A cidade de Viana do Castelo, na região do Minho, em Portugal, foi palco, entre os dias 14 e 16 de dezembro, de mais uma edição dos encontros do Programa Nacional de Apoio ao Investidor da Diáspora. A edição de 2023 foi organizada pelo município de Viana do Castelo em parceria com a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho e com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.
O
evento, que juntou cerca de 600 participantes no Centro Cultural de Viana do
Castelo, foi uma “vitrine privilegiada para o networking com vista a
estabelecer parcerias e lançar as bases de futuros negócios, com toda a rede de
organismos públicos envolvidos no processo de criação de empresas a marcar
presença no recinto, do IAPMEI à AICEP, passando pelo Instituto dos Registos e
Notariado”. 15% dos participantes vieram do estrangeiro de 34 países
diferentes, em especial da França e Brasil. Foram uns ENCONTROS essencialmente
empresariais sendo que mais de 60% dos participantes eram empresas,
empreendedores e investidores. Houve 104 intervenientes ativos, 67 oradores, 37
pitch e 56 expositores.
Um
evento que contou com a presença de vários nomes da comunidade luso-brasileira,
como Flávio Martins, presidente do Conselho Permanente do Conselho das
Comunidades Portuguesas (CP-CCP), Ângelo Horto, antigo conselheiro eleito pelo
Rio de Janeiro, António Fiúza, presidente da Câmara Portuguesa de Comércio e
Indústria do Rio de Janeiro, além de Bruno Gutman, advogado luso-brasileiro e
diretor Norte do escritório europeu da Fundação Centro de Estudos do Comércio
Exterior (Funcex Europa).
No
âmbito desta iniciativa, coordenada pelo Secretário de Estado das Comunidades
Portuguesas e pela Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, a nossa
reportagem conversou com Bruno Gutman para entender o papel da Funcex Europa na
aproximação entre o mercado empresarial brasileiro e o cenário lusófono.
O que a Funcex tem realizado nos últimos tempos, tendo em
vista que a entidade está em solo português há pouco mais de um ano?
A
Funcex foi a primeira fundação brasileira a internacionalizar-se e a ter a
autorização do Ministério Público brasileiro para sair do Brasil, até porque é
uma fundação que trata do comércio exterior, então, nada mais óbvio e justo do
que ela mesmo se internacionalizar para ajudar ainda mais o Brasil, as suas
empresas e o Governo a se promoverem no exterior. E, com isso, surgiu Portugal,
por motivos muito claros, como termos a mesma língua, a proximidade cultural e
por ser a porta de entrada para a Europa e também para a Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP), que é muito importante hoje para o Brasil. O
Brasil está vendo com muito bons olhos esse grupo, que era um grupo histórico,
cultural e agora passa a ser também um grupo econômico. Então, a fundação
estabeleceu-se aqui em Portugal com os seus escritórios em Lisboa, Cascais e
Braga. Estamos atuando não só em solo português, mas já com atuação em outros
países da União Europeia e na CPLP. Assumimos a vice-presidência da
Confederação Empresarial da CPLP, que é o ambiente da CPLP onde os empresários
e as empresas privadas estão presentes para fazer negócios. A Funcex, enquanto
promotora do comércio exterior brasileiro, está inserida nesse âmbito para a
ajudar cada vez mais as empresas brasileiras e até as europeias, mesmo as
portuguesas e esse interesse intercambio empresarial. Queremos fomentar cada
vez mais o comércio exterior da própria CPLP. Brasil e Portugal precisam
intensificar o comércio exterior, e existem condições para isso. E é através desse
potencial que nós devemos integrar os mercados da CPLP. A Fundação tem essa
intenção de colaborar e ajudar para que o comércio dentro da própria CPLP seja
cada vez maior, fortalecendo esse bloco econômico.
Recentemente, foi assinado no Rio de Janeiro um acordo da
CPLP com o Mercosul, naquilo que algumas linhas estão defendendo que poderia
ser uma alternativa ao Acordo União Europeia-Mercosul. Como a Funcex pode
auxiliar nesse acordo e qual é o papel do Brasil nessa questão?
O
Brasil tem um papel muito importante, primeiro, porque é o maior país dos nove
integrantes da CPLP, tanto em termos econômicos como em termos populacionais, o
que é muito forte para o bloco. A língua portuguesa hoje é falada
aproximadamente por quase 300 milhões de pessoas, 200 milhões são do Brasil,
então, só isso demonstra a dimensão brutal, então, o peso do Brasil é grande no
cenário global como potência econômica, está de volta ao G20, está na
presidência rotatória do Mercosul. O Brasil é um catalisador de estudo e, junto
com Portugal, que é o pai da lusofonia, podem dar as mãos e atuarem juntos. E o
acordo não chega a ser um substituto do Acordo União Europeia com o Mercosul,
até porque em relação à União Europeia, a França tem colocado entraves nesse
acordo. Atualmente, a Espanha está na presidência da União Europeia. A próxima
presidência será da Bélgica e isso pode dificultar um pouco esse acordo que
seria de extrema importância tanto para o Mercosul como para a União Europeia.
Portanto, enquanto não há um acordo entre esses dois importantes blocos, existe
esse acordo com a CPLP. E é muito óbvio, porque se nós pensarmos em português e
espanhol, já existe a Comunidade Ibero-americana, que é a Península Ibérica,
Portugal e Espanha, com os países da América Latina, algo que já existe. E se
juntarmos todo esse cenário à CPLP, teremos mais força.
Para a Funcex, que é uma entidade sólida no Brasil e que
tem o seu nome reconhecido na área de comércio exterior e na produção do banco
de dados de comércio exterior, utilizado pelo Governo brasileiro, como está
sendo essa experiência, nesse braço de internacionalização da Funcex e o que
projetam para o futuro?
No
Brasil, a Fundação já existe há 47 anos. Em Portugal, estamos caminhando para o
segundo ano e, apesar de estarmos teoricamente pouco tempo em Portugal, já
desenvolvemos muitas atividades no âmbito Brasil-Portugal e Brasil-CPLP e
Portugal-CPLP, inclusive, já avançamos até para eventos em Espanha, o que é
muito importante. Apesar de termos escritórios em Portugal, estamos neste
continente para trabalhar a Europa numa atuação mais dinâmica. Também estamos
viabilizando a entrada de negócios e projetos em França e teremos a Itália já
num futuro próximo.
Como está sendo a movimentação da Fundação na Espanha?
Recentemente,
colaboramos com a Abert – Associação Brasileira de Rádio e Televisão, na
realização de um evento muito similar ao que nós fizemos aqui em Portugal no
início deste ano. Reunimos todas as emissoras de rádio e televisão de Portugal
e do Brasil para fazer esse intercâmbio na área da comunicação, porque quando a
gente fala do comércio exterior, a gente tem que pensar em todos os setores,
então, a comunicação é um setor importante. Além disso, recentemente
participamos no Web Summit em Portugal e a Funcex ficou responsável por
recepcionar parte da missão empresarial brasileira que veio com a Apex.
Promovemos o matchmaking, quer dizer, a reunião, o encontro de startups
brasileiras que vieram em busca de reuniões com empresas portuguesas tanto para
serem as suas clientes ou parceiros e nós fizemos um evento em que colocamos
essas startups brasileiras com empresas e representantes dos diversos setores
da economia de Portugal, então, estiveram presentes, por exemplo, a Secretaria
de Educação, porque havia empresas que queriam falar com escolas, a Secretaria
de Saúde também para falar com os hospitais e diversas outras empresas e
entidades, promovendo um intercâmbio em que as startups brasileiras puderam, de
facto, conhecer a dinâmica do mercado português e europeu e conhecerem quem são
os agentes deste mercado.
Estamos no Encontros PNAID, um evento voltado para as
comunidades portuguesas, que recebe, sobretudo, um público empresarial. Como a
Funcex Europa está associada a este evento?
Acho
muito importante, até porque há uma diáspora portuguesa no Brasil que é a maior
do mundo, provavelmente temos mais cidadãos portugueses no Brasil do que qualquer outra parte do mundo e
é importante a Funcex ter um papel relevante nesse sentido de ajudar, mas
também de colaborar com empresários, investidores brasileiros que queiram vir
para Europa ou que queiram ir para os países de língua portuguesa. Por isso,
estamos jutos ao PNAID para que possamos atrair esses lusodescendentes no
Brasil para que venham investir em Portugal e, a partir daqui, para todo o
resto da Europa. Ígor Lopes – Brasil in “Mundo
Lusíada”
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