Desde Ayutthaya até ao centro histórico de Phuket, passando pela capital Banguecoque. O património arquitectónico edificado de origem portuguesa carece de alguma atenção, defendeu a arquitecta Maria José Freitas ao Ponto Final. Um webinar recentemente realizado pretendeu ser mote para uma discussão mais aprofundada sobre a presença ocidental no antigo reino do Sião
Em
jeito de preparação para a próxima assembleia geral anual internacional do
Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS, na sigla inglesa), o
Comité Científico Internacional sobre Património Construído Partilhado (ISCSBH,
na sigla inglesa) realizou um webinar no passado dia 3 de Setembro onde se
discutiu a presença de arquitectura e património partilhado, de índole
ocidental, na Tailândia, antigo reino do Sião.
“O
objectivo foi o de analisar criticamente as arquitecturas europeias na
Tailândia. Acompanhando a presença portuguesa e holandesa, e não só, este tipo
de arquitectura atingiu um estágio de consolidação, particularmente no período
da segunda metade do século XIX até à Segunda Guerra Mundial, momento histórico
significativo de transformação para aquela região, antigamente denominada por
Sião”, referiu ao Ponto Final a arquitecta Maria José Freitas, presidente do
ISCSBH.
Há
vestígios de arquitectura ocidental em diversas partes da Tailândia. A antiga
capital Ayutthaya é um desses exemplos. Por ali encontram-se os Campos
Portugueses, muito provavelmente resquícios da maior comunidade ocidental na
cidade. Ainda hoje se pode ver aquilo que são as ruínas das igrejas de São
Pedro e de São Paulo, onde jazem ossadas de antepassados portugueses. “Muito
deste património está pouco preservado e carece de maior atenção”, constatou
Maria José Freitas
Também
o centro histórico de Phuket ou alguns edifícios na actual capital Banguecoque
são “declaradamente reflexo da presença portuguesa no Sião”. “Muitos edifícios
construídos neste período moderno estão actualmente em uso. Por exemplo, o
edifício da Embaixada de Portugal é grande exemplo disso. Torna-se, por isso,
premente olhar para todos estes exemplos, procurando soluções que passem pela
sua preservação, porque são exemplos únicos. É importante ter em conta como o
processo de patrimonialização – parcialmente em construção – está em constante
desenvolvimento”, referiu a arquitecta portuguesa ao nosso jornal.
No
webinar, para além da intervenção de Maria José Freitas que falou de Portugal e
da Tailândia, bem como dos 500 anos de história partilhada e património
edificado como memória presente, houve ainda lugar para a discussão da génese e
razões para uma presença europeia na Tailândia, por Luc Citrinot, bem como uma
visão sobre a presença europeia na Tailândia, por Peeraya Boonprasong. As
presenças alemã e italiana também não ficaram esquecidas com discussões
promovidas, respectivamente, por Siegfried Enders e Romeo Carabelli. “Uma
espécie de ‘outra Europa’, modernidade e tecnologia do poder não colonial. Uma
experiência insubstituível de cooperação para o desenvolvimento”, defenderam.
Recorde-se
que, historicamente, Portugal e Tailândia têm uma história que se toca por
diversas vezes ao longo de 500 anos. Os portugueses foram os primeiros europeus
a chegar àquele país do sudeste asiático. A relação entre os dois territórios
remonta ao ano de 1511, quando Afonso de Albuquerque conquistou Malaca,
território que prestava vassalagem ao reino do Sião. Para apaziguar os ânimos,
o vice-rei da Índia enviou o emissário Duarte Fernandes à capital do reino,
Ayutthaya, onde foi muito bem recebido. Depois, os portugueses “instalaram-se”
por lá, dando inclusive origem a uma comunidade luso-siamesa que ainda hoje tem
descendência na Tailândia, tal e qual Malaca. Em 2018, celebraram-se os 500
anos do Primeiro Tratado de Amizade e Comércio celebrado entre os dois países. Gonçalo
Pinheiro – Macau in “Ponto Final”
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