Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 17 de setembro de 2022

Macau - Centenário de Saramago celebrado com exposição, conversas e filmes

Celebram-se em Novembro os 100 anos do nascimento de José Saramago. A vida e obra do escritor, que recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1998, vão ser comemoradas em Macau a partir do final deste mês. A programação arranca com a inauguração da exposição biobibliográfica “Voltar aos passos que foram dados 1922-2022”, seguida de uma mesa-redonda com a participação do professor Carlos Reis, comissário para o Centenário de José Saramago. Depois disso, e até 16 de Novembro, haverá conversas sobre o escritor e projecção de filmes e documentários, numa iniciativa que envolve o IPOR, a EPM e a USJ. Ao Jornal Tribuna de Macau, Sara Augusto, que está envolvida na organização, disse que é interessante assinalar a data em Macau “pelo apontamento da ‘excelência’ que pode alcançar a literatura portuguesa e a literatura escrita em português”


Assinalam-se a 16 de Novembro os 100 anos do nascimento de José Saramago, mas a comemoração desta data começa mais cedo em Macau, numa colaboração entre várias instituições locais e com o apoio da Fundação Saramago. O comissário para o Centenário de José Saramago, Carlos Reis, que vai ser orador numa mesa-redonda, em formato online, refere, numa mensagem publicada no website da Fundação, que “a efeméride constituirá uma oportunidade privilegiada para a consolidação da presença do escritor na história cultural e literária, em Portugal e no estrangeiro”, permitindo também prestar uma homenagem à figura do escritor “como cidadão”.

Sara Augusto, docente no Instituto Português do Oriente (IPOR) e que faz parte da organização da iniciativa, disse ao Jornal Tribuna de Macau que são “muitos” os motivos que contribuem para a importância de assinalar esta data. “Em primeiro lugar pela relevância da sua obra literária: os diferentes géneros literários que cultivou, da poesia à narrativa, do conto ao romance, chegando também à literatura para [e pela] renovação literária que levou a cabo, criando um estilo muito próprio que rompe com regras estabelecidas e que deixou marcas na obra de escritores que vieram depois. Vejam-se todos os vencedores do Prémio Literário José Saramago, atribuído desde 1999”, sublinhou.

Apontando que a leitura das obras de Saramago faz parte dos programas escolares e que o escritor “já foi absorvido pela memória colectiva, sendo reconhecido como um dos maiores escritores de Língua Portuguesa do século XX e início do século XXI”, Sara Augusto destacou também a importância, em particular, da iniciativa em Macau. “Em Macau estuda-se e lê-se e também se vê cinema. Estuda-se Saramago nas instituições de ensino e é interessante marcar a data pelo apontamento da ‘excelência’ que pode alcançar a literatura portuguesa e a literatura escrita em português. Além disso, Saramago, ao longo dos seus romances, revelou um cada vez mais apurado conhecimento da vivência e da sociedade humana, capaz de apontar contradições, situações de justiça e de opressão, e de expressar da forma mais impressiva emoções e estados de espírito”.

A programação arranca com a inauguração da exposição biobibliográfica “Voltar aos passos que foram dados 1922-2022”, no dia 29 de Setembro, às 18h30, nas instalações do IPOR, seguida da mesa redonda com a participação, à distância, do professor Carlos Reis. Em destaque estarão a Vida e Obra de Saramago, sendo que a sessão, que vai decorrer no Auditório Stanley Ho, é aberta à participação do público.

Segundo Sara Augusto, a mostra é composta por um conjunto de 15 painéis e conta com selecção e composição de textos de Carlos Reis e Fernanda Costa, e design de André Letria. “Com a exposição ‘Voltar aos passos que foram dados’ […] construímos uma mostra que faz uma ‘viagem’ pela biografia literária de José Saramago. Deduz-se daí uma ‘narrativa’ que nos leva a encontrar ou a reencontrar, em formato expositivo, as obras e o legado cultural e cívico de um grande escritor”, pode ler-se.

Documentários e conversas

Para os dias 30 de Setembro e 7 e 14 de Outubro está agendada a projecção de três filmes: “José e Pilar”, “Embargo” e “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, respectivamente. As sessões começam às 19h00 e a entrada é livre.

Com abertura marcada para dia 17 de Outubro, a exposição biobibliográfica passará para a Sala Kent Wong, na Universidade de São José (USJ). No mesmo dia e na mesma sala, serão exibidos três documentários da série Herdeiros de Saramago. Segundo a organização, os restantes serão projectados nos dias 18 a 21, com as sessões a começar às 19h00.

Já no dia 26 haverá uma mesa-redonda subordinada ao tema “Herdeiros de Saramago”. Sara Augusto disse a este jornal que esta sessão contará com a presença online de alguns dos escritores que venceram o Prémio José Saramago, no entanto, há ainda informações que não estão confirmadas, pelo que serão disponibilizadas na próxima semana.

E entre os dias 3 e 16 de Novembro, a exposição passará a estar presente na Escola Portuguesa de Macau (EPM). “Durante este período, a Escola tem programadas actividades complementares para os seus alunos, como oficinas de leitura e exibição de filmes, com programa a divulgar posteriormente”, indicou o IPOR.

No último dia, “e porque é no dia 16 de Novembro que se celebra o centenário do nascimento de José Saramago”, a EPM assinala a ocasião com a atribuição do seu prémio literário, o Prémio José Saramago.

A organização cabe ao Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, sendo que a iniciativa é desenvolvida pelo IPOR em colaboração com a USJ e a EPM, com o apoio da Fundação Saramago e do Instituto Camões.

A obra saramaguiana no mundo

Na mensagem que escreve no website sobre o Centenário do nascimento de Saramago, Carlos Reis refere ainda que a atribuição do Prémio Nobel da Literatura confirmou uma consagração internacional que fez de José Saramago uma personalidade com grande significado, para além das fronteiras de Portugal.

“Assim, Saramago define-se hoje como um ‘escritor do mundo’, com presença expressiva em manifestações artísticas, educativas, políticas e sociais com vasta disseminação e efeitos variados. Incluem-se nesses efeitos os que decorrem da presença da obra saramaguiana no nosso sistema de ensino e na difusão da língua e da cultura portuguesas no mundo”, pode ler-se.

Autor de mais de 40 títulos, Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga. Em 1947 publicou o seu primeiro livro, que intitulou “A Viúva”, mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título “Terra do Pecado”. Em 1995 publicou o romance “Ensaio sobre a Cegueira” e em 1997 “Todos os Nomes” e “O Conto da Ilha Desconhecida”. Nesse mesmo ano, foi-lhe atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o Prémio Nobel de Literatura.

As suas obras estão publicadas em mais de 60 países e regiões, incluindo na China Continental, Macau e Taiwan, e traduzidas em quase 50 línguas. Recorde-se que José Saramago morreu a 18 de Junho de 2010, em Espanha, país no qual se auto-exilou. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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