Estudo da FMUP alerta para carências em micronutriente essencial. Consumo de leite e de sal iodado e mais informação podem ser resposta para falhas na suplementação
As
grávidas portuguesas apresentam carência ligeira a moderada de iodo, o que pode
comprometer o desenvolvimento neurológico e cognitivo das crianças. A conclusão
é de uma investigação realizada na Faculdade de Medicina da Universidade do
Porto (FMUP), no âmbito do projeto IoMum, com o objetivo de determinar os
níveis de iodo durante a gravidez.
Ao
todo, participaram neste estudo 481 grávidas, com uma média de idades de 32
anos, residentes na região do Grande Porto, durante um ano. Os níveis de iodo
foram calculados a partir de análises realizadas à urina das participantes.
Os
resultados indicam que a mediana de iodo era de apenas 104 μg/l, bastante
abaixo dos 150 μg/L, o valor mínimo adequado durante a gravidez. Em 19% das
grávidas, esses níveis ficavam mesmo abaixo dos 50 μg/l.
Publicado
no Journal of Endocrinological Investigation, este estudo revela que 43%
das grávidas não estavam a tomar um suplemento de iodo, o que aumenta o risco
de carência. Além disso, entre as mulheres que tomavam este suplemento, quase
metade começou após a sexta semana de gestação, contrariamente ao que é
recomendado.
Desde
2013, a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomendou a suplementação com iodo na
preconceção (três meses antes de a mulher engravidar), durante a gravidez e a
amamentação, sendo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha uma
ingestão diária de 250 μg.
A
falta de suplementação constitui, por si só, um fator de risco para desenvolver
carência neste micronutriente. Neste trabalho, a mediana de iodo era de apenas
74 μg/l nas mulheres que não tomavam suplemento. Já as grávidas que faziam
suplementação de iodo apresentavam valores medianos de 146 μg/l.
“A
falta de adesão das grávidas à suplementação está claramente relacionada com a
insuficiência de iodo. Não tomar um suplemento associa-se a um risco seis vezes
maior de ter os níveis de iodo abaixo do que é adequado”, explicam Elisa
Keating, investigadora da FMUP/CINTESIS e coordenadora do IoMum, e Cláudia
Matta Coelho, doutoranda da FMUP e primeira autora do estudo.
Grávidas ignoram importância da ingestão de iodo
Estudos
prévios deste mesmo grupo indicam que cerca de metade das mulheres grávidas não
reconhecem a importância da ingestão de iodo para um normal desenvolvimento
neurocognitivo dos seus bebés dentro do útero e, entre as mulheres que sabem
que o iodo é essencial durante a gravidez, 32% não conseguem indicar qualquer
alimento rico neste nutriente.
Não
basta saber que o iodo é importante na gravidez. Mesmo as grávidas que
reconhecem essa importância têm quantidades de iodo abaixo do aconselhado.
“Saber que o iodo é importante durante a gravidez pode não ser suficiente. É
urgente promover ações para assegurar que as mulheres portuguesas em idade
fértil começam a sua gravidez com níveis apropriados de iodo”, advertem as
investigadoras
Para
a equipado IoMum, as conclusões destes estudos devem sustentar a implementação
de medidas de Saúde Pública que incluam a promoção do consumo de leite, que
também se associa a um aumento dos níveis de iodo, e o uso de sal iodado na
alimentação durante a gravidez, sendo que todas estas medidas devem ser
acompanhadas de monitorização ativa do estado de iodo nesta população
vulnerável.
“Portugal
continua sem programa de iodização do sal, embora mais de 100 países já tenham
legislação nesta área. As preocupações sobre o sal relacionadas com as doenças
cardiovasculares devem ser contrabalançadas com ações que levem a indústria a
ajustar as concentrações de iodo no sal, bem como pela implementação de medidas
de monitorização do estado de iodo na população. O laboratório associado RISE,
recentemente criado, poderá dar resposta a esta necessidade de monitorização”,
indicam Elisa Keating e Cláudia Matta Coelho.
A
Itália aparece como um exemplo a seguir. Para compensar a necessidade de
reduzir o sal na alimentação, este país aumentou o teor de iodo no sal (30 mg
por quilo de sal).
O
projeto IoMum conta com a participação de dezenas de investigadores de várias
Instituições de Ensino Superior de Portugal e de outros países, assim como do
Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto. Cláudia Azevedo /
CINTESIS e Olga Magalhães / FMUP Universidade do Porto – Portugal
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