Celebram-se em Novembro os 100 anos do nascimento de José Saramago. A vida e obra do escritor, que recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1998, vão ser comemoradas em Macau a partir do final deste mês. A programação arranca com a inauguração da exposição biobibliográfica “Voltar aos passos que foram dados 1922-2022”, seguida de uma mesa-redonda com a participação do professor Carlos Reis, comissário para o Centenário de José Saramago. Depois disso, e até 16 de Novembro, haverá conversas sobre o escritor e projecção de filmes e documentários, numa iniciativa que envolve o IPOR, a EPM e a USJ. Ao Jornal Tribuna de Macau, Sara Augusto, que está envolvida na organização, disse que é interessante assinalar a data em Macau “pelo apontamento da ‘excelência’ que pode alcançar a literatura portuguesa e a literatura escrita em português”
Assinalam-se
a 16 de Novembro os 100 anos do nascimento de José Saramago, mas a comemoração
desta data começa mais cedo em Macau, numa colaboração entre várias
instituições locais e com o apoio da Fundação Saramago. O comissário para o
Centenário de José Saramago, Carlos Reis, que vai ser orador numa mesa-redonda,
em formato online, refere, numa mensagem publicada no website da
Fundação, que “a efeméride constituirá uma oportunidade privilegiada para a
consolidação da presença do escritor na história cultural e literária, em
Portugal e no estrangeiro”, permitindo também prestar uma homenagem à figura do
escritor “como cidadão”.
Sara
Augusto, docente no Instituto Português do Oriente (IPOR) e que faz parte da
organização da iniciativa, disse ao Jornal Tribuna de Macau que são “muitos” os
motivos que contribuem para a importância de assinalar esta data. “Em primeiro
lugar pela relevância da sua obra literária: os diferentes géneros literários
que cultivou, da poesia à narrativa, do conto ao romance, chegando também à
literatura para [e pela] renovação literária que levou a cabo, criando um
estilo muito próprio que rompe com regras estabelecidas e que deixou marcas na
obra de escritores que vieram depois. Vejam-se todos os vencedores do Prémio
Literário José Saramago, atribuído desde 1999”, sublinhou.
Apontando
que a leitura das obras de Saramago faz parte dos programas escolares e que o
escritor “já foi absorvido pela memória colectiva, sendo reconhecido como um
dos maiores escritores de Língua Portuguesa do século XX e início do século
XXI”, Sara Augusto destacou também a importância, em particular, da iniciativa
em Macau. “Em Macau estuda-se e lê-se e também se vê cinema. Estuda-se Saramago
nas instituições de ensino e é interessante marcar a data pelo apontamento da
‘excelência’ que pode alcançar a literatura portuguesa e a literatura escrita
em português. Além disso, Saramago, ao longo dos seus romances, revelou um cada
vez mais apurado conhecimento da vivência e da sociedade humana, capaz de
apontar contradições, situações de justiça e de opressão, e de expressar da
forma mais impressiva emoções e estados de espírito”.
A
programação arranca com a inauguração da exposição biobibliográfica “Voltar aos
passos que foram dados 1922-2022”, no dia 29 de Setembro, às 18h30, nas
instalações do IPOR, seguida da mesa redonda com a participação, à distância,
do professor Carlos Reis. Em destaque estarão a Vida e Obra de Saramago, sendo
que a sessão, que vai decorrer no Auditório Stanley Ho, é aberta à participação
do público.
Segundo
Sara Augusto, a mostra é composta por um conjunto de 15 painéis e conta com
selecção e composição de textos de Carlos Reis e Fernanda Costa, e design de
André Letria. “Com a exposição ‘Voltar aos passos que foram dados’ […]
construímos uma mostra que faz uma ‘viagem’ pela biografia literária de José
Saramago. Deduz-se daí uma ‘narrativa’ que nos leva a encontrar ou a
reencontrar, em formato expositivo, as obras e o legado cultural e cívico de um
grande escritor”, pode ler-se.
Documentários e conversas
Para
os dias 30 de Setembro e 7 e 14 de Outubro está agendada a projecção de três
filmes: “José e Pilar”, “Embargo” e “O Ano da Morte de Ricardo Reis”,
respectivamente. As sessões começam às 19h00 e a entrada é livre.
Com
abertura marcada para dia 17 de Outubro, a exposição biobibliográfica passará
para a Sala Kent Wong, na Universidade de São José (USJ). No mesmo dia e na
mesma sala, serão exibidos três documentários da série Herdeiros de Saramago.
Segundo a organização, os restantes serão projectados nos dias 18 a 21, com as
sessões a começar às 19h00.
Já
no dia 26 haverá uma mesa-redonda subordinada ao tema “Herdeiros de Saramago”.
Sara Augusto disse a este jornal que esta sessão contará com a presença online
de alguns dos escritores que venceram o Prémio José Saramago, no entanto, há
ainda informações que não estão confirmadas, pelo que serão disponibilizadas na
próxima semana.
E
entre os dias 3 e 16 de Novembro, a exposição passará a estar presente na
Escola Portuguesa de Macau (EPM). “Durante este período, a Escola tem
programadas actividades complementares para os seus alunos, como oficinas de
leitura e exibição de filmes, com programa a divulgar posteriormente”, indicou
o IPOR.
No
último dia, “e porque é no dia 16 de Novembro que se celebra o centenário do
nascimento de José Saramago”, a EPM assinala a ocasião com a atribuição do seu
prémio literário, o Prémio José Saramago.
A
organização cabe ao Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, sendo que
a iniciativa é desenvolvida pelo IPOR em colaboração com a USJ e a EPM, com o
apoio da Fundação Saramago e do Instituto Camões.
A obra saramaguiana no mundo
Na
mensagem que escreve no website sobre o Centenário do nascimento de Saramago,
Carlos Reis refere ainda que a atribuição do Prémio Nobel da Literatura
confirmou uma consagração internacional que fez de José Saramago uma
personalidade com grande significado, para além das fronteiras de Portugal.
“Assim,
Saramago define-se hoje como um ‘escritor do mundo’, com presença expressiva em
manifestações artísticas, educativas, políticas e sociais com vasta
disseminação e efeitos variados. Incluem-se nesses efeitos os que decorrem da
presença da obra saramaguiana no nosso sistema de ensino e na difusão da língua
e da cultura portuguesas no mundo”, pode ler-se.
Autor
de mais de 40 títulos, Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga. Em 1947
publicou o seu primeiro livro, que intitulou “A Viúva”, mas que, por razões
editoriais, viria a sair com o título “Terra do Pecado”. Em 1995 publicou o
romance “Ensaio sobre a Cegueira” e em 1997 “Todos os Nomes” e “O Conto da Ilha
Desconhecida”. Nesse mesmo ano, foi-lhe atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o
Prémio Nobel de Literatura.
As
suas obras estão publicadas em mais de 60 países e regiões, incluindo na China
Continental, Macau e Taiwan, e traduzidas em quase 50 línguas. Recorde-se que
José Saramago morreu a 18 de Junho de 2010, em Espanha, país no qual se
auto-exilou. Catarina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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