseram que tinham tido cancro e queriam falar
com pessoas que tinham passado pelo mesmo problema”, notou.
“Permite
formar uma rede de apoio com outras sobreviventes”, disse.
A
PAWA acaba por se destacar no atual panorama do associativismo da comunidade
portuguesa na Austrália, com as instituições mais antigas a lutarem pela
sobrevivência, fruto de uma comunidade envelhecida, de pouca capacidade de
diversificar e atrair os jovens e da mudança do tipo de imigração.
Quem
chega hoje à Austrália, notou Sílvia Renda, é diferente da geração do final do
século 20, que “procurava manter uma ligação mais próximo à comunidade, em
parte porque também não falavam bem inglês, procuravam estar mais integrados” e
encontravam, com outros portugueses, acesso a empregos ou serviços.
“O
que vejo agora é que quem chega tem altos níveis de inglês, outros que
estiveram noutros países antes de vir para a Austrália, vivem de uma forma mais
independente do que a comunidade e estão mais integrados na sociedade”,
explicou.
Melissa
Silva concorda e nota que muitos dos novos imigrantes “chegam já com trabalhos
organizados, são pessoas com estudos, com altos níveis de inglês e que não
precisam” da comunidade portuguesa.
A
pandemia fez agravar ainda mais a situação, somando-se a competição entre
inúmeros clubes portugueses – em Nova Gales do Sul há cinco – a ‘fuga’ dos mais
jovens e pouca evolução no formato de eventos ou atividades, notou Melissa
Silva.
Perante
as dificuldades e mostrando-se otimistas, defendem que para mudar as coisas “há
que mudar a forma de fazer as coisas” e “reconhecer que a comunidade portuguesa
já não é o que era”.
“Faz-se
as mesmas coisas que se faziam há 30 ou 40 anos, a mesma forma de interagir com
a comunidade e isso já não funciona. É impossível continuarmos da mesma”, disse
Renda.
Promover
atividades para atrair famílias e os mais jovens, abrir as associações a outras
comunidades lusófonas e à comunidade australiana em geral, são opções que podem
ajudar, recomendaram. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo com “Lusa”
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